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Memória/ A despedida de Abilio Diniz

O fundador do Grupo Pão de Açúcar morre aos 87 anos em São Paulo

Memória/ A despedida de Abilio Diniz
Memória/ A despedida de Abilio Diniz
Imagem: Redes sociais
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Um dos empresários mais influentes do País, Abilio Diniz faleceu no domingo 18, aos 87 anos, vítima de uma parada respiratória. O fundador do Grupo Pão de Açúcar estava internado há cerca de um mês no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde tratava complicações de uma pneumonia adquirida durante uma temporada em Aspen, nos EUA.

Diniz começou a trajetória profissional na adolescência, auxiliando o pai em uma modesta doceria paulistana, a Pão de Açúcar, que mais tarde se transformou em uma das maiores redes de varejo do Brasil. O primeiro supermercado foi inaugurado em 1959, com um modelo inovador trazido dos EUA: o próprio cliente escolhia os produtos nas prateleiras, em vez de solicitar ao vendedor no balcão, como se fazia à época. No início dos anos 1970, inspirado pela bem-sucedida experiência do Carrefour na França, ele inaugurou o Jumbo, o primeiro hipermercado do País.

Em 2013, Diniz renunciou ao cargo de presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar após um acordo litigioso com seu principal parceiro comercial, o grupo varejista francês Casino. Na ocasião, vendeu ações que detinha e começou a investir em outras empresas, como a BRF, da qual foi chefe do Conselho de Administração até 2018, e o Carrefour, do qual se tornou o segundo maior acionista, com 8,7% das cotas. Em 2022, a fortuna do empresário foi estimada pela Forbes em 2,7 bilhões de dólares.

Próximo do poder desde o governo do ditador João Baptista Figueiredo, Diniz praticava várias modalidades esportivas e chegou a escrever livros incentivando um estilo de vida saudável. Em 2022, sofreu uma tragédia familiar, com a morte repentina do filho João Paulo Diniz, aos 58 anos. ­Triatleta, o investidor sofreu um infarto após sair para uma corrida em Paraty, no litoral fluminense. Nas redes sociais, o pai enlutado descreveu a perda como o “golpe mais duro” de sua vida. E foi numa estação de esqui que Abilio Diniz sentiu os primeiros sintomas da doença que o vitimou.

Werneck Vianna

Autor de obras referenciais, entre elas Liberalismo e Sindicato no Brasil, Luiz Werneck Vianna perfilava-se à tradição de acadêmicos presentes no debate público. Filiado ao Partido Comunista na juventude, exilou-se no Chile no fim dos anos 1960, para escapar da repressão da ditadura. Após o regresso, em 1971, dedicou-se aos estudos da realidade do País. Trabalhou no Cebrap, concluiu o doutorado, contribuiu para o programa do MDB em 1974, lecionou em inúmeras universidades e escreveu com assiduidade nos jornais. Atualmente estava ligado ao Departamento de Sociologia da PUC do Rio de Janeiro. Vianna morreu na quarta-feira 21, aos 86 anos.

Racismo/ A vítima no camburão

PM gaúcha prende motoboy negro esfaqueado por agressor branco

Everton da Silva foi arrastado para o navio negreiro – Imagem: Redes sociais

A cena é de uma crueza espantosa. A vítima negra dentro do camburão, o agressor branco no banco de passageiro da viatura. Eis o desfecho de uma ocorrência atendida por uma equipe da Brigada Militar do Rio Grande do Sul no sábado 17, em Porto Alegre, logo após o motoboy Everton da Silva ser esfaqueado pelo aposentado Sérgio Kupstaitis.

Segundo testemunhas, o idoso tinha um histórico de desavenças com Everton, que costumava estacionar sua moto nas imediações do prédio onde vive. No sábado 17, Kupstaitis aproximou-se com uma faca para atacar o ­motoboy, que acabou ferido no pescoço. Ao chegar no local, os policiais não tiveram dúvida de quem deveria ser conduzido no compartimento fechado da viatura. Transeuntes protestaram, escandalizados, com a discriminação.

A Brigada Militar abriu sindicância para investigar a conduta dos PMs. O governador Eduardo Leite cobrou celeridade nas apurações. Já a Polícia Civil indiciou ambos, o aposentado e o motoboy, por lesão corporal, mencionando agressões “recíprocas”. Não esclareceu, porém, quais ferimentos Kupstaitis teria sofrido . Em uma imagem registrada pelo professor de Filosofia Renato Levin-Borges, o aposentado aparece sorrindo, conversando com duas policiais, enquanto o motoboy era arrastado à força para o interior do navio negreiro.

Fim das saidinhas

O Senado aprovou, na ­terça-feira 20, o Projeto de Lei que restringe o benefício da saída temporária para presos condenados. O placar foi de 62 votos favoráveis e 2 contrários, além de uma abstenção. A matéria terá de ser analisada novamente pela Câmara dos Deputados, que aprovou outra redação do mesmo projeto em 2022. O texto mantém apenas a autorização para estudos em cursos profissionalizantes, de ensino médio e de ensino superior. O projeto também exige o exame criminológico feito por psiquiatra, psicólogo e assistente social para a progressão de regime ou para o livramento condicional. Especialistas e entidades de direitos humanos manifestam preocupação com a iniciativa, que pode retardar a ressocialização dos detentos e aumentar ainda mais a população carcerária.

Sistema carcerário/ Sucessão de erros

Falhas de segurança facilitaram a fuga de detentos de Mossoró

As buscas completaram uma semana sem muito progresso – Imagem: PMRN/Polícia Federal

Mesmo com a mobilização de 600 agentes, as forças de segurança não conseguiram localizar os fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró até a terça-feira 20, quando as buscas completaram uma semana. Integrantes do Comando Vermelho, Deibson Nascimento e Rogério Mendonça deixaram roupas para trás na Serra de Mossoró, invadiram duas casas e foram avistados por um morador do Vilarejo Primavera. Esse último ponto fica a 19 quilômetros do presídio. A Polícia Federal usa drones com sensores térmicos, mas as chuvas intensas e a grande quantidade de cavernas na região de mata fechada dificultam o trabalho.

Os investigadores acreditam que os detentos usaram vergalhões de ferro retirados de uma bancada de alvenaria para escavar o buraco por onde escaparam. Para cortar o alambrado externo, podem ter utilizado ferramentas deixadas em uma obra. Acredita-se que os fugitivos receberam auxílio de agentes penitenciários e relatórios produzidos em 2021 e 2023 já apontavam falhas de segurança, como a existência de mais de uma centena de câmeras de vigilância inoperantes ou com defeito. Esta foi a primeira fuga em um presídio de segurança máxima da União. Nas unidades estaduais, elas são mais frequentes. Na mais recente delas, 17 presos escaparam de uma penitenciária em Bom Jesus, no Piauí, na segunda-feira 19.

Argentina/ Desastre social

Pobreza alcança 57% da população e Milei reajusta o salário mínimo

A inflação acima de 250% ao ano corrói o poder de compra dos argentinos – Imagem: Juan Mabromata/AFP

Em janeiro, 57% da população argentina vivia em situação de pobreza, o maior patamar em 20 anos, segundo projeções do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina. Os indigentes representavam 15%. Esses indicadores crescem de forma progressiva há mais de uma década no país, mas dispararam nos últimos dois meses, impulsionados pela explosão de preços após o ajuste ortodoxo do presidente ­Javier Milei, ultradireitista que prometeu em campanha acabar com os subsídios do Estado para serviços essenciais, além de manejar a navalha nos programas sociais.

Na tentativa de conter o estrago, em um contexto de inflação anual acima dos 250%, ­Milei anunciou o reajuste do salário mínimo, que a partir de março será de 202,8 mil pesos (cerca de 1.136 reais), alta de 30%. Principal organização sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho, a CGT, considera o aumento insuficiente diante dos altos índices inflacionários do país. A entidade reivindicava uma elevação de 85% do valor, para compensar a perda do poder de compra nos últimos meses.

Daniel Alves condenado

A Justiça espanhola divulgou na quinta-feira 22 a pena por estupro do ex-jogador Daniel Alves. Ele ficará preso em regime fechado por quatro anos e seis meses e será monitorado por cinco anos depois de deixar a cadeia. O Ministério Público havia pedido 12 anos, mas a juíza do caso considerou como atenuante o pagamento de uma multa de 150 mil euros, cerca de 900 mil reais, quantia a ser destinada à vítima por danos morais e lesões. Durante quase uma década, Alves estará proibido de se aproximar a uma distância de 1 quilômetro ou tentar manter contato com a mulher agredida.

Haiti/ Complô doméstico?

Juiz acusa viúva e ex-premier pelo assassinato do presidente Moïse

O líder haitiano foi executado a tiros em sua residência, em 2021 – Imagem: Valerie Baeriswyl/AFP

Em relatório divulgado na segunda-feira 19, a Justiça do Haiti acusa cerca de 50 ­pessoas pelo assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, incluindo a viúva Martine Moïse e o então primeiro-ministro Claude Joseph. No texto de 122 páginas, o juiz Walther Wesser diz que ­Martine conspirou com Joseph para matar o chefe de Estado, a fim de substituí-lo. O curioso é que ela chegou a ser baleada no atentado, quando homens armados invadiram a residência do casal em Porto Príncipe, na noite de 7 de julho de 2021.

A ex-primeira-dama e o ex-premier negam as acusações e se declaram vítimas de uma perseguição política. Ao jornal Miami Herald, Joseph lembra que o sucessor de fato do presidente, o atual primeiro-ministro Ariel Henry, foi o principal beneficiário da morte de Moïse e agora estaria “utilizando o sistema judiciário haitiano” contra opositores numa tentativa de se perpetuar no poder. Henry, por sua vez, escalou um porta-voz para dizer que o juiz é “livre para emitir sua ordem de acordo com a lei e sua consciência”.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 28 de fevereiro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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