Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Disco de retorno do Boca Livre evidencia a força do grupo vocal na música brasileira
Com inéditas e duas regravações, Rasgamundo é uma aula de harmonização de vozes e instrumentação


É uma pena que Zé Nogueira não esteja mais aqui para curtir o trabalho que entregou como produtor no mais recente álbum do Boca Livre. O saxofonista, intimamente ligado à história do quarteto vocal, morreu em abril, um mês antes ao lançamento de Rasgamundo, disco que marca o retorno do grupo.
O álbum explicita a relevância do grupo vocal para a música brasileira, com perfeita harmonização de vozes, instrumentação alinhada às exigências do conjunto musical e composições bem-acabadas.
David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato voltaram a se reunir depois de um breve período de rompimento, durante a pandemia, por divergências políticas, para lançar o 16º álbum do Boca Livre.
Quando apresentaram em 1979 o primeiro trabalho, um clássico com as canções Quem Tem a Viola, Toada, Mistérios e Ponta de Areia, verificou-se que nascia ali um grupo vocal para firmar a tradição do País, desde o início do século passado, nesse tipo de formato musical. E foi o que aconteceu.
Em Rasgamundo (MP,B Discos e Som Livre), o Boca Livre oferece dez canções. A faixa-título abre o disco e é de autoria de Zé Renato e Lourenço Baeta, com a participação da cantora cabo-verdiana Nancy Vieira.
A segunda faixa, O Vento (Rodrigo Amarante), é uma releitura que segue a tradição do grupo de trazer interpretações além das canções autorais. O Canto em Nós (Zé Renato/Zeca Baleiro) faz parte de duas canções trocadas entre seus autores pela primeira vez.
A quarta música, Mesmo se Você Não Vê, foi pinçada de Mil Coisas Invisíveis (2022), excelente disco autoral de Tim Bernardes. Depois, uma canção inédita de Guilherme Arantes: Toda Felicidade.
Rio Grande é também de uma nova parceria, desta vez do melodista Zé Renato com Nando Reis. Na sequência, Povo do Sol, de David Tygel com um velho parceiro, o grande Marcio Borges.
Sentimentos Nus foi uma ideia de Marcus Preto, que produziu o disco ao lado de Zé Nogueira. Com uma letra em mãos do inesquecível Erasmo Carlos, ele a entregou a Zé Renato para inserir a melodia e inclui-la no disco.
Dois Oceanos (Lourenço Baeta) e Prayer (Mauricio Maestro) fecham o disco de composições muito ao jeito do Boca Livre, com imagens e sensações elevadas.
A gravação de Rasgamundo teve Zé Renato nos violões, Maurício Maestro nos baixos elétricos, Lourenço Baeta nas flautas e no ukulele e David Tygel na viola caipira. A banda contou ainda com Marcelo Costa na bateria e na percussão e com João Carlos Coutinho nos pianos acústico e elétrico. Os arranjos são de Maurício Maestro.
O grupo segue em turnê pelo Brasil, incluindo shows em 15 e 16 de junho no Sesc Pompeia, em São Paulo, e em 22 de junho no Circo Voador, no Rio de Janeiro, entre outras cidades.
A volta do Boca Livre e o lançamento do disco representam dois dos grandes acontecimentos recentes da MPB.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

O exuberante álbum de Amaro Freitas a partir do contato com uma comunidade indígena
Por Augusto Diniz
Documentário exalta o centenário de Paulo Vanzolini: de dia, a ciência; à noite, a boemia
Por Augusto Diniz
De dor e esperança
Por Augusto Diniz