Mundo

Arábia Saudita confirma morte de Jamal Khashoggi

O procurador-geral saudita afirma que, segundo investigações, jornalista dissidente morreu após briga no consulado do país em Istambul

Arábia Saudita confirma morte de Jamal Khashoggi
Arábia Saudita confirma morte de Jamal Khashoggi
A explicação para a morte ainda não convence
Apoie Siga-nos no

A Arábia Saudita confirmou na noite da sexta-feira 19 a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, visto pela última vez ao entrar no consulado de seu país em Istambul no dia 2 de outubro. O caso gerou clamor internacional e criou tensões entre Riad e o Ocidente.

O anúncio foi feito na imprensa estatal saudita, mencionando os resultados preliminares de uma investigação oficial em curso no país árabe. O jornalista era conhecido por suas críticas à família real e ao príncipe herdeiro Muhammad bin Salman.

Em declaração, o procurador-geral saudita afirmou que a morte de Khashoggi foi ocasionada por uma briga entre ele e pessoas com quem ele se reuniu no consulado saudita na Turquia.

Leia também:
Jornalista saudita teria sido torturado por sete minutos
Quem será punido pelo desaparecimento do jornalista saudita?

“Uma discussão entre Jamal Khashoggi e aqueles com quem ele se encontrou no consulado do reino em Istambul se transformou em uma briga corporal, levando à sua morte”, diz a declaração do procurador-geral veiculada na mídia estatal.

É a primeira vez que o país admite a morte de Khashoggi, especulada por outros países. A Turquia, por exemplo, havia sugerido que o dissidente foi morto dentro do edifício do consulado. Riad, por sua vez, negou as alegações anteriormente, afirmando que Khashoggi deixara o prédio.

“As investigações ainda estão em curso, e 18 cidadãos sauditas foram presos”, acrescentaram as autoridades sauditas na declaração desta sexta-feira.

Riad informou ainda que, diante do escândalo, o conselheiro da corte real, Saud al-Qahtani, e o vice-chefe de inteligência do país, Ahmed Asiri, foram demitidos de seus cargos.

Além disso, o rei Salman ordenou a formação de um comitê ministerial, sob comando do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, para reestruturar a agência geral de inteligência saudita, informou a imprensa estatal do país.

O comitê incluirá os ministros do Interior e do Exterior, o chefe da agência de inteligência e o chefe de segurança doméstica. Segundo a ordem do rei, o grupo deve se reportar a ele dentro de um mês. 

O caso Khashoggi 

Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro para providenciar a documentação necessária para seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de seu noivo, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial.

Segundo a agência de notícias Associated Press, fontes turcas afirmaram temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul tenham assassinado e esquartejado Khashoggi, que teria ainda sido alvo de tortura.

Policiais turcos disseram à agência Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles visitaram o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício, e deixaram o país pouco tempo depois de seu desaparecimento.

O caso gerou repercussão internacional e elevou as tensões entre a Arábia Saudita e o Ocidente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou que o caso terá duras consequências para Riad, caso as autoridades do país estejam envolvidas na morte do dissidente.

Enquanto isso, uma série de executivos e altos funcionários governamentais cancelaram nesta quinta-feira sua participação numa conferência de investidores na Arábia Saudita, incluindo três ministros europeus e o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin. 

Quem é Jamal Khashoggi? 

O jornalista saudita se tornou conhecido por seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor de um ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal.

Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos.

Ele escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post. Em setembro do ano passado, Khashoggi explicou num artigo: “Abandonei minha casa, minha família e meu trabalho e estou erguendo a minha voz. Agir de outra forma significaria trair a todos aqueles que estão na prisão. Enquanto muitos não podem falar, eu posso”.

 DW_logo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo