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Rio Grande do Sul/ O “pós-guerra”

Depois da tormenta, o desafio de reerguer um estado reduzido a escombros

Rio Grande do Sul/ O “pós-guerra”
Rio Grande do Sul/ O “pós-guerra”
Só na capital gaúcha o prejuízo é estimado em 8 bilhões de reais – Imagem: Gustavo Mansur/Governo do Estado do Rio Grande do Sul
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O nível do Lago Guaíba, que banha a Região Metropolitana de Porto Alegre, voltou a subir na segunda-feira 3, frustrando comerciantes e moradores de bairros atingidos por novas inundações. A prefeitura da capital estima que as enchentes afetaram 39 mil imóveis e impactaram 157 mil habitantes. Ao menos 48 mil empresas tiveram o funcionamento prejudicado desde o início de maio. A rodoviária retomará a operação na sexta-feira 7. Já o ­Aeroporto Internacional ­Salgado Filho só deve reabrir em dezembro. Só na cidade, os prejuízos ultrapassam a cifra de 8 bilhões de reais.

Por todo o estado, é hercúleo o desafio de retomar as atividades. No município de ­Canoas, homens do Exército e da Marinha foram mobilizados para localizar 1,5 mil tonéis com resíduos de produtos químicos que foram levados pelas águas de uma empresa de reciclagem no bairro Fátima. Em boletim divulgado na terça-feira 4, a Defesa Civil confirmou a morte de 172 pessoas no desastre climático. Outras 44 seguiam desaparecidas. Mais de 616 mil habitantes ainda estavam impossibilitados de retornar às suas casas.

Não é tudo. Até aquela data, a Secretaria Estadual de Saúde havia confirmado a morte de 13 pacientes por leptospirose, doença transmitida pela água suja, contaminada pela urina de ratos. Ao menos 73 mil alunos da rede ­estadual de ensino continuavam sem aulas. O governo gaúcho informa que 22 escolas foram completamente destruídas, quase 600 estão danificadas e 31 continuam servindo como abrigos para famílias que perderam suas casas.

Ainda na terça-feira 4, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, viajou a Brasília para discutir detalhes do plano de reconstrução do estado. O presidente Lula, por sua vez, anunciou uma visita a cidades do Vale do Taquari, uma das regiões mais atingidas pela calamidade, na quinta-feira 6. Na ocasião, deve anunciar novas medidas de socorro ao estado.

De acordo com um balanço divulgado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o conjunto de iniciativas do governo federal para amparar a população gaúcha é estimado em 85,7 bilhões de reais. Já o Banco dos BRICS formalizou a liberação de 495 milhões de dólares (2,6 bilhões de reais) em investimentos para reconstruir o estado.

A candidata do MEC

A educadora Izolda Cela deixou o cargo de secretária-executiva do Ministério da Educação para disputar as eleições municipais. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União na segunda-feira 3. Vice-governadora do Ceará de 2015 a 2022, ela filiou-se ao PSB em fevereiro de 2024, mas ainda não definiu se disputará a prefeitura de Fortaleza ou de Sobral. Com a movimentação, o professor Gregório Grisa, secretário-executivo-adjunto, deve assumir o posto de número 2 no MEC.

Dólares na Bíblia/ Bênção judicial

Fundador da Igreja Renascer escapa de punição por evasão de divisas

O casal foi preso nos EUA, mas ficou incólume no Brasil – Imagem: Rede sociais

Em janeiro de 2007, Estevam e Sônia Hernandes, líderes da Igreja Renascer, foram presos no aeroporto de Miami por tentar entrar nos EUA com 56,4 mil dólares escondidos em uma Bíblia, um porta-CDs, um casaco e duas bolsas. Como haviam informado à Alfândega a posse de apenas 10 mil dólares, as autoridades norte-americanas não hesitaram em condenar o casal pela falsa declaração. O apóstolo e a bispa só conseguiram retornar ao Brasil depois de cumprir 2 anos e 6 meses de prisão e liberdade condicional.

Ao regressarem, eles enfrentaram um novo processo. Em dezembro de 2009, foram condenados por evasão de divisas a quatro anos de reclusão. O juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, autorizou o casal a cumprir a pena em liberdade, mediante a prestação de serviços em entidades filantrópicas. Ainda assim, os Hernandes recorreram da sentença. Em 2012, o Tribunal Federal Regional da 3ª Região acatou parcialmente a apelação, reduzindo a pena a três anos. Após sucessivos recursos, a condenação de Estevam transitou em julgado para a defesa em 2021.

O Judiciário nativo tardou, porém, a executar a pena. Coube à juíza substituta Andreia Silva Sarney Costa Moruzzi reconhecer a prescrição da pretensão punitiva contra o apóstolo, que completou 70 anos em março. O despacho é de 29 de janeiro de 2024, duas semanas após o casal celebrar 46 anos de casamento. Por causa de um cochilo da mídia, poucos souberam da graça alcançada nas Bodas de Alabastro. O idealizador da Marcha para Jesus não sofreu qualquer punição, no Brasil, pelo crime. Aleluia!

Homicídio culposo

Dez diretores da Prevent Senior foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por homicídio culposo. Os executivos, alegam os procuradores, são responsáveis pela morte de sete pacientes em decorrência do tratamento ineficaz oferecido durante a pandemia da Covid-19. Na lista figuram os proprietários da empresa, Fernando e Eduardo Parrillo, e o médico Rodrigo Esper, responsável pelo estudo que chancelou o uso de cloroquina no tratamento dos infectados. “Foram feitos experimentos com medicamentos não adequados”, afirmou o promotor Everton Luiz Zanella.

Mulheres/ Rompendo trincheiras

Forças Armadas vão permitir alistamento militar feminino em 2025

Hoje há poucas formas de ingresso, como as escolas para formar oficiais – Imagem: EB/MD

Pela primeira vez na história, as Forças Armadas vão permitir que as mulheres participem do alistamento militar para a carreira de soldado. A decisão foi tomada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, após consultas com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

A ideia é que o alistamento aconteça nos mesmos moldes do serviço militar
masculino, mas sem a obrigatoriedade. As mulheres
que completarem 18 anos
em 2025 poderão se
alistar para recrutamento
no ano seguinte.

Atualmente, as mulheres já estão autorizadas a entrar nas fileiras das Forças Armadas por outros meios, como as escolas de preparação de oficiais. Somente a Marinha, no entanto, libera a participação delas em divisões de combate, como a dos fuzileiros navais. A iniciativa pode mudar esse cenário.

México/ Uma cientista no poder

Claudia Sheinbaum vence as eleições com autoridade

A aliada de López Obrador teve quase 60% dos votos – Imagem: Redes sociais/MRN

Judia defensora da Palestina, ambientalista, cientista respeitada, Claudia Sheinbaum superou a campanha suja dos adversários para fazer história na política: tornou-se, no domingo 2, a primeira presidenta do México. O triunfo nas urnas foi incontestável. A aliada de Andrés Manuel López Obrador, cuja popularidade anda em alta, obteve perto de 60% dos votos, contra cerca de 30% da principal adversária, Xochitl Galvez, representante do centro-direita. O centrista Jorge Álvarez Máynez comeu poeira – obteve o apoio de, aproximadamente, 10% dos eleitores. “Não vou falhar”, prometeu Sheinbaum no discurso da vitória, dirigido especialmente às mulheres. “Disse desde o início, não se trata apenas de eu chegar aqui, mas de todas nós chegarmos aqui.” A futura presidenta de 61 anos não é neófita na política. Entre 2018 e 2023, governou a populosa e complexa capital, Cidade do México. Apesar da proximidade com Obrador, Sheinbaum tem um estilo diferente do padrinho. Chamada de “La Doctora”, cultiva a imagem de técnica que toma decisões “baseadas em dados”. Em um país profundamente católico, conservador e machista – o ex-presidente Vicente Fox certa vez descreveu as mulheres como “máquinas de lavar roupa de duas pernas” –, a mandatária terá de provar nos próximos cinco anos seu compromisso de campanha com o combate ao feminicídio e à violência doméstica e o apoio à igualdade de gênero. Também será posta à prova sua habilidade de negociação com ­Washington, em particular se Donald Trump voltar à Casa Branca a partir de 2025. ­Sheinbaum, obviamente, sabe qual o maior problema do México: estar longe demais de Deus e perto demais dos Estados Unidos.

Uma longa eleição

Enquanto isso, a Índia encerrou no domingo 2 a longa eleição que definirá o próximo primeiro-ministro. O nacionalista Narendra Modi é o favorito para conquistar um terceiro mandato. A votação durou 44 dias e teve sete fases. A divulgação do resultado será mais rápida, pois o país utiliza urnas eletrônicas. Dos 969 milhões de indianos aptos a votar, 642 milhões exerceram seu direito, segundo a comissão eleitoral. O país tem 1,4 bilhão de habitantes. Modi granjeia popularidade entre a maioria hindu e usa a religião para fins políticos. A minoria muçulmana no país tem sido seu principal alvo.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 12 de junho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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