CartaCapital
8 de Janeiro/ Tiro pela culatra
Proposta pela oposição bolsonarista, CPI pede o indiciamento de Jair Bolsonaro por quatro crimes


Criada a pedido da oposição bolsonarista, a CPI do 8 de Janeiro aprovou, na quarta-feira 18, o relatório da senadora Eliziane Gama, do PSD, a apontar Jair Bolsonaro como o “mentor intelectual” dos atos golpistas que devastaram as sedes dos Três Poderes no início do ano. Enviado à Procuradoria-Geral da República, o documento propõe o indiciamento do ex-presidente por quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Somadas, as penas podem chegar a 29 anos de reclusão.
Ao propor a investigação, os bolsonaristas tentaram responsabilizar Lula pelo golpe do qual foi vítima. A turma queria emplacar a exótica tese de que o novo governo permitiu o quebra-quebra em Brasília para depois colher frutos políticos. Funcionou durante algum tempo para abastecer as redes sociais com fake news, mas a CPI, de maioria governista, acabou por apontar as digitais de Bolsonaro e seus asseclas na trama golpista.
“Os fatos aqui relatados demonstram, exaustivamente, que Jair Messias Bolsonaro, então ocupante do cargo de presidente da República, foi autor, seja intelectual, seja moral, dos ataques perpetrados contra as instituições, que culminou no dia 8 de janeiro de 2023”, diz um trecho do relatório de 1.333 páginas. Segundo Gama, o ex-presidente “pretendia ser o maior beneficiário (dos atos) em caso de sucesso no intento golpista”.
A participação de Bolsonaro na teia golpista, segundo a senadora, foi exposta por Walter Delgatti Neto, o hacker da Vaza Jato, e pela delação premiada de seu principal ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. A relatora da Comissão apontou ainda que integrantes das Forças Armadas foram lenientes ou agiram em favor de uma tentativa de golpe. Na lista de indiciados, figuram o almirante Almir Garnier Santos e o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandantes da Marinha e do Exército, respectivamente. A lista de alvos inclui, ainda, quatro ex-ministros de Bolsonaro, os generais Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Defesa). Outros militares, da ativa e da reserva, também foram responsabilizados.
Refresco no TSE
O Tribunal Superior Eleitoral rejeitou, na terça-feira 17, três ações contra Jair Bolsonaro por abuso de poder político na campanha de 2022. Duas tratavam de lives feitas pelo então candidato à reeleição no ano passado, nas quais houve pedidos de voto, e outra de eventos com governadores e artistas nos palácios de governo. As absolvições não alteram a situação de Bolsonaro, declarado inelegível por oito anos em junho passado. Na ocasião, os ministros da Corte entenderam que ele utilizou a estrutura da Presidência da República e da Empresa Brasileira de Comunicação para semear mentiras contra o sistema eleitoral durante uma reunião com embaixadores. Na prática, uma nova condenação teria efeito meramente político, pois as ações não poderiam resultar em um período de inelegibilidade maior.
Clima/ Sahara amazônico
Rios da floresta atingem mínima histórica em meio a seca severa
Com vias fluviais interditadas, comunidades ribeirinhas ficaram isoladas – Imagem: Gildo Smith/Prefeitura de Manaus
A prolongada estiagem na Floresta Amazônica tem transformado a paisagem tropical em deserto. Na segunda-feira 16, o Rio Negro teve seu nível mais baixo em 120 anos de medição, e ele pode baixar ainda mais. Segundo pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa, as grandes secas no bioma costumam estender-se até o início de novembro.
Com vias fluviais interditadas pela drástica redução dos níveis dos rios, diversas comunidades ribeirinhas ficaram isoladas e desabastecidas de alimentos, medicamentos e outros itens essenciais à sobrevivência. O caudaloso Rio Solimões secou completamente no trecho que banha a Terra Indígena Porto Praia de Baixo, na região de Tefé. Além da elevada mortandade dos peixes, a estiagem tem forçado moradores de algumas comunidades a beber a água barrenta e contaminada de igarapés.
De acordo com especialistas, a seca pode ter sido agravada pelo anormal aquecimento das águas do Atlântico, cuja temperatura de superfície vem batendo sucessivos recordes. O fenômeno seria responsável por levar baixa umidade para a floresta. O governo federal estima que mais de 500 mil habitantes já foram impactados pela seca apenas no estado do Amazonas.
Arsenal desaparecido
Na terça-feira 17, o Exército liberou a saída de 320 dos 480 militares impedidos de deixar o quartel em Barueri, na Grande São Paulo, após o furto de 13 metralhadoras calibre .50, com poder de derrubar aeronaves, e oito fuzis calibre 7,62. Os praças e oficiais ainda aquartelados permanecerão à disposição dos investigadores. O general Tomás Paiva, comandante do Exército, descartou a possibilidade de contagem errada e afirmou que a força continua empenhada na recuperação do arsenal, cujo sumiço foi constatado em 10 de outubro. Segundo o Comando Militar do Sudeste, responsável pela apuração, a principal hipótese é de que as armas de combate foram furtadas.
Equador/ Vence o Príncipe da Banana
O magnata Daniel Noboa derrota o correísmo e é eleito presidente
Mais um outsider desponta na política latino-americana – Imagem: Galo Paguay/AFP
O empresário Daniel Noboa, de 35 anos, será o mais jovem presidente da história do Equador. Proveniente de uma das famílias mais ricas da América Latina, reconhecida pelos equatorianos por seu império bananeiro, o neófito político figurava com um porcentual de único dígito até poucas semanas antes do primeiro turno das eleições. Em uma disputa atípica, maculada por atentados políticos, Noboa surpreendeu ao avançar para a etapa decisiva e acabou eleito, no domingo 15, com 52% dos votos.
Embora tenha no currículo uma breve passagem pela Assembleia Nacional, o empresário beneficiou-se do enorme recall político de seu pai, Álvaro Noboa, conhecido como o “Magnata da Banana”, que disputou a Presidência seis vezes. Apresentando-se ao eleitorado como um liberal outsider, uma alternativa à velha polarização política entre correístas e anticorreístas, Daniel Noboa derrotou a esquerdista Luisa González, candidata do Revolução Cidadã, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa.
A eleição foi para um mandato-tampão de um ano e meio. Como o presidente Guilherme Lasso acionou o dispositivo da “morte cruzada”, na qual renuncia ao cargo ao mesmo tempo que dissolve a Assembleia Nacional, o novo líder só ficará no poder até maio de 2025, quando está prevista a realização de nova disputa presidencial.
Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 25 de outubro de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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