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Justiça/ O fiasco do 7 de Setembro

TSE inclui o general Walter Braga Netto na lista de inelegíveis

Justiça/ O fiasco do 7 de Setembro
Justiça/ O fiasco do 7 de Setembro
Unidos pelo golpismo – Imagem: Mateus Bonomi/Agif/AFP
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O uso político do 7 de Setembro de 2022, Bicentenário da Independência, custou caro ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao seu colega de chapa, o general Walter Braga Netto. Por 5 votos a 2, o Tribunal Superior Eleitoral condenou novamente Bolsonaro por transformar as celebrações em palanque eleitoral. Os ministros da Corte entenderam que o ex-capitão abusou do poder e fez uso indevido de recursos públicos para autopromoção. A decisão não aumenta o período de inelegibilidade de oito anos, definido em junho, mas fixa multa de 425 mil reais e estende a punição a Braga Netto. O militar terá de pagar multa de 212 mil reais e também está proibido de disputar eleições até 2030. “Houve captura da estrutura de Estado em uma data de tamanha importância para todos os brasileiros”, declarou a ministra ­Carmén Lúcia, integrante do TSE. “O abuso é claro. A Justiça eleitoral não é tola”, emendou Alexandre de Moraes.

Irmãos Batista absolvidos

A Comissão de Valores Mobiliários absolveu na terça-feira 31 os empresários Joesley e Wesley Batista da acusação de uso de informação privilegiada em operações do mercado financeiro. Os irmãos eram acusados de lucrar com ações da JBS nos dias anteriores ao vazamento do áudio de uma conversa gravada por Joesley com o então presidente Michel Temer que derrubaria o valor dos papéis da companhia. “A decisão desfaz uma injustiça, atesta o pleno funcionamento das instituições no Brasil e reafirma a integridade das operações no mercado”, afirma em nota a J&F, holding da família.

Justiça/ Foragido capturado

Ex-senador telmário mota é preso sob suspeita de ordenar assassinato

A filha do político também o acusa de tentativa de estupro em 2022 – Imagem: Edilson Rodrigues/Ag. Senado

O ex-senador Telmário Mota foi preso no município goiano de Nerópolis na noite da segunda-feira 30, após ser considerado foragido pela Polícia Civil. Ele é suspeito de ser o mandante do assassinato de Antônia Araújo Souza, mãe de uma de suas filhas. Servidora do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomâmi e Yek’uana, ela foi executada com um tiro na cabeça quando saía de casa, no bairro Senador Hélio Campos, em Boa Vista. O homicídio ocorreu um ano após ela denunciar Mota por importunação sexual e tentativa de estupro contra a filha adolescente deles.

Em agosto de 2022, a jovem de 17 anos registrou um boletim de ocorrência contra o pai. Ela disse que Mota tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar suas roupas, depois de forçá-la a entrar em um carro e ingerir bebidas alcoólicas. O então parlamentar negou o crime, ocorrido em meio à fracassada campanha de reeleição ao Senado no ano passado.

À época, Mota alegou ser vítima de perseguição política, mas este não é o primeiro episódio de violência do qual é acusado. Em 2005, uma mulher de 19 anos disse à polícia ter apanhado do político “até desmaiar”. Ela acrescentou que mantinha relações se­xuais com ele desde os 16 anos. Um mês depois, retirou a queixa e disse que se machucou ao tentar agredi-lo.

Problemas internos

O apoio à invasão de Gaza em Israel caiu substancialmente. Segundo levantamento da Universidade Hebraica de Jerusalém, o porcentual daqueles que apoiavam uma ocupação prolongada do território palestino despencou de 65%, em 10 de outubro, para 46% agora. As forças israelenses atualizaram o número de reféns em poder do Hamas: 240. O grupo palestino libertou até agora apenas quatro sequestrados.

Gaza/ Pílulas de agonia

As últimas do conflito no Oriente Médio

Engaiolados ao sul, os palestinos em Gaza enfrentam uma crise humanitária sem precedentes e bombardeios ininterruptos… – Imagem: Mohammed Abed/AFP

O Brasil insistiu até o último momento, mas foi obrigado a repassar na quarta-feira 1° à China a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas sem emplacar uma resolução que ao menos estabelecesse uma “pausa humanitária” nos ataques de Israel a Gaza. A tarefa agora se torna quase impossível. Dificilmente os Estados Unidos concordarão em subscrever uma proposta de Pequim. Joe Biden cumpre assim a promessa de garantir aos israelenses o passe livre para uma ofensiva trágica.

Na segunda-feira 30, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu voltou a ignorar os apelos mundiais e a indicar uma invasão longa e arrasadora da Faixa de Gaza. “Os pedidos de cessar-fogo são apelos para que Israel se renda ao Hamas. Isso não vai acontecer”, declarou em entrevista coletiva. “Senhoras e senhores, a Bíblia diz que há tempo para paz e tempo para a guerra. Este é um momento de guerra, uma guerra pelo nosso futuro comum.”

As palavras do primeiro-ministro praticamente foram repetidas por John Kirby,
porta-voz do conselho de segurança nacional da Casa Branca: “Acreditamos que um cessar-fogo neste momento beneficia o
Hamas, e o Hamas é o único que ganharia com isso neste momento”.

Restou a Mauro Vieira, chanceler brasileiro, dar o recado. “Continuamos em um impasse devido a divergências internas, especialmente entre alguns membros permanentes. Se não agirmos agora, quando agiremos? Quantas vidas mais serão perdidas até que saiamos da retórica e cheguemos à ação?”

Jogo baixo
Enquanto Netanyahu prometia não deixar pedra sobre pedra em Gaza, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, apelava ao Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial para justificar a operação militar contra palestinos tão indefesos quanto seus antepassados. ­Erdan promete, de agora em diante, frequentar as reuniões das Nações Unidas com uma estrela de Davi amarela e as palavras “Nunca mais”, em referência à identificação imposta pelos nazistas. “A partir de hoje, cada vez que olharem para mim, vocês se lembrarão do que significa permanecer em silêncio diante do Mal”, afirmou. “Assim como meus avós e os avós de milhões de judeus, de agora em diante, minha equipe e eu usaremos estrelas amarelas.”

… o Conselho de Segurança da ONU continua bloqueado pelos Estados Unidos, enquanto o Hamas exibe reféns israelenses – Imagem: Redes sociais e Manoel Elías/ONU

Crianças terroristas?
Na segunda-feira das declarações de ­Netanyahu e do teatro de Erdan, as forças armadas israelenses promoveram uma nova incursão terrestre em Gaza, amparada por bombardeios maciços. Segundo o Unicef, agência das Nações Unidas para a infância, mais de 3,4 mil crianças palestinas morreram em três semanas de conflito. Do lado israelense, foram 30, além de 20 feridas.

“Mais de 420 crianças são mortas ou feridas em Gaza todos os dias”, disse Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef. “Um número que deveria abalar profundamente cada um de nós.” Biden e Netanyahu dizem duvidar do número divulgado pela Autoridade Palestina e organismos independentes.

Rastilho de pólvora
A crescente hostilidade entre o Hezbollah e tropas israelenses na fronteira com o Líbano aumenta a possibilidade de que o conflito se alastre pelo Oriente Médio. Em entrevista à Agência France Presse, Najib Mikati, ­premier libanês, disse trabalhar para evitar uma guerra, elogiou a atuação “racional
e sábia” do Hezbollah, força paramilitar mais poderosa do que o exército regular,
mas expressou seu receio: “O caos pode engolir todo o Oriente Médio”.

Mahmoud Daifallah Hmoud, representante da Jordânia no Conselho de Segurança, afirmou que foi oferecida uma falsa escolha aos palestinos. Ou eles morrem no norte de Gaza ou são transferidos para o sul para também serem mortos lá. “Não será a altura de o Conselho dizer a Israel que a vida humana é sagrada, independentemente da religião, etnia ou origem de alguém?”

Macarthismo
Grupos de direitos civis nos Estados Unidos alertam para uma onda de censura contra
as críticas aos bombardeios em Gaza (reportagem à página 40). Há inúmeros registros de demissões, ameaças e perseguição de cidadãos críticos à ação de Israel. No Reino Unido, Paul Bristow, deputado do Partido Conservador, perdeu um cargo no governo após defender o cessar-fogo.

Antissemitismo

Uma multidão antissemita invadiu um aeroporto na república russa do Daguestão no momento do pouso de um avião israelense. O porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov, lamentou o incidente e prometeu medidas de segurança para impedir que atos semelhantes se repitam. “As autoridades competentes vão investigar. Depois disso, claro, a situação será analisada. Faremos o necessário para minimizar ou eliminar completamente tais manifestações ilegais no futuro.”

Publicado na edição n° 1284 de CartaCapital, em 08 de novembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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