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Israel prossegue com ofensiva contra o Hamas e pede aos moradores que abandonem a Cidade de Gaza
Panfletos orientam a saída de todas as pessoas da cidade rumo ao sul da Faixa


Israel pediu nesta quarta-feira 10 a todos os moradores que abandonem a Cidade de Gaza, onde as tropas do país mantêm uma grande ofensiva contra o movimento islamista palestino Hamas após mais de nove meses de uma guerra que devastou o território.
As negociações para um cessar-fogo e a libertação dos reféns devem ser retomadas nesta quarta-feira no Catar, com a participação do diretor da CIA e do chefe dos serviços de inteligência de Israel, segundo uma fonte que acompanha as conversações.
Nos últimos dias, o Exército israelense retomou as operações no norte da Faixa de Gaza, depois de afirmar em janeiro que havia desmantelado o comando do Hamas nesta área do território.
“Os soldados efetuaram uma operação contra terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que utilizavam a sede da UNRWA (Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina) na Cidade de Gaza como base para executar ataques”, afirmou o Exército.
Os soldados “eliminaram terroristas durante os combates e localizaram grandes quantidades de armas”, acrescenta a nota. A diretora de Comunicação da UNRWA, Juliette Touma, afirmou que é difícil saber se havia pessoas refugiadas nas instalações.
O Exército israelense iniciou em 27 de junho uma operação terrestre no bairro de Shujaiyia, leste da cidade, antes de ampliar a ofensiva para o centro da localidade, onde “dezenas de milhares de pessoas” receberam instruções para abandonar a região, segundo a ONU.
Em panfletos lançados nesta quarta-feira, o Exército pediu a “todas as pessoas presentes na Cidade de Gaza” que sigam para o sul da Faixa utilizando “corredores de segurança”.
Deslocados pela 12ª vez
Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, alertou que não há mais local seguro no território palestino, governado pelo Hamas desde 2007 e onde 80% dos 2,4 milhões de habitantes foram deslocados.
Um Nimr Al Amal fugiu da Cidade de Gaza com a família. “É a 12ª vez (que fugimos). Quantas vezes devemos suportar? Mil vezes? Onde vamos terminar? Não tenho mais energia, não consigo mais”, disse.
O conflito começou em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 42 que estariam mortas.
Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e iniciou uma ofensiva em Gaza que já matou 38.295 pessoas, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do território.
“Eliminamos ou ferimos 60% dos terroristas do Hamas desde o início da guerra”, afirmou o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant.
Quatro palestinos morreram nesta quarta-feira em bombardeios israelenses em Nuseirat, centro do território, e dois morreram em Khan Yunis, sul, segundo fonte médicas.
‘Todos eram civis’
Na terça-feira, ao menos 29 pessoas morreram, incluindo crianças, em um ataque israelense contra uma escola em Abasan, perto de Khan Yunis, segundo uma fonte médica e o Hamas.
O Exército israelense afirmou que os bombardeios foram direcionados contra “terroristas”. Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o Hamas uma “organização terrorista”.
As vítimas foram levadas para o hospital Nasser com a ajuda de parentes, a pé, em carros ou ambulâncias.
“Estávamos sentados perto da porta da escola quando, de repente, foguetes atingiram um grupo de pessoas. Estas pessoas não estavam armadas, não eram parte da resistência, todos eram civis”, disse Mohammed Sukkar.
O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha denunciou um bombardeio “inaceitável” e afirmou que “os civis, em particular as crianças, não devem ficar presos entre o fogo cruzado”. A França também condenou o ataque israelense.
Israel e Hamas ainda discordam sobre a maneira de alcançar uma trégua. O movimento islamista flexibilizou suas exigências, mas acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de bloquear as negociações.
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