Política
Como a Abin foi usada para beneficiar os filhos de Bolsonaro, segundo a PF
As investigações apontam que agentes da Abin utilizaram a ferramenta israelense First Mile para o benefício da família do ex-presidente


O relatório da Polícia Federal sobre o esquema ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob Jair Bolsonaro (PL) relata como a estrutura do órgão foi utilizada para beneficiar os filhos do ex-presidente. O documento foi enviado ao Supremo Tribunal Federal e embasou a quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada nesta quinta-feira.
As investigações apontam que agentes da Abin utilizaram a ferramenta israelense First Mile para o benefício do vereador Carlos Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro e do pré-candidato a vereador em Balneário Camboriú (SC) Jair Renan Bolsonaro, todos do PL.
O esquema ilegal teve como alvos jornalistas, advogados, parlamentares e ministros do STF. Funcionários, servidores e policiais lotados na Agência teriam organizado o esquema com o objetivo de obter vantagens políticas, por meio da invasão de celulares e computadores e da produção de dossiês contra adversários.
No caso de Carlos, o relatório da PF destacou que a rede paralela começou a atuar em seu favor depois que o senador Alessandro Vieira (MDB) propôs convocá-lo a prestar depoimento na CPI da Covid, aberta para investigar a condução da resposta à pandemia de Covid-19 pelo governo Bolsonaro.
Os investigadores pontuaram que, em mensagens interceptadas ao longo da investigação, a estrutura paralela mandava marcar o vereador em postagens nas redes sociais com fake news que miravam adversários políticos, entre elas as que miravam o emedebista.
Sobre Flávio, a PF também identificou um áudio em que o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL), e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, foram registrados falando sobre a investigação envolvendo o senador no caso da suposta “rachadinha”.
Eles discutiam, segundo o relatório, discutindo supostas irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que deu origem ao inquérito contra o filho do ex-presidente. O documento indica que o áudio tem 1h e 8 minutos de duração e foi produzido em agosto de 2020.
Na gravação, de acordo com o relato da PF, Ramagem afirmou ser “necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores da Receita “com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
Além disso, os integrantes da Abin teriam sugerido levantar “podres e relações políticas” dos servidores do Fisco. O caso envolve um suposto esquema de rachadinhas quando Flávio exercia mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O relatório da PF mostra também que a estrutura da Agência foi utilizada para produzir provas a favor de Jair Renan. Ele era alvo de um inquérito pela suspeita de tráfico de influência, investigação posteriormente arquivada.
As ações “teriam sido determinadas pelo 01 conforme interlocução dos investigados”, segundo o documento. O relatório, porém, não identifica especificamente quem seria o mandante. A mensagem foi enviada por um integrante da Abin após ele pedir o monitoramento de “carros em nome do filho Renan”.
“Os agentes também realizaram pesquisas envolvendo o inquérito policial instaurado contra Renan Bolsonaro, possivelmente a pedido do então do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, escreveu a Procuradoria-Geral da República em relação ao diálogo interceptado pela PF.
Além de atuar para beneficiar Jair Renan, a PF já havia identificado uma ação da Abin para atrapalhar as investigações envolvendo o filho do ex-presidente. Com o avanço das investigações, a polícia conseguiu encontrar elementos que indicam para a tentativa de livrar o pré-candidato a vereador e incriminar seu sócio, o personal trainer Allan Lucena.
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