GLO/ Atacado das drogas na mira

Mais de 3,7 mil militares foram destacados para reforçar o patrulhamento de portos e aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro a partir da segunda-feira 6, quando entrou em vigor um decreto de operação de Garantia da Lei e da Ordem assinado por Lula em 1º de novembro. Com poder de polícia, homens das Forças Armadas poderão realizar inspeções em aviões e navios, acompanhar a movimentação de cargas, revistar suspeitos e efetuar prisões em flagrante.

A operação estende-se até 3 de maio de 2024 e visa impedir o tráfico de drogas e armas, asfixiando financeiramente as organizações criminosas que atuam no País. Ao todo, 2 mil homens do Exército, 1,1 mil da Marinha e 600 da Aeronáutica reforçarão o policiamento dos portos de Itaguaí, Rio de Janeiro e Santos, e dos aeroportos internacionais do Galeão e de Guarulhos. Fora do escopo da GLO, as Forças Armadas também devem intensificar o monitoramento das fronteiras.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, descartou, porém, a possibilidade de militares serem mobilizados para atuar em comunidades controladas por traficantes ou milicianos no Rio. “Não vamos substituir as polícias estaduais”. Com esse novo modelo, as forças federais deixam de atuar no combate ao varejo do crime para focar nos grandes distribuidores de armas e drogas.

Nem as igrejas passam incólumes

A Igreja de São Francisco de Paula, do Rio de Janeiro, pede ajuda para localizar a parte superior de um ostensório do século XIX furtado no sábado 4. A peça sacra, usada para expor a hóstia consagrada em missas, fazia parte do acervo da Igreja, tombado pelo Iphan em 1938 e inventariado em 2001. Reconhecido por fiéis, um suspeito foi detido e confessou o crime, mas não revelou o paradeiro do objeto de liga metálica com pedras semipreciosas. Ele foi liberado após o depoimento por ser réu primário e não ter sido preso em flagrante. A polícia concentra as buscas em antiquários da cidade, onde a peça pode ser vendida por até 50 mil reais, devido ao seu valor histórico.

Investigação/ Golpe no alto escalão

Polícia desbarata quadrilha que clonava o “zap” de ministros de Lula

Os criminosos pediram Pix a diretores de órgãos públicos – Imagem: iStockphoto

A Polícia Civil do Distrito Federal realizou, na terça-feira 7, uma operação contra uma organização criminosa que clonou o WhatsApp de seis ministros do governo Lula. Ao todo, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão contra suspeitos de integrar a quadrilha. A ação contou com a cooperação das forças policiais de Pernambuco e da Paraíba.

Entre as vítimas da quadrilha, figuram os ministros Camilo Santana (Educação), Carlos Lupi (Previdência Social), Juscelino Filho (Comunicações), Luiz Marinho (Trabalho), Renan Filho (Transportes) e Rui Costa (Casa Civil). Os criminosos entravam em contato com diretores e presidentes de órgãos públicos e privados para solicitar auxílio financeiro em alguma situação fictícia de dificuldade.

Normalmente, os falsos ministros pediam Pix para ajudar terceiros. Em um dos casos, o estelionatário argumentou que precisava pagar as despesas do funeral de um parente, mas que não conseguiu fazer a transferência bancária por algum problema técnico. Segundo os investigadores, os criminosos acompanhavam a agenda das autoridades para inventar histórias mais verossímeis, capazes de enganar as vítimas.

Portugal/ Vendaval político

O premier António Costa renuncia em meio a escândalo de corrupção

O socialista nega as acusações, mas não quis prosseguir sob suspeição – Imagem: Patrícia de Melo Moreira/AFP

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, renunciou ao cargo na terça-feira 7, após uma operação que apura irregularidades em projetos de transição energética atingir o núcleo de seu governo. “Não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito”, disse o socialista, antes de ponderar que a sua permanência poderia gerar suspeições de ingerência do governo nos rumos da investigação. Caberá ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa antecipar a convocação de novas eleições.

Entre os alvos da operação figuram o chefe de gabinete Vítor Escária e o consultor Diogo Lacerda Machado, amigo pessoal do premier. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, os detidos são suspeitos de prevaricação, corrupção e tráfico de influência. Os ministros da Infraestrutura, João Galamba, e do Meio Ambiente, Duarte Cordeiro, também são formalmente investigados por suposto favorecimento a empresas na exploração de lítio e em projetos de hidrogênio verde.

André Ventura, líder do partido de ultradireita Chega, celebrou a demissão do premier do Partido Socialista. “As eleições devem ser marcadas o mais depressa possível, porque qualquer outra resolução atrasará o processo político do país”, afirmou. Pesquisas de intenção de voto indicam que o Chega, hoje detentor da terceira maior bancada de deputados, pode ­beneficiar-se com a antecipação das eleições.

Nos passos de Bolsonaro

Sem provas, o ultradireitista Javier Milei acusa o presidente Lula de financiar a campanha de seu adversário, o peronista Sergio Massa, nas eleições da Argentina. A declaração foi dada à emissora de tevê La Nación+ na segunda-feira 6. Desde o início da campanha, Milei demonstra estar empenhado em reciclar o discurso e todas as táticas sujas de Jair Bolsonaro. Apresentando-se como um candidato antissistema, ele já relativizou a ditadura, prometeu acabar com os privilégios da casta política e abusa desde sempre das fake news para manter sua base mobilizada. Agora, apela também ao denuncismo leviano. Em seu denodado esforço de repetir os passos de Bolsonaro, é bem capaz de ter o mesmo destino que o ex-capitão no próximo 19 de novembro, com uma derrota “para Lula” no segundo turno da disputa presidencial.

EUA/ Retrocesso revertido

Ohio inclui direito ao aborto na Constituição e legaliza a maconha

As mulheres voltam a ter o poder de decidir sobre o próprio corpo – Imagem: Megan Jelinger/AFP

Ohio aderiu à onda de defesa do direito ao aborto nos EUA e também se tornou o 24º estado a liberar o uso recreativo da maconha. Em referendo realizado na terça-feira 7, ao menos 55% dos eleitores votaram a favor da inclusão de uma emenda à Constituição estadual para assegurar às mulheres o direito de “tomar e executar as próprias decisões reprodutivas”. Da mesma forma foi ­aprovada a legalização da ­Cannabis, com a regulamentação do cultivo e da venda para pessoas com mais de 21 anos.

Trata-se de uma reação ao retrocesso imposto pela Suprema Corte dos EUA em junho do ano passado. Na ocasião, os magistrados derrubaram a decisão “Roe vs. Wade”, que protegia as gestantes que decidiam interromper a gravidez por vontade própria. Sem a proteção da jurisprudência federal, a questão foi deixada a cargo de cada estado. Em vários deles, a pressão popular resultou na aprovação de leis para resguardar o direito ao aborto.

O fenômeno não tem coloração partidária – ocorre tanto em estados controlados pelos democratas quanto nos administrados por republicanos. Não por acaso, o presidente Joe Biden explora o tema em sua campanha de reeleição – derrotados, o trumpistas sempre foram contrários ao aborto.

Publicado na edição n° 1285 de CartaCapital, em 15 de novembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’