

Opinião
As SAFs na mira
A ação contra a 777 Partners, dona do Vasco, mostra os riscos envolvidos no modelo futebol empresa, hoje espalhado pelo País


O caso mais instigante deste momento no futebol brasileiro é a hipótese da insolvência da SAF vascaína.
Há cerca de dez dias, a 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido do clube associativo para tirar o controle da SAF das mãos da empresa norte-americana 777 Partners, para a qual haviam sido vendidas 70% das ações de seu futebol.
Na segunda-feira 20, a 777 Partners entrou com agravo de instrumento contra a decisão liminar para tentar retomar o controle do futebol vascaíno.
A ação do Vasco sucede os resultados não satisfatórios do time principal em campo; as mudanças políticas no clube; as acusações e ações judiciais envolvendo a empresa em outros países onde detém maioria de ações de clubes de futebol.
As notícias de atraso de pagamento de compromissos nos clubes administrados pela empresa fora do Brasil e no Vasco acenderam a luz vermelha da direção cruzmaltina logo no início do mandato.
As confusões entre o clube brasileiro e a empresa começaram ainda na campanha de Pedrinho à presidência.
Mas a situação se mostrou ainda mais ameaçadora quando começaram a surgir notícias de que a empresa daria suas ações da SAF vascaína em garantia de empréstimos tomados fora do Brasil.
Parece muito difícil que se desfaça um negócio dessas proporções, e que envolve proprietários tão poderosos. Mas o que nos interessa é saber que rumo vai tomar essa orientação do futebol brasileiro pelas SAFs.
Em abril, Ronaldo havia anunciado sua saída do Cruzeiro, após dois anos e quatro meses na gestão da SAF cruzeirense.
O ex-jogador acertou a venda do controle acionário da Raposa para o empresário Pedro Lourenço, conhecido como Pedrinho.
O que preocupa a todos é a possibilidade dessa onda SAF se espalhar – como já se mostra inevitável – nas mãos de “picaretas” que, certamente, deixariam como rastro uma “buraqueira” imensa, País afora, atrasando ainda mais o nosso preocupante futebol.
Nesse contexto, ainda vieram à tona, pelo UOL e pelo GE, notícias de que o dono da Crefisa, José Roberto Lamacchia, operadora de crédito ligada ao Palmeiras, estaria em negociações com a 777 pela compra de 70% das ações da SAF do Vasco.
Na quarta-feira 22, no entanto, Lamacchia, em entrevista à ESPN, afirmou jamais ter feito qualquer proposta nesse sentido: “Nunca fiz proposta por clube nenhum”.
Se a situação se mostra aflitiva em clubes de maior expressão, imaginemos o que pode acontecer a clubes menores.
O torcedor, do seu lado, deve acompanhar tudo isso estonteado.
Outra preocupação de quase todos os torcedores é o VAR, que passa a ter seu funcionamento contestado oficialmente nos altos poderes do futebol.
Um ponto de grande importância que incomoda a todos é o impacto que o VAR tem sobre o extravasamento na hora máxima: o gol.
Hoje em dia, torcedores e, principalmente, jogadores são obrigados a pensar duas vezes antes de deixar expandir a emoção. O VAR, como se diz na linguagem corrente, “corta o barato”.
Por fim, saindo do macro do futebol brasileiro e chegando aos detalhes dos clubes, tivemos, na semana que passou, o anúncio do fim da era Cássio no Corinthians.
Cássio parte para o Cruzeiro deixando, no clube paulista, uma história de 712 partidas e nove títulos conquistados com a camisa do Timão. •
Publicado na edição n° 1312 de CartaCapital, em 29 de maio de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ”
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