Sociedade

É impossível comparar o fascismo com o interesse das classes subalternas

Saí do agronegócio? Saí não! Minhas andanças levam a desolados produtores de hortaliças, leite, arroz, feijão, sempre presentes nas mesas dos brasileiros

É impossível comparar o fascismo com o interesse das classes subalternas
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Desde que a presidente Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe de estado conformado pelos aparelhos ideológicos garantidores do Acordo Secular de Elites, que incluiu a prisão sem provas do ex-presidente Lula para impedi-lo de candidatar-se, qualquer cidadão e cidadã com apego à democracia e à luta para viver numa sociedade mais justa e menos hipócrita, percorrerá trilhas de espanto e armadilhas, defrontando-se com os quatro Poderes da Federação de Corporações, o mais canalha deles as Organizações Globo.

Esgarça-se o tecido social da Nação. Bloqueia-se o acesso do trabalho à conquista de renda. Os vendilhões, a cada locução, se mostram indignados pelo fato de o índice de desemprego ter saído de 4% em 2012 para 13% hoje, esquecendo que o caminho inverso foi conquistado durante o governo Lula.

Consequência, em nome de um ajuste fiscal que não acontece, freia-se o consumo, destruindo o potencial de sobrevivência da indústria, comércio e serviços não-financeiros. Na mesma sequência, param os investimentos em saúde, educação, moradias e saneamento básico. Tudo isso coonestado por um Judiciário de senhores e senhoras abilolados e instrumentalizados não pelo direito, mas por seus interesses políticos e de classe.

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Hoje em dia, esse o Brasil visitado por importantes pensadores do planeta que reconhecem o legado Lula, mas ridicularizado em países hegemônicos ou não, pela afronta que fez às próprias instituições e à Organização das Nações Unidas (ONU).

Sim, vi tudo isso ser gerado, a partir de junho de 2013, inocentes levantando a bola para o voleio dos quadrilheiros da direita – não haverá definição melhor. Até 2016, sou capaz de lembrar da postura e da cara de cada um de vocês que agora se escondem num centro-direita fajuto, sem expressão, incapaz de anular o que chamam de extremos.

Como fosse possível comparar o fascismo com o interesse das classes subalternas, que inclui os ricos pagarem impostos, o rentismo ser taxado em benefício das atividades produtivas e do investimento em obras públicas, enfim, “do pobre ter direito a três refeições por dia”.

Saí do agronegócio? Saí não! Minhas Andanças Capitais levam a desolados produtores de hortaliças, frutas, legumes, leite, café, arroz, feijão, sempre presentes nas mesas dos brasileiros, ora dentro ora fora delas por falta de consumo ou preço.

Querem ver?

1. A área plantada com arroz irrigado e de sequeiro, nos últimos 15 anos, quando o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos (reverência a Ivan Lessa), caiu 46%. A produção se manteve graças ao aumento de produtividade pelo uso intensivo de tecnologia, mas a população cresceu 14%. Alguém deixou de comer ou trocou de prato;

2. Nas três safras anuais, a área de feijão caiu 26%. Mais uma vez, a produção foi mantida, mas alguém deixou de comer a leguminosa com arroz ou mudou de prato (macarrão de trigo importado com mandioca?);

3. O milho, sim, aumentou a área em 30% e mais que dobrou a produção. Confiram nas exportações e no consumo interno de frangos, quando tínhamos emprego e renda;

4. Soja? 62% de aumento na área, 140% na produção graças à alta produtividade, e procurem os resultados dela nos mesmos fatores que no milho;

5. Café? Exportação e menos consumo proporcional interno. Leite? Apesar de 4º produtor mundial, ainda precisamos importar. Temos 25 milhões de vacas, mas segundo os especialistas elas precisam ser robotizadas para mais produzirem. Foram-se 35 bilhões de litros, em 2017, aí incluídos quem mamou nas tetas do governo ilegítimo de Temer;

6. E dos alfaces e tomates, o que poderei falar, se não mostrar os gráficos com suas oscilações de preços, e sugerir ao fenomenal João dos Bancos Amoêdo, plantá-los e mudar a curva da meritocracia.

É da vida do agricultor? Pois, não deveria ser, tontos patos amarelos, tivéssemos alguma ideia de como assegurar a sobrevivência das pequena e média agriculturas familiares e dos assentamentos caboclos, campesinos, sertanejos, ruralistas, indígenas e quilombolas.

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