Cultura

O demônio da perfeição

Antes de procurar um tema, Stanley Kubrick dizia buscar ‘os estados de ânimo e as sensações’

O demônio da perfeição
O demônio da perfeição
Stanley Kubrick. Antes de procupar um tema, ele dizia buscar "os estados de ânimo e as sensações"
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Stanley Kubrick (1928-99) tinha as piores notas da classe. Em vez de se enfurecer, seu pai, um médico de Nova York, ensinou-o a jogar xadrez e deu-lhe uma máquina fotográfica. A história do cinema agradece.

Fotógrafo compulsivo, aos 16 anos Kubrick vendeu uma imagem à revista Look e tornou-se seu colaborador. De um ensaio fotográfico sobre boxe que fez para a revista originou-se seu documentário Day of Fight (1951). Dois anos depois dirigia seu primeiro longa de ficção, Medo e Desejo. O prestígio conquistado com A Morte Passou por Perto e O Grande Golpe credenciou-o a dirigir o antiépico Glória Feita de Sangue (1957).

De herdeiro do cinema noir, Kubrick passou a autor original e independente, transitando com grande sentido do espetáculo pelos mais variados gêneros: do épico romano (Spartacus) ao conto moral (Lolita), da ficção científica (2001) ao drama de época (Barry Lyndon), do terror (O Iluminado) ao filme de guerra (Nascido para Matar).

À coragem de tocar em temas tabus – a pedofilia em Lolita, o pânico nuclear em chave de humor negro em Dr. Fantástico, a ultraviolência moderna em Laranja Mecânica – unia-se um perfeccionismo obsessivo.

Chegava a repetir cem vezes uma tomada. Usou lentes da Nasa para filmar Barry Lyndon à luz de velas e desenvolveu a steadycam para os apavorantes travellings de O Iluminado. “Um filme deve ser uma progressão de estados de ânimo e sensações. O tema, o significado, tudo isso vem depois”, dizia.

Autoexilado na Inglaterra, tinha fama de misantropo. Talvez porque seus filmes, em qualquer gênero, focalizassem o lado negro da alma humana.

DVDs

Glória Feita de Sangue (1957)


Na Primeira Guerra Mundial, soldados franceses se recusam a travar uma batalha suicida e são condenados ao fuzilamento. Seu comandante, o coronel Dax (Kirk Douglas), se insurge em sua defesa. Poderosa parábola pacifista de Kubrick. A alemã que canta para os soldados na cena final, Susanne Christian, se tornaria sua mulher.

2001, uma Odisseia no Espaço (1968)


Marco da ficção científica, uma viagem em torno do mistério do Universo que começa com o surgimento de um monólito a primatas pré-históricos e acaba numa missão espacial controlada pelo sinistro computador HAL-9000. A música sinfônica e os efeitos visuais marcaram época.

Laranja Mecânica (1971)


Num futuro indefinido, o delinquente juvenil Alex (Malcolm McDowell), depois de cometer atos brutais com sua gangue, é submetido a um tratamento de choque pelo Estado, à guisa de reeducação. Baseado em romance de Anthony Burgess, o filme causou controvérsia por sua ultraviolência e Kubrick chegou a ser ameaçado de morte.

Stanley Kubrick (1928-99) tinha as piores notas da classe. Em vez de se enfurecer, seu pai, um médico de Nova York, ensinou-o a jogar xadrez e deu-lhe uma máquina fotográfica. A história do cinema agradece.

Fotógrafo compulsivo, aos 16 anos Kubrick vendeu uma imagem à revista Look e tornou-se seu colaborador. De um ensaio fotográfico sobre boxe que fez para a revista originou-se seu documentário Day of Fight (1951). Dois anos depois dirigia seu primeiro longa de ficção, Medo e Desejo. O prestígio conquistado com A Morte Passou por Perto e O Grande Golpe credenciou-o a dirigir o antiépico Glória Feita de Sangue (1957).

De herdeiro do cinema noir, Kubrick passou a autor original e independente, transitando com grande sentido do espetáculo pelos mais variados gêneros: do épico romano (Spartacus) ao conto moral (Lolita), da ficção científica (2001) ao drama de época (Barry Lyndon), do terror (O Iluminado) ao filme de guerra (Nascido para Matar).

À coragem de tocar em temas tabus – a pedofilia em Lolita, o pânico nuclear em chave de humor negro em Dr. Fantástico, a ultraviolência moderna em Laranja Mecânica – unia-se um perfeccionismo obsessivo.

Chegava a repetir cem vezes uma tomada. Usou lentes da Nasa para filmar Barry Lyndon à luz de velas e desenvolveu a steadycam para os apavorantes travellings de O Iluminado. “Um filme deve ser uma progressão de estados de ânimo e sensações. O tema, o significado, tudo isso vem depois”, dizia.

Autoexilado na Inglaterra, tinha fama de misantropo. Talvez porque seus filmes, em qualquer gênero, focalizassem o lado negro da alma humana.

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Glória Feita de Sangue (1957)


Na Primeira Guerra Mundial, soldados franceses se recusam a travar uma batalha suicida e são condenados ao fuzilamento. Seu comandante, o coronel Dax (Kirk Douglas), se insurge em sua defesa. Poderosa parábola pacifista de Kubrick. A alemã que canta para os soldados na cena final, Susanne Christian, se tornaria sua mulher.

2001, uma Odisseia no Espaço (1968)


Marco da ficção científica, uma viagem em torno do mistério do Universo que começa com o surgimento de um monólito a primatas pré-históricos e acaba numa missão espacial controlada pelo sinistro computador HAL-9000. A música sinfônica e os efeitos visuais marcaram época.

Laranja Mecânica (1971)


Num futuro indefinido, o delinquente juvenil Alex (Malcolm McDowell), depois de cometer atos brutais com sua gangue, é submetido a um tratamento de choque pelo Estado, à guisa de reeducação. Baseado em romance de Anthony Burgess, o filme causou controvérsia por sua ultraviolência e Kubrick chegou a ser ameaçado de morte.

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