Cultura

assine e leia

Crônicas de tempos difíceis

O mais novo disco de Chico Buarque nasce de um show pensado como uma forma de resistir à crise do país

Crônicas de tempos difíceis
Crônicas de tempos difíceis
Nas plataformas. Que Tal Um Samba – Ao Vivo traz o compositor ao lado da cantora Mônica Salmaso – Imagem: Leo Aversa
Apoie Siga-nos no

Quando Chico Buarque caiu na estrada com a turnê de Que Tal Um Samba?, dia 6 de setembro de 2022, em João Pessoa (PB), o Brasil vivia “uma página infeliz da nossa história”. Mais que uma performance de um dos maiores compositores do País, Chico, que dividia o palco com Mônica ­Salmaso, apresentava um hino de resistência.

Boa parte das três dezenas de canções enfileiradas durante o espetáculo faziam referência, direta ou indiretamente, à situação política do País. Mas apontavam, acima de tudo, para a crença de que tempos melhores viriam. Logo no início do show, Mônica cantava: Todos juntos somos fortes/ Somos flechas, somos arco/ Todos nós no mesmo barco/ Não há nada para temer.

O disco Que Tal Um Samba? – Ao Vivo, que chegou na sexta-feira 24 às plataformas de streaming e em breve terá uma edição física, foi gravado em tempos menos nebulosos, durante as apresentações do compositor, Mônica e banda em fevereiro deste ano, no Rio. Mas o manifesto político continuava firme.

Embora o repertório autoral de Chico tenha se esvaído ao longo dos anos, ele ainda é um dos principais cronistas musicais do País. Seja em canções pontuais como Bancarrota Blues e Que Tal Um Samba?, seja na abordagem figurada – casos de Meu Guri e João e Maria –, ele expressa opiniões e elabora críticas e demonstra esperança.

Historicamente avesso ao palco, Chico teve, em Mônica Salmaso, uma companheira dos sonhos. Embora não negue a admiração rasgada pelo autor, ela porta-se em pé de igualdade, seja nas interpretações solo – sua versão de Beatriz é de arrancar lágrimas –, seja nos duos – caso de Biscate, que acabou por se tornar um tributo a Gal Costa.

Chico e Mônica são ladeados por uma banda magnífica, comandada por Luiz Cláudio Ramos (violão e direção musical), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera e Jurim Moreira (percussão e bateria), Jorge Helder (baixo e bandolim), João Rebouças (piano e cavaquinho) e Marcelo Bernardes (saxofone, flauta e clarinete).

E nessa avenida em que nos acostumamos a ver passar, entre as agruras da realidade, um samba popular, Mônica, em Maninha, ainda nos oferece o prazer de ouvi-la dizer: Que um dia ele vai embora, Maninha/ Pra nunca mais voltar. No show, o ponto alto era quando ela simulava um chute ao entoar esses versos. Que chegue logo a versão em DVD, prevista para o primeiro semestre de 2024, para que possamos todos ver esta cena. •

Publicado na edição n° 1288 de CartaCapital, em 06 de dezembro de 2023.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo