Política
Juscelino Filho presta depoimento à PF e critica delegado após oitiva ser interrompida: ‘repete a Lava Jato’
Ministro é suspeito de integrar uma organização criminosa que desviou emendas parlamentares


O ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União), prestou um curto depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira 17, em Brasília. A oitiva aconteceu no bojo da Operação Odoacro, que mira um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares enviadas pelo ministro para a pavimentação de ruas em Vitorino Freire, no Maranhão.
Ele chegou a responder alguns questionamentos dos investigadores sobre sua movimentação financeira e a relação com a cidade maranhaense. O depoimento, entretanto, foi encerrado após o ministro afirmar que, por orientação dos seus advogados, só responderia a perguntas relacionadas ao objeto investigado no Supremo Tribunal Federal.
Ao final da audiência, que durou 15 minutos, Juscelino criticou o delegado do caso e afirmou considerar que o método de interrogatório repete aquele utilizado na Operação Lava Jato. “Como sabemos, [o método] resultou em consequências danosas a pessoas inocentes”, acrescentou, em nota à imprensa.
Isso porque, segundo ele, os investigadores teriam apresentado questionamentos relacionados a casos que não tem conexção com o inquérito em questão. “[As perguntas] sequer foram fornecidas a meus advogados, evidenciando que o propósito da investigação é devassar a minha vida e encontrar algo contra mim a qualquer custo”, pontuou Juscelino.
Na oitiva, o auxiliar de Lula (PT) pediu a palavra para dizer que as emendas indicadas por ele foram repassadas dentro da legalidade e beneficiaram 11 povoados de Vitorino Freire. Além disso, afirmou estar à disposição das autoridades e disse ter se tornado alvo da investigação “após ser nomeado ministro”.
Juscelino Filho é suspeito de integrar uma organização criminosa que desviou recursos destinados a obras da Codesvasf em Vitorino Freire. A cidade é comandada por Luanna Rezende, irmã do ministro – ela chegou a ser afastada no cargo por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, mas voltou ao mandato alguns meses depois.
O inquérito foi aberto em janeiro de 2023, após o nome do ministro aparecer em uma investigação sobre irregularidades em obras bancadas com emendas do deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA).
Na sequência, o caso foi encaminhado ao STF, uma vez que Juscelino conta com foro por prerrogativa de função na Corte. Em setembro, a PF realizou a Operação Benesse, um desdobramento da Odoacro, com buscas em endereços da prefeita de Vitorino Freire. Os investigadores pediram buscas contra o ministro, mas a demanda foi negada.
O depoimento de Juscelino Filho estava previsto para 10 de maio, mas foi adiado. Desde o início das investigações, ele nega qualquer irregularidade nas destinação de emendas parlamentares e diz ser vítima de uma “acusação injusta”.
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