Política

assine e leia

Veneno pouco é bobagem

O Brasil é campeão no uso de defensivos, mas os ruralistas querem mais

Veneno pouco é bobagem
Veneno pouco é bobagem
Em novembro de 2020, cerca de 20 famílias do assentamento Nova Santa Rita de Cássia II tiveram perdas em suas lavouras devido à deriva de agrotóxicos pelo ar. Foto: Abrasco
Apoie Siga-nos no

No fim de maio, como parte das negociações em prol de uma base estável no Congresso, o governo Lula deu aval à tramitação no Senado do chamado “PL do Veneno”. O projeto, aprovado no ano passado na Câmara dos Deputados, é uma reivindicação antiga da bancada ruralista e facilita o processo de aprovação de agrotóxicos. Coube ao petista Fabiano Contarato a relatoria da proposta. “Princípio básico: ninguém é a favor de produtos cancerígenos, ninguém é a favor da continuidade de produtos que afetem gravemente o meio ambiente”, declarou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ao fim de uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o relator Contarato, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner, e a ex-ministra e líder do PP, Tereza Cristina.

Fonte: dados atualizados pela FAO

Pela pressa e o discurso dos ruralistas, parece que o Brasil exerce uma rigidez stalinista no controle dos agrotóxicos. Ao contrário. A licenciosidade das autoridades beira a concupiscência. Fertilizantes proibidos na Europa e nos Estados Unidos, por seus danos à saúde humana e ao meio ambiente, são largamente utilizados nas lavouras nativas, sem qualquer controle. Em 2021, o País, conforme dados atualizados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, foi o recordista mundial no consumo: 719,5 mil toneladas, bem acima do segundo colocado, os Estados Unidos, conforme se vê nos gráficos abaixo. Também somos líderes na relação quilo por hectare. A proporção de 10,9 é quase o dobro daquela registrada na Argentina, vice-campeã nesse quesito. Em um ano, a coisa só piorou. Segundo o Ibama, em 2022, o uso de agrotóxicos no campo brasileiro atingiu a marca de 900 mil toneladas.

Sofrem agricultores, diante do aumento de casos de câncer e outras doenças, sofre a natureza. O uso sem controle de um defensivo à base de fenopril, autorizado no Brasil, mas banido da Europa, está na raiz da morte de 100 milhões de abelhas só em Mato Grosso. •

Publicado na edição n° 1280 de CartaCapital, em 11 de outubro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Veneno pouco é bobagem’

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo