Cultura
Prêmio Jabuti desclassifica livro ilustrado com inteligência artificial
Edição de ‘Frankenstein’ do Clube de Literatura Clássica disputava o prêmio na categoria Ilustração; design responsável diz que o uso da ferramenta era conhecido
A Câmara Brasileira do Livro, organizadora do Prêmio Jabuti, decidiu desclassificar Frankenstein, editado pelo Clube de Literatura Clássica, da disputa pelo prêmio de Melhor Ilustração do ano. A decisão foi comunicada nesta sexta-feira 10, após a entidade constatar que a obra utilizou ferramentas de inteligência artificial.
“As regras da premiação estabelecem que casos não previstos no Regulamento sejam deliberados pela Curadoria, e a avaliação de obras que utilizam IA em sua produção não estava contemplada nessas regras”, informou a Câmara. A obra disputava a semifinal. Os finalistas serão conhecidos em 2 de dezembro e a cerimônia de entrega do Jabuti ocorrerá em 5 de dezembro, no Theatro Municipal de São Paulo.
Diante do avanço no uso de inteligência artificial em diversos setores, a CBL frisou que casos dessa natureza deverão ser discutidos nos próximos anos.
Entenda o caso
A obra, de autora da britânica Mary Shelley (1797-1851), foi editada pelo Clube e contou com a participação do designer Vicente Pessôa. A edição desclassificada tinha cerca de 50 imagens.
O designer sustenta não ter informado à CBL sobre o uso de IA no processo porque não foi questionado. Entretanto, ressaltou que a característica foi divulgada no lançamento da nova edição de Frankenstein, em 2022. Segundo ele, as ilustrações nasceram de uma ferramenta conhecida como Midjourney, por meio de prompts, que são comandos fornecidos à IA.
Na última quinta-feira 9, quando a CBL divulgou a lista de indicados ao Jabuti, Pessôa fez uma publicação nas redes sociais sobre o tema. “Gosto de polêmica, gosto de gente chorando, esperneando, rasgando as vestes. Divulga meu nome e o Clube. Eu só acho que os ilustradores que estão achando realmente ruim [o uso de ferramentas de IA] vão ficar para trás”, comentou, antes de ser desclassificado.
O júri responsável por analisar as obras finalistas na categoria Ilustração é composto por André Dahmer, Eduardo Baptistão e Lucia Mindlin Loeb.
O Prêmio Jabuti foi criado em 1958. Atualmente, a CBL premia 21 categorias, divididas em quatro eixos: literatura, não ficção, produção editorial e inovação.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.