Sociedade

O Palmeiras e as Clarinadas

Na Segunda Guerra a elite paulistana fomentou o preconceito contra os italianos e a difamação do Palestra Itália. A onda não amainou com a mudança de nome para Palmeiras

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Às vésperas das semifinais da Copa libertadores da América o jornal argentino El Clarin publica um artigo para estigmatizar o Palmeiras como um clube fascista. A autora da matéria, jornalista Eleonora Gosman, valeu-se da manifestação de um grupo de palmeirenses no metrô de São Paulo e das declarações do volante Felipe Melo, após o jogo contra o Bahia. O jogador dedicou seu gol ao “futuro presidente Jair Bolsonaro” (sic).

A direção do Palmeiras emitiu nota de repúdio às afirmações levianas e desinformadas da senhora Gosman.

O Palestra Itália foi fundado por imigrantes italianos em 20 de agosto de 1914. Sugiro à senhora Gosman uma consulta ao livro de José Renato de Campos Araújo, Imigração e Futebol: o Caso Palestra Italia. “O Palestra Itália abriria possibilidades de indivíduos deixarem suas origens e sentimentos étnicos transparecerem perante à sociedade receptora, que, no caso da paulistana, sempre menosprezou aqueles com esta origem. A associação encontrava um espaço para demonstrar a “força” e o “valor moral” do grupo numa arena, onde estes fatores estavam em jogo”

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Caso aprecie a literatura, a jornalista argentina poderia ocupar seu tempo e seus neurônios com a leitura de Antônio de Alcântara Machado, um escritor brasileiro empenhado em narrar as a aspirações vicissitudes dos imigrantes italianos em terras paulistanas. Se ainda abrigar alguma gentileza em sua alma, a senhora Gosman poderia se emocionar com a morte de Gaetaninho ou com as histórias de Palestra versos Corinthians, no livro Brás, Bexiga e Barra Funda

Nos anos 40 do século passado, período da Segunda Guerra Mundial, a elite paulistana fomentou o preconceito contra os italianos. O Palestra Itália sofreu uma campanha de difamação como um valhacouto de fascistas.

O historiador Celso de Campos Jr, no livro 1942 O Palestra vai à Guerra, registra as agruras e os apuros dos imigrantes de origem alemã, italiana e japonesa. Eles “pagavam o preço da tirania dos líderes de Berlim, Roma e Tóquio, sofrendo não apenas o constrangimento oficial das autoridades nacionais, como também uma perseguição aberta de parte da população, alimentada pela intolerância, pelo preconceito e pelo ódio”. Os palmeirenses da velha guarda e de boa cepa, perdoam, mas não esquecem as dores que os maltrataram.

A onda não amainou com a mudança de nome de Palestra Itália para Palmeiras em 20 de setembro de 1942. Perdurou até o início dos anos 50. Aprovado três vezes no concurso para a magistratura, meu pai, “o italianinho” Luiz Gonzaga Belluzzo era preterido em benefício dos “quatrocentões”. Insistiu e foi nomeado em 1947.

As clarinadas do El Clarin em defesa da democracia são mais falsas do que uma nota de 15 dólares. Em 1977 o jornal, acumpliciado ao La Nacion, usou os dólmãs e coturnos do ditador Jorge Rafael Videla para passar a mão na Papel Prensa, empresa da família Graiver, cujos membros foram encarcerados e torturados.

Reconhecidas as credenciais democráticas do El Clarin, voltamos ao futebol. Minha experiência como dirigente aconselha botar as barbas de molho quando o adversário é o Boca Juniors. O Palmeiras foi vitimado, em duas ocasiões, por erros grotescos de arbitragem: na final de 2000 e na semifinal de 2001.

O famigerado Julio Grondona, ex-presidente da AFA foi dessa para a melhor, mas a influência portenha na Commebol parece não ter sofrido recuos. Ojo!!!!

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