Opinião
O dia em que as notícias pararam
Estava clareando quando liguei a televisão e tinha explodido a guerra entre Israel e o Hamas
Fui dormir com aquele noticiário de sempre: reunião do Copom, o nosso PIB, a inflação do terceiro trimestre, a queda do dólar, o preço da gasolina.
Dormi também com aquela notícia de todos os anos: o aumento das vendas dos ventiladores com a chegada do calor insuportável.
Fui dormir com as enchentes no Rio Grande do Sul, a terra tremendo no Afeganistão, Lula no Alvorada se recuperando na cirurgia no quadril, o próximo depoimento de Bolsonaro na polícia.
Coloquei a cabeça no travesseiro pensando na notícia sobre o último golpe pela Internet, ainda os efeitos dos três médicos assassinados na orla da Barra, na Cidade Maravilhosa.
Teve também a espera na fila do transplante, o nome para o lugar de Rosa e o nome para o lugar do Aras. Os novos pedidos do Centrão, o bate boca na CPMI do 8 de Janeiro e os rios do Amazonas secando a olhos vistos.
Difícil dormir com um barulho desses.
Mas até pegar no sono me lembrei da obsessão de Tarcísio em privatizar a Sabesp, Trump tirando sarro da Justiça americana e o governador do Rio falando que a violência no estado que ele governa é a mesma de Paris, de Roma, de Amsterdã.
Pensei em acordar e cortar o cabelo, ir até o IMS comprar a Serrote número 44 e o novo livro do Ivan Ângelo, se é que ele já chegou. Pensei que lá tomaria o café da manhã, aquele iogurte com frutas e mel e um expresso bem tirado.
Ontem foi um dia normal e hoje o dia prometia ser tranquilo. Estava clareando quando liguei a televisão e tinha explodido a guerra entre Israel e o Hamas.
Esqueci todas as noticias do dia anterior e passei o dia aqui, plantado de olho nos canais a cabo.
Tiros, bombardeios, facadas, explosões, choros, correria, pavor.
Fui pra cama e, sinceramente, nem me lembrei da reunião do Copom e o nome do provável substituto de Aras na Procuradoria Geral da Republica.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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