Economia
Reforma tributária: governo recua e retira de projeto a taxação de previdência privada em herança
A equipe econômica enviou o texto ao Congresso Nacional, que tende a promover modificações na proposta


A área econômica do governo Lula (PT) detalhou nesta terça-feira 4 a segunda proposta de regulamentação da reforma tributária, enviada ao Congresso Nacional. O principal ponto é a criação do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços, o IBS. O primeiro projeto de lei complementar chegou ao Legislativo em abril.
Ao longo da tramitação, deputados e senadores tendem a promover modificações na redação original.
O principal efeito da reforma é a unificação, a partir de 2033, de cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — em uma cobrança única, dividida entre os níveis federal (com a Contribuição sobre Bens e Serviços, CBS) e estadual/municipal (com IBS).
O Congresso promulgou a PEC da reforma em dezembro de 2023, mas há uma série de aspectos a serem regulamentados por leis complementares. Além de definirem as alíquotas, os parlamentares terão de balizar os regimes especiais e os tratamentos diferenciados a setores e produtos.
Na última hora, o governo federal recuou e retirou do segundo projeto de regulamentação a cobrança pelos estados de um imposto sobre a herança de previdência privada.
A previdência privada é uma aposentadoria particular e não está ligada ao INSS. Funciona como uma renda extra e serve como reforço para a aposentadoria oficial e pública.
Alguns estados já cobram o chamado Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos, o ITMD, sobre o Plano Gerador de Benefício Livre, o PGBL, e o Vida Gerador de Benefício Livre, o VGBL. Não há, porém, homogeneidade nas normas, o que leva a ações judiciais.
Incluir a autorização para cobrança no projeto sobre a reforma tributária era uma demanda dos próprios estados. A tentativa de padronizar a taxação constava da proposta, mas foi excluída.
“O projeto que está indo ao Congresso não trata desse tema. Fica tudo como está hoje”, disse o secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy.
“É um projeto que tem uma avaliação política e foi feita uma avaliação política pelo governo (…) Uma coisa é área técnica, outra coisa é área política. O que vale é o texto final. Pronto, segue a vida.”
Segundo Carlos Eduardo Xavier, presidente do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita, Tributação ou Economia dos Estados e do Distrito Federal, declarou que a mudança é parte do processo técnico e político do debate.
“Foi uma decisão do governo de retirar esse tema. Os estados acataram. Não tem nenhuma polêmica em relação a isso”, avaliou. “A gente não deliberou isso no Comsefaz ainda. É possível que faça, mas não temos ainda decisão sobre esse tema.”
O projeto apresentado nesta terça ainda trata do contencioso administrativo do IBS, da distribuição de receitas do IBS entre os entes federados e do ressarcimento dos saldos credores do ICMS existentes em 31 de dezembro de 2032.
O Comitê Gestor do IBS terá sete instâncias. A principal delas será o Conselho Superior, com 27 representantes dos estados e 27 dos municípios.
A instalação do Conselho Superior deverá ocorrer no prazo de 120 dias a partir da publicação da lei complementar, com a indicação de membros titulares e suplentes em até 90 dias. A União prevê custear as despesas necessárias à instalação de 2025 a 2028, no montante de até 3,8 bilhões de reais.
A meta central do Conselho é definir as diretrizes e coordenar o trabalho das administrações tributárias dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Não haverá vinculação, tutela ou subordinação do colegiado a qualquer órgão da administração pública.
Leia a apresentação divulgada pela equipe econômica nesta terça.
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