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Líder da ONU vê Oriente Médio “à beira do abismo”

Durante reunião do Conselho de Segurança, secretário-geral Guterres alerta para risco de uma guerra em grande escala e pede contenção. Irã diz não querer escalada do conflito, e Israel se vê no direito de responder

Líder da ONU vê Oriente Médio “à beira do abismo”
Líder da ONU vê Oriente Médio “à beira do abismo”
Antonio Guterres durante reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito entre Israel e Irã. Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou neste domingo (14/04) que a população do Oriente Médio enfrenta o perigo real de um “conflito devastador em grande escala” e apelou à “máxima contenção”, frisando que “é hora de recuar do abismo”.

Durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, convocada por Israel para abordar o ataque iraniano de sábado, Guterres alertou que os civis já estão “pagando o preço mais elevado”.

“É hora de recuar do abismo. É vital evitar qualquer ação que possa conduzir a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio”, apelou.

A mensagem do diplomata português foi reforçada com o lembrete de que o Direito internacional proíbe “ações de retaliação que incluam o uso da força”, no que pode ser entendido como um apelo tanto ao Irã como a Israel.

O Irã justificou seu ataque como um ato de retaliação pelo bombardeio do seu consulado em Damasco. Já Israel afirmou que se reserva o direito de responder aos ataques iranianos.

Irã: “Direito à autodefesa”

A reunião do Conselho de Segurança não estava avaliando nenhum projeto de resolução ou moção. Ela foi uma primeira convocação para discutir a situação, cerca de 24 horas após o ataque do Irã, a pedido de Israel. A reunião foi encerrada depois de todos os oradores se manifestarem.

Amir Saeid Iravani. embaixador do Irã na ONU.
Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP

Além dos representantes dos membros do Conselho, embaixadores de vários outros membros da ONU – incluindo Rússia, China, Coreia do Sul, Serra Leoa, Síria, Reino Unido, França, Argélia e outros – participaram da reunião em Nova York no final do domingo.

O embaixador iraniano nas Nações Unidas, Amir Saeid Jalil Iravani, declarou que seu país “não teve outra escolha senão exercer o seu direito à autodefesa”, ao justificar o ataque sem precedentes a Israel.

“O Conselho de Segurança falhou no seu dever de manter a paz e a segurança internacionais” ao não condenar o ataque de 1º de abril ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, declarou Iravani.

“Sob essas condições, a República Islâmica do Irã não teve outra escolha senão exercer o seu direito à legítima defesa”, disse, garantindo que Teerã não quer uma escalada do conflito, mas responderá a “qualquer ameaça ou agressão”.

Israel: “Direito legal de responder”

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, sublinhou que seu país tem agora direito à retaliação, apesar dos apelos do secretário-geral e de todos os países para que ambos os lados se contenham, e pediu “todas as sanções possíveis” ao Irã, “antes que seja tarde”.

“Este ataque ultrapassou todas as linhas vermelhas, e Israel reserva-se o direito legal de responder”, afirmou Erdan. “Depois de um ataque tão maciço contra Israel, o mundo inteiro, muito menos Israel, não pode ficar de braços cruzados. Defendemos o nosso futuro”, continuou Erdan, que agradeceu especificamente aos Estados Unidos pelo seu apoio.

Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU.
Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP

O gabinete de guerra de Israel se reuniu após o ataque, mas uma autoridade israelense disse à agência de notícias Associated Press que nenhuma decisão foi tomada. A agência de notícias Reuters informou que parece haver uma divisão no gabinete sobre o momento e a intensidade de uma resposta israelense.

EUA não querem escalada do conflito

O representante adjunto dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood, defendeu perante o Conselho a necessidade de condenar o ataque do Irã a Israel e sublinhou o interesse do seu país em reduzir a tensão na região.

“Nos próximos dias, os Estados Unidos vão explorar medidas adicionais para responsabilizar o Irã aqui nas Nações Unidas”, afirmou. Em todo o caso, Wood sublinhou que os Estados Unidos não querem uma escalada.

Robert Wood, representante dos EUA na ONU.
Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP

O representante dos EUA referiu-se ainda à situação na Faixa de Gaza e defendeu a necessidade de um cessar-fogo, de um acordo para a libertação dos reféns e de se aumentar a ajuda humanitária à população de Gaza.

O Irã lançou na noite de sábado um ataque a Israel com mais de 300 drones, mísseis de cruzeiro e balísticos, a grande maioria interceptados, segundo os militares israelenses. O ataque foi executado depois de um bombardeio, atribuído a Israel, ao consulado iraniano em Damasco, em 1º de abril, que matou sete membros da Guarda Revolucionária e seis cidadãos sírios.

O governo dos Estados Unidos já afirmou que não participará de qualquer represália de Israel ao ataque iraniano.

(Lusa, AFP, AP)

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