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Paris tem três dias de estoque de alimentos para enfrentar cerco de agricultores

Trabalhadores do setor agrícola estão revoltados com a concorrência dos produtos importados e as rigorosas normas ambientais europeias, que eles acusam de encarecer a produção, ao mesmo tempo em que sofrem pressão de industriais e varejistas para vender a preços baixos

Paris tem três dias de estoque de alimentos para enfrentar cerco de agricultores
Paris tem três dias de estoque de alimentos para enfrentar cerco de agricultores
Torre Eiffel Foto: ALAIN JOCARD / AFP A torre Eiffel. Foto: ALAIN JOCARD / AFP
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Os agricultores franceses iniciam a semana com bloqueios a estradas de acesso a Paris, Lyon e Bordeaux. Para evitar o cerco de tratores à capital francesa e caos no trânsito, o governo mobilizou 15 mil policiais e alertou que não permitirá o bloqueio das vias de acesso a aeroportos e à central de abastecimento de Rungis, na região parisiense.

As medidas anunciadas na sexta-feira (26) pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, entre elas, a manutenção da vantagem fiscal sobre o óleo combustível dos tratores, foi considerada insuficiente. O chefe de governo se reúne nesta segunda-feira (29) com líderes de sindicatos do setor para avaliar novas medidas, mas os agricultores mantêm a pressão por tempo indeterminado, com um plano de bloquer oito estradas e rodovias de acesso a Paris. A cidade tem apenas três dias de estoque de alimentos para abastecer a população.

O “cerco a Paris”, convocado pela Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA) e pelo sindicato Jovens Agricultores, é manchete na imprensa nesta segunda-feira (29).

Determinados, o setor alega que continua à espera de medidas concretas para trabalhar e viver melhor. “500 euros por mês, não podemos conviver com isso”, intitula o jornal L’Humanité.

Maior jornal regional da França, o Ouest-France, diz que a revolta iniciada na região de Toulouse, no sudoeste, estende-se a Paris. “A tensão cresce entre os agricultores e o Executivo”, constata o Le Figaro, enquanto o diário econômico Les Echos vê um risco de escalada, uma vez que o primeiro-ministro passou o fim de semana em contato com agricultores, fez uma série de concessões, mas não conseguiu satisfazer a categoria.

Importações de frango do Brasil

O jornal Le Parisien traz a manchete “Operação cerco a Paris” e mostra que a crise envolvendo os produtores franceses de frango simboliza a revolta atual. Mais de 50% do frango consumido na França é proveniente atualmente de concorrentes europeus e de países de fora da União Europeia, devido à falta de competitividade do produto nacional. “Isto representa € 1,5 bilhão de importações por ano”, destaca a reportagem.

Os agricultores consideram essa situação paradoxal, já que os franceses nunca consumiram tanto esse produto: 22,5 kg anuais por habitante. O frango inteiro tradicional já não interessa mais ao consumidor, que prefere o corte do filé em bandeja.

Polônia, Alemanha, Holanda e Bélgica aumentaram substancialmente a produção da ave e ganharam mercado no exterior com esse corte. Além disso, os franceses enfrentam a concorrência do frango proveniente do Brasil e da Tailândia. Em entrevista ao Le Parisien, Yann Nédélec, diretor de uma associação de produtores, alega que o Brasil autoriza o uso de antibióticos para acelerar o crescimento das aves, o que é proibido pelas normas europeias.

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