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O Brasil no mundo

Maria Helena Tachinardi esmiúça, com autoridade e competência, meio século de política externa

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Imagem: iStockphoto
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A política externa brasileira, nos últimos 50 anos, passou por transformações profundas. Nessas cinco décadas, o País teve governos militares, viu o fim da ditadura, a crise e a superação da dívida externa, inflação desenfreada e estabilização e, ajustando-se à nova realidade mundial, registrou reorientação significativa da política exterior, sobretudo no período mais recente, com o surgimento do conceito de aliança de potências regionais defendida pelo presidente Lula nos seus dois primeiros mandatos.

Esse cenário inspirou a jornalista Maria Helena Tachinardi, com experiência de décadas de cobertura na área, a escrever Política Externa e Jornalismo, monumental obra de 511 páginas na qual relata sua experiência como repórter, editora e correspondente em Washington durante os 23 anos em que trabalhou para a Gazeta Mercantil. O balanço da atuação da diplomacia brasileira e do setor empresarial no período, em especial entre o fim da Guerra Fria, o início da globalização e o pós-11 de Setembro, é fundamental para entender o Brasil atual. Trata-se de um retrato preciso do período, do relançamento da política para a África em 1974, na era Geisel, aos desafios enfrentados pelos governos Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula.

Política Externa e Jornalismo. Maria Helena Tachinardi. Editora Contexto (512 páginas, R$ 89,90) – Compre na Amazon

Foi dura a batalha para o Brasil chegar hoje a um comércio exterior da ordem de 600 bilhões de dólares. Houve inúmeros conflitos comerciais com os EUA, por causa da reserva de mercado em informática e da alegada falta de proteção às patentes farmacêuticas no Brasil. No governo Lula I, houve o enfrentamento à criação da Área de Livre Comércio das Américas, projeto bancado pelos EUA e sepultado naquele período. Pouca gente se lembra, mas Washington vetou a exportação de um supercomputador para a Petrobras, no fim dos anos 1980, para evitar que tecnologias sensíveis, com fins civis e militares, pudessem cair em mãos de países considerados inimigos. Entre os avanços significativos, a autora cita a criação do Mercosul, em 1991.

O livro está organizado por décadas e governos e condensa milhares de reportagens da autora: a reafirmação de valores ou princípios da política externa, o impacto da Guerra Fria no ­País, em especial nos anos 1980, quando as políticas neoliberais do presidente ­Ronald Reagan se chocaram com a posição nacionalista do Brasil, a globalização nos anos de 1990 e, por fim, um capítulo dedicado ao jornalismo e à comunicação, à luz do debate sobre a nova ordem informativa mundial, bandeira defendida pela Unesco, com apoio de setores progressistas nos anos de 1970.

Marcante o relato sobre o longo processo de aproximação com a China, que hoje compra mais de 100 bilhões de dólares do Brasil, é o principal parceiro comercial e o maior investidor asiático na economia brasileira. Mas, como lembra a jornalista, no começo foi tudo muito difícil. Por sinal, em 2024, comemoram-se os 50 anos da relação Brasil-China. •

Publicado na edição n° 1318 de CartaCapital, em 10 de julho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O Brasil no mundo’

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