

Opinião
Pré-Copa América
A disputa, nos Estados Unidos, será um indicativo importante do que esperar da Seleção sob o comando de Dorival Júnior


Com a partida realizada nesta quarta-feira 12, em Orlando, contra os Estados Unidos – terminada em 1 a 1 –, chega ao fim a fase de preparação da Seleção Brasileira para a Copa América, a ser realizada a partir do dia 24. A sequência de jogos de preparação indica que a disputa pode ser um teste para sabermos em que pé está o nosso futebol.
Digo isso recordando como era o futebol por aqui tempos atrás e pensando na forma como estamos encarando os dias atuais. Houve um período, principalmente após a conquista do bicampeonato mundial – no Chile, em 1962 –, em que a Seleção se via obrigada a vencer sempre.
Os treinadores, à altura, faziam de tudo para colocar em campo a melhor equipe, em qualquer circunstância. Passamos, desde então, por muitas e diferentes fases. Algumas delas desastrosas. Penso, hoje, que a indicação do Dorival Júnior foi a melhor escolha para orientar a Seleção.
Minha opinião se baseia na maneira como ele se organiza e nos resultados que, há bastante tempo, vem alcançando nos trabalhos realizados à frente de diferentes equipes – tendo sido o São Paulo a última delas.
Vivemos um tempo de exposição midiática exacerbada. Nesse contexto, cada treinador é o “gênio da lâmpada” da vez. Isso, associado ao destaque excessivo gerado pela mídia e pelas redes sociais, deixa a maioria dos jogadores atada, em situação de cumpridora de funções, sem iniciativa própria, tolhida em sua criatividade.
No fim das contas, no encerramento das temporadas, os melhores – os “bolas de ouro” – sempre são os mais qualificados tecnicamente.
Os mais criativos continuam sendo, porém, aqueles como Messi, Maradona, Garrincha, Pelé, Romário e outros que, embora fortes fisicamente, se destacaram, sobretudo, pelo poder de criação. Por sua arte, eu diria.
É bem verdade ainda que alguns atletas também associaram a capacidade física à técnica. Foi esse o caso de Ronaldo Nazário e Cristiano Ronaldo. Isso sem esquecer, a despeito das questões fora do campo, a trajetória espetacular do Ronaldinho Gaúcho.
Outra coisa da qual precisamos lembrar é: nenhum dos maiores times da história foi composto de 11 supercraques. Como diz o povo, em sua eterna sabedoria, nenhuma construção se faz só com pedreiros ou só com engenheiros e arquitetos.
Dorival Júnior não se preocupa com o estrelato. Ele prima pela simplicidade e pela dedicação ao trabalho na função de treinador dos times que está encarregado de orientar. Nada de ser a “mão de ferro” que domina o grupo. E sabemos que grupos constituídos dessa forma nunca vão muito longe.
Portanto, o atual treinador da Seleção Brasileira parte de uma visão de conjunto, ligando o início do seu trabalho ao objetivo de, no fim da linha, sair vencedor. Vem causando, inclusive, muito estranhamento o fato de Dorival escalar nos amistosos de preparação os jovens convocados – alguns deles pela primeira vez –, deixando no banco nomes consagrados.
Ele, obviamente, sabe dos riscos implicados nessa decisão, mas confia nas suas escolhas e busca, como ele próprio ressalta, o equilíbrio de suas linhas, o amadurecimento natural. O ponto máximo neste período de ansiedade geral é o cuidado que ele tem demonstrado com Endrick, a maior revelação brasileira do momento.
O treinador entende, como poucos, que o atleta não deve ser mais sobrecarregado do que já está. Ele é muito jovem e está vivenciando uma enorme exposição, com as malas prontas para ir jogar no Real Madrid. Dorival acredita em planejamento – dentro do prazo de que dispõe – e tem mostrado saber lidar com isso por onde tem passado, sem se preocupar com os holofotes.
A partir da Copa América, começaremos a ver os resultados da nova direção que vem sendo dada ao nosso futebol – que tanto tem desgostado seus apaixonados torcedores. Os próprios jogadores já manifestam a consciência de que estão no começo da caminhada e que o objetivo maior é chegar ao final dela com os louros da vitória. •
Publicado na edição n° 1315 de CartaCapital, em 19 de junho de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Pré-Copa América’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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