Política
As dúvidas sobre destino de Juscelino no governo após o indiciamento pela PF
Lula indicou a um grupo de auxiliares que deve ouvir líderes do União. No momento, a ordem é esperar o assunto decantar e monitorar o clima


O presidente Lula (PT) indicou a um grupo de auxiliares que deve ouvir líderes do União Brasil antes de selar o destino do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado pela Polícia Federal por suspeitas de corrupção passiva e organização criminosa nesta quarta-feira.
Uma decisão precipitada, apostam interlocutores a CartaCapital, poderia elevar a temperatura e afetar a relação pouco amistosa do Planalto com a legenda. Em conversas reservadas, o petista teria ponderado ainda que Juscelino foi indicado pela bancada do partido na Câmara, motivo pelo qual os deputados teriam de ser consultados sobre uma eventual troca.
O União Brasil, que controla também os ministérios do Turismo e da Integração Nacional, é o terceiro maior partido da Câmara, com 58 deputados. Apesar de expressivo, contudo, nem sempre entrega votos e não raro contribui com a derrota do governo em pautas importantes.
No momento, a ordem é esperar o assunto decantar e monitorar o clima no União. Espera-se que Juscelino só seja convocado a prestar esclarecimentos ao presidente no início da próxima semana. Isso porque Lula embarcou nesta quarta-feira para a Suíça, passa pela Itália e só retorna ao Brasil no domingo.
O ideal, avalia um auxiliar de Lula, seria o próprio partido sinalizar interesse em substituir o ministro, pelo menos até o fim das apurações. Caciques do partido chefiado por Antonio de Rueda, porém, têm pregado defesa absoluta do correligionário.
A legenda afirmou, em nota, não aceitar “pré-julgamentos ou condenações antecipadas” contra o ministro e afirmou que Juscelino não teve o “amplo direito de defesa” respeitado.
“Indiciamento não deve significar culpa, e o princípio da presunção de inocência e o devido processo legal devem ser rigorosamente respeitados”, disse o União após o indiciamento de Juscelino.
A avaliação quase unânime, contudo, é que o indiciamento acaba por ampliar o desgaste da gestão petista em uma semana marcada por reveses.
Na terça-feira, por exemplo, o governo precisou cancelar um leilão de arroz por suspeitas de irregularidades e viu uma medida provisória para compensar a desoneração da folha de pagamento ser devolvida pelo Congresso, em uma derrota para a equipe econômica.
Juscelino foi indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva em um inquérito que investiga suspeitas de desvio de emendas parlamentares para pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão.
A cidade é comandada por sua irmã, Luanna Rezende, que chegou a ser afastada do cargo no ano passado, mas retomou o mandato após decisão do Supremo Tribunal Federal. É a primeira vez que um integrante do primeiro escalão do atual mandato de Lula é indiciado.
O relatório enviado pela PF ao ministro Flávio Dino, relator do caso no STF, acelerou as cobranças pela exoneração do ministro. Uma ala do governo tem defendido sua substituição desde que as primeiras reportagens sobre supostas irregularidades foram veiculadas na imprensa.
A defesa de Juscelino Filho nega as irregularidades apontadas pelos investigadores. Em nota, o ministro afirmou que o relatório final do inquérito é uma “ação política e previsível”. Além disso, disse que a investigação “concentrou-se em criar uma narrativa de culpabilidade perante a opinião pública” com vazamentos e sem considerar os fatos.
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