Do Micro Ao Macro
Burnon: Entenda o estresse crônico no ambiente profissional
Neurocientista Thaís Gameiro ensina a identificar os sinais precoces e proteger sua saúde mental


Um conceito recente vem ganhando espaço no campo da psicologia organizacional: Burnon. Criado pelos psicólogos alemães Timo Schiele e Bert Te Wildt, o termo descreve o estado de pessoas que, embora convivam com níveis elevados de estresse, conseguem manter um certo grau de funcionalidade em suas rotinas.
Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa especializada em Neurociência Organizacional, explica: “No Burnon, as pessoas mascaram os impactos e o sofrimento causados pelo estresse crônico. Elas continuam trabalhando e vivendo como se tudo estivesse normal, apesar de se sentirem frequentemente esgotadas e desanimadas.”
A Diferença entre Burnon e Burnout
Para entender a distinção entre Burnon e o mais conhecido Burnout, imagine um processo contínuo de agravamento dos sintomas de esgotamento mental e físico. O Burnout é caracterizado por uma exaustão extrema, levando a um colapso emocional e físico que incapacita a pessoa para o trabalho. “Esse colapso, contudo, não ocorre da noite para o dia. É um processo crônico, onde o estresse sustentado leva ao Burnout.
O Burnon pode ser visto como uma fase anterior, onde o indivíduo já sofre as consequências do estresse elevado, mas ainda não entrou em colapso. Eles continuam funcionais, mas têm dificuldade em perceber que já estão em um estado emocional que precisa ser tratado preventivamente para evitar o colapso”, explica Thaís.
Como identificar os sintomas
Os principais sintomas do Burnon incluem exaustão, esgotamento mental e físico, depressão, ansiedade, além de sinais físicos como dores de cabeça, dores musculares, bruxismo, desânimo, pressão alta e insônia.
Estes sintomas frequentemente passam despercebidos, pois muitos profissionais conseguem continuar suas atividades diárias sem grandes interrupções aparentes.
Quem está mais vulnerável?
Embora qualquer pessoa possa desenvolver Burnon ao longo de sua carreira, aquelas que trabalham em ambientes tóxicos estão mais vulneráveis.
Profissionais sobrecarregados, que acumulam funções, recebem pouco reconhecimento, não encontram propósito em suas atividades, têm relações negativas com colegas ou líderes e enfrentam longas jornadas de trabalho são mais propensos.
Ambientes com alta pressão por resultados e competitividade exacerbada também facilitam o desenvolvimento dessa síndrome.
Medidas preventivas
Estabelecer limites saudáveis em relação ao trabalho é crucial. Buscar equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, investir no autocuidado, passar tempo de qualidade com familiares e amigos, e respeitar os momentos de descanso são ações essenciais.
Desenvolver o autoconhecimento para identificar os primeiros sinais de estresse e agir rapidamente na raiz do problema também é fundamental.
O Papel das empresas
As empresas têm um papel vital na proteção dos seus colaboradores contra o estresse crônico. Promover uma cultura que priorize a saúde mental e o bem-estar é essencial. Isso inclui capacitar líderes para práticas de gestão que previnam o burnout, desenvolver habilidades de autogestão e gestão do tempo entre os colaboradores, incentivar o equilíbrio de vida e evitar a cultura da urgência e conexão constante. Fomentar a segurança psicológica, a confiança e a colaboração entre os times também é vital.
Investir em práticas que promovam a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores não só protege contra o Burnon, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Ações preventivas são essenciais para evitar o adoecimento dos colaboradores, e oferecer suporte emocional e psicoterapêutico é uma medida importante, embora muitas vezes seja acionada apenas quando os profissionais já estão doentes.
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