Sociedade

Os Jogos Olímpicos do machismo

Dar destaque maior a atletas bonitas em detrimento de esportistas melhores é um absurdo jornalístico

Os Jogos Olímpicos do machismo
Os Jogos Olímpicos do machismo
A revista espanhola "Interviú", especializada em mulheres nuas, conseguiu convencer duas atletas olímpicas a aparecer na capa da edição atual. Foto: Reprodução
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Os Jogos Olímpicos de Londres expõem de forma intensa uma característica um tanto lamentável do jornalismo esportivo, o machismo. No Brasil e no exterior, veículos de imprensa abusam de fotos e notícias cujo destaque é a beleza do corpo de determinadas competidoras e não sua capacidade atlética. É uma contradição da própria função do jornalismo, provocada por uma série de fatores.

O machismo aparece principalmente nos portais de notícias na internet e nas versões online das publicações. Assim, um óbvio causador deste fenômeno é o culto ao “clique”, existente em todo o mundo e particularmente relevante no Brasil. A lógica é a seguinte: se a sua peça jornalística não tem um determinado número de acessos, ela é irrelevante.

Assim, melhor do que entrevistar especialistas para mostrar como o corpo da norte-americana Missy Franklin é perfeito para a natação, é fazer uma galeria de fotos com atletas gostosas, como esta do jornal italiano Gazzetta dello Sport. O trabalho é muitas vezes facilitado pelas agências de notícias, que no vôlei de praia (esporte no qual as mulheres podem usar biquínis) chegam ao cúmulo de cortar a cabeça das atletas de uma foto e destacar o bumbum. Além de fácil, as galerias são rápidas e, o principal, dão muitos cliques.

Soma-se à busca ansiosa pela audiência (mesmo que de baixo nível), o fato de algumas atletas não se importarem em aparecer para o público graças a seus atributos físicos, e não atléticos. A revista espanhola Interviú publica nesta semana uma reportagem sobre alguns dos principais temas do esporte olímpico, como a remuneração dos atletas e o doping. As principais personagens da reportagem são Patricia Sarrapio, que vai representar a Espanha no salto triplo, e Ana Torrijos, corredora que se machucou e não vai aos Jogos. Como o texto é ilustrado? Com fotos de Patricia e Ana, juntas e completamente nuas, em paisagens londrinas.

Dar um destaque maior, na cobertura das Olimpíadas, a atletas bonitas em detrimento de outras que sejam esportistas melhores, consiste um absurdo jornalístico. A função básica do jornalismo é avaliar e explicar à população o que é ou não relevante em determinado assunto, e com o esporte não deveria ser diferente. Fazer isso é tratar o esporte como algo pouco sério.

Os Jogos Olímpicos de Londres expõem de forma intensa uma característica um tanto lamentável do jornalismo esportivo, o machismo. No Brasil e no exterior, veículos de imprensa abusam de fotos e notícias cujo destaque é a beleza do corpo de determinadas competidoras e não sua capacidade atlética. É uma contradição da própria função do jornalismo, provocada por uma série de fatores.

O machismo aparece principalmente nos portais de notícias na internet e nas versões online das publicações. Assim, um óbvio causador deste fenômeno é o culto ao “clique”, existente em todo o mundo e particularmente relevante no Brasil. A lógica é a seguinte: se a sua peça jornalística não tem um determinado número de acessos, ela é irrelevante.

Assim, melhor do que entrevistar especialistas para mostrar como o corpo da norte-americana Missy Franklin é perfeito para a natação, é fazer uma galeria de fotos com atletas gostosas, como esta do jornal italiano Gazzetta dello Sport. O trabalho é muitas vezes facilitado pelas agências de notícias, que no vôlei de praia (esporte no qual as mulheres podem usar biquínis) chegam ao cúmulo de cortar a cabeça das atletas de uma foto e destacar o bumbum. Além de fácil, as galerias são rápidas e, o principal, dão muitos cliques.

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