Política
Em reunião com ministros, Lula cobra ‘esforço maior’ para conter ‘novo massacre’ de yanomamis
Menos de um ano depois da operação que expulsou 20 mil pessoas da região, atividades de extração de minérios foi retomada


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realiza uma reunião com ministros de Estado para debater as condições das terras yanomami em Roraima. O encontro ocorre na manhã desta terça-feira 9 e, já no discurso de abertura, teve tom de cobrança.
Segundo Lula, o encontro “é para fazer uma revisão do que foi feito ano passado” no combate ao garimpo “e o que temos que fazer a partir de hoje”. Em declarações registradas nesta manhã, Lula afirmou que as terras indígenas “têm dono” e que usará “todo o poder da máquina pública” para combater as atividades de garimpo ilegal na região demarcada.
“Vamos ter que fazer um esforço ainda maior, utilizar todo o poder que a máquina pública pode ter, porque não é possível que a gente possa perder uma guerra para garimpo ilegal, madeireiro ilegal, para pessoas que estão fazendo coisas contra o que a lei determina. Temos territórios indígenas demarcados”, disse o presidente, na abertura da reunião ministerial.
“Essa reunião aqui é para definir, de uma vez por todas o que nosso governo vai fazer para evitar que indígenas brasileiros continuem sendo vítima de massacre”, cobrou Lula. “[Definir o que fazer com] as pessoas que querem invadir as áreas que estão preservadas e que têm dono — que são os indígenas — e que não podem ser utilizadas”, completou.
Participam da reunião, ao todo, 14 ministros, incluindo Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça) e Nísia Trindade (Saúde). Há ainda a presença de representantes dos militares do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Funai e Ministério dos Povos Originários estão, também, em local de destaque no encontro.
Nova crise
Menos de um ano depois da realização de uma série de grandes operações, que expulsou 20 mil pessoas envolvidas na exploração ilegal das terras indígenas, um retorno dos garimpeiros para a região está sendo registrado.
Imagens do Ibama mostram que os garimpos que foram desativados à época, voltaram às atividades. A volta dos garimpeiros coincide com uma piora na saúde dos yanomamis, que ainda sofrem com a malária e desnutrição.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, de janeiro a outubro de 2023, 215 yanomamis morreram. Destes, 90 faleceram por causas infecciosas, como pneumonia e malária.
Segundo a Polícia Federal, somente em 2013, foram realizadas 175 prisões relacionadas ao garimpo ilegal em terras yanomamis e 589 milhões de reais em bens apreendidos. Outros 173 autos de infração foram lavrados contra garimpeiros, o que resultou mais de 60 milhões em multas.
Em dezembro, a Justiça Federal de Roraima determinou que o governo federal apresentasse um cronograma de ações contra o garimpo ilegal na terra indígena.
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