Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Onça-pintada

Como o Amazonas F.C. começa a destacar-se na Série B e se prepara para a meta ambiciosa de colocar a Região Norte no mapa do futebol brasileiro

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Foto: Divulgação/Amazonas FC
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É quase impossível, neste momento, não falar da tragédia gaúcha. No meu caso, como se a tragédia em si não bastasse, há ainda as consequências na vida esportiva.

Fala-se, sobretudo, do futebol, mas os efeitos se estendem para todas as modalidades e têm peso ainda maior por se tratar de um ano olímpico.

No caso do futebol, a discussão parecia ir aumentando com o nível das águas, até que baixou num ponto comum, diante da tomada de consciência da gravidade da situação.

As reações diante da suspensão das atividades dos clubes gaúchos foram superadas pela reincidência de outras precipitações.

Como encontrar uma saída dentro de outra insanidade, esta representada pelo calendário marcado por competições superpostas e exaustivamente criticado?

Não resta dúvida, de toda forma, de que os clubes gaúchos deverão ser poupados, ainda que a nossa temporada não tenha chegado sequer à metade.

Após refletir sobre a tragédia do Sul, olho para o Norte do País e vejo a grande novidade no futebol brasileiro do momento: o Amazonas F.C., apelidado de Onça-Pintada.

O time ganhou projeção ao vencer, no sábado 11, o grande Santos F.C., que marchava incólume na Série B, fazendo crer que nadaria de braçada no campeonato.

O que vemos, no entanto, é que este é um campeonato cada vez mais difícil de ser conquistado e que o retorno do Santos à divisão principal não se dará sem desafios.

O Amazonas, por outro lado, nasceu em 2019 como um time que, na onda das SAFs, promete reinserir no mapa do futebol brasileiro um time da Região Norte.

Em entrevista ao site Globo Esporte, no início deste mês, o presidente do clube, Wesley Couto, afirmou querer transformar o Amazonas em uma força nacional.

Ele quer “incomodar os clubes hegemônicos do eixo Rio-São Paulo”, conquistar vaga nos torneios da Conmebol em até cinco anos e vencer a Série A do Campeonato Brasileiro em até 20 anos.

A história da busca pela consolidação do esporte na Amazônia é feita de avanços e recuos.

São grandes as dificuldades dos clubes daquela região, a começar pela logística. Mas Couto diz que um dos pontos a orientar seu projeto amazônico é “investir no elenco, não na estrutura”.

Para lá já partiram jogadores que tinham destaque em clubes tradicionais, casos de Ibson (Flamengo), Jô ­(Corinthians), Sassá (Botafogo) e Dentinho (Corinthians), entre outros.

O extraordinário Walter, capaz de vencer jogos com seu peso corporal invencível e sua técnica invejável proporcional, foi contratado pelo Amazonas em 2022, mas durou pouco tempo por lá. Depois disso, andou pelo Sul do País.

As idas e vindas e surpresas – nem sempre boas – são mesmo constitutivas desse esporte. Acaba de voltar ao noticiário, por exemplo, a história de ­Hazard, o craque belga considerado o melhor jogador da Copa do Mundo de 1998.

Imediatamente após a Copa, ele foi vendido do Chelsea para o Real Madrid. No time espanhol, sofreu com uma série de lesões – ele contabilizou 17 – e nunca conseguiu mostrar novamente seu futebol de driblador espetacular.

Agora, embora aposentado dos campos, volta a ser comentado porque o ­Real Madrid terá de pagar 5,8 milhões de euros ao Chelsea pela classificação para a final da Champions League.

O pagamento estava previsto no contrato de venda de Hazard, em 2019. Embora o contrato do valioso jogador tenha sido encerrado há quase um ano, quando ele decidiu pendurar as chuteiras, deve ser respeitado o que está previsto no contrato original, válido até 2024.

Esse episódio me fez lembrar de Rogério, atacante e companheiro desde o juvenil, que era chamado de bailarino por seus dribles e gestos espetaculares.

No Botafogo, Jairzinho jogava no meio do ataque e Rogério na ponta-direita. Imaginava-se que jogaria a Copa de 70, pela Seleção, mas não conseguiu se recuperar de uma lesão.

Como se vê, são comuns, no futebol, os jogadores talentosos que vagueiam pelo mundo da bola e, às vezes, desaparecem da nossa visão de forma quase inexplicável. •

Publicado na edição n° 1311 de CartaCapital, em 22 de maio de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Onça-pintada’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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