Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

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Gosto mesmo é das coisas pequenas de São Paulo, como o velhinho que ainda coloca meia-sola nos sapatos na Rua Fábia

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Foto: Alberto Villas
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Foi voando de Zurique para o Rio de Janeiro, naquele avião da Varig, depois de uma década fora do País, que me passou pela cabeça morar em São Paulo.

Não conhecia.

Só conhecia de ouvir falar. Falar mal. Comentavam os engarrafamentos, a poluição, a violência, essas coisas. Num tempo em que os engarrafamentos eram provocados por Fuscas, Opalas, Landaus, Brasílias e Itamaratys.

Não se falava em aquecimento global e não havia relógios instalados nas ruas indicando que a qualidade do ar era ruim ou péssima.

A violência, essa era para arrancar uns trocados da vítima, quando os ladrões ainda anunciavam mãos ao alto!

Eu tinha medo de São Paulo, como bom mineiro, apesar de ter corrido mundo, corrido perigo. Não sei por que eu imaginava que morar em São Paulo era acordar às sete horas da manhã, enfiar um terno e sair pra trabalhar, sem ter hora para voltar pra casa.

Não queria essa vida, mas mesmo assim arrisquei vir morar aqui, isso já faz mais de quarenta anos.

São Paulo para mim era a terra da garoa, o túmulo do samba, mas aos poucos fui me acostumando com os torós e com o samba de Adoniran Barbosa e Geraldo Filme.

Nunca fiquei com um carro engarrafado, porque nunca dirigi um automóvel, nunca tive problemas de respiração e nunca fui assaltado. Por incrível que pareça.

Eu gosto muito desta loucura e dessa coisa imensa, dos seiscentos e tantos restaurantes japoneses da cidade, por exemplo.

Mas, pensando bem, o que eu gosto mesmo é das coisas pequenas, dos detalhes dessa cidade. O velhinho que ainda coloca meia-sola nos sapatos na Rua Fábia, o outro que ainda encaderna revistas em Higienópolis, o seu Neném que abre o capô e só num olhar já diz o problema que o carro tem.

Sou apaixonado pelos passarinhos da cidade, pela quantidade de sabiás-laranjeira que vivem no jardim do meu prédio, dos canarinhos amarelos e dos beija-flores que toda manhã estão aqui na minha varanda bebendo água.

Sábado passado, eu fui na Cobasi, o paraíso dos bichos, comprar ração, biscoitinhos e um macaco de pelúcia pro Canela.

Sempre passo pela seção de passarinhos, todos presos em viveiros que o politicamente correto nunca mais me autorizou a ter.

E foi num dos viveiros que localizei uma passarinha, não sei a raça, chocando num ninho minúsculo. Fiquei observando e quando ela saiu pra beliscar uns grãos de areia no chão, vi que tinham dois ovinhos.

Intrigada com minha curiosidade, ela voltou voando e se acomodou em cima deles, parece que posando pra foto que consegui fazer. Não ficou muito boa, mas registei esse flagrante de São Paulo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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