

Opinião
Material de escritório
O meu pai só não tinha post-it porque no tempo dele ainda não havia post-it. Hoje, ele teria de todas as cores, inclusive as cores pastel


Ganhei um carimbo personalizado para marcar os meus livros e fiquei encantado. Até o dia em que vi que a tinta da almofadinha tinha acabado e o carimbo já não carimbava mais.
Será que ainda existe tinta para carimbo no comércio?
Fiz uma busca rápida online e percebi que existe, sim. Pensei: claro, os carimbos ainda existem. Mas eu, sinceramente, achei que os carimbos de hoje não precisavam de tinta.
Fiquei surpreso ao chegar na Lapapel, o paraíso do material de escritório, e perguntar pela tal tinta de carimbo. Qual foi minha surpresa quando o vendedor perguntou de que cor? Fiquei sabendo que a tinta para carimbo resistiu ao tempo e até ganhou cores. Criança, eu só conhecia o carimbo com tinta preta.
Voltei pra casa carregando aquele saquinho plástico verde, dentro dele um tubinho de tinta preta da marca Pilot, e pensando no material de escritório.
O meu pai era o rei do material de escritório. Tinha tudo. Grampeador, clips dos mais variados, gominhas (é assim que o mineiro chama o elástico), trena, régua, compasso, esquadro, durex, mata-borrão, apontador, tinta pra caneta Quink Azul Real Lavável, nanquim, uma infinidade de lápis, lapiseiras, tesouras, estiletes, tachinhas comuns e tachinhas com cabecinhas coloridas, não faltava nada no escritório do meu pai.
Tinha até um normógrafo, uma maquininha para etiquetar, da Dymo, e um furador, daqueles que faziam dois furinhos no papel pra gente encaixar no classificador. Nunca mais vi um.
O meu pai só não tinha post-it porque no tempo dele ainda não havia post-it. Hoje, ele teria de todas as cores, inclusive as cores pastel.
O meu pai não deixava faltar nada no escritório dele. Quando percebia que a caixinha de clips estava acabando, ia lá e comprava logo umas três de uma vez.
Papel, ele tinha de todos os tipos. Brancos, coloridos, pautados, quadriculados, além de papel de rascunho, mais vagabundo, e bloquinhos de recado de todo tipo.
Hoje fico pensando como seria o escritório do meu pai. Será que apenas um computador em cima da escrivaninha, uma impressora e algumas folha de papel? Que triste!
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.