Cultura
Hoje todos somos Santos Futebol Clube
O clube icônico do futebol brasileiro chega aos 100 anos e dá esperanças ao esporte agoniado pelos Ricardos Teixeiras da vida.


Quando um brasileiro hoje viaja para a Europa, China, África do Sul ou qualquer outro lugar do globo, é grande a chance de ele receber, em troca, um sorriso e uma palavra: Pelé.
Quando o Brasil ainda era pouca coisa no mundo, os doze anos que separaram 1958 de 1970 bastaram para termos ao menos um orgulho internacional: o futebol. O que unia aqueles times fantásticos de 58, 62 e 70? Pelé.
Pelé foi único e, para uma existência assim, só um clube único faria sentido naqueles literários tempos do futebol: o Santos Futebol Clube. Não há como dissociar Santos de Pelé, não há como não lembrar de Pelé ao falar do Santos.
O Peixe entrou sem ninguém convidar no hall dos grandes clubes paulistas e tornou-se o único gigante brasileiro não sediado numa capital. O uniforme de um branco total e iconicamente simples foi durante os anos 50, 60 e parte dos 70 o símbolo máximo do futebol técnico, plástico e transcendental. Havia ali na Vila Belmiro todo um sentido artístico do esporte.
Até o início dos anos 1950, o futebol brasileiro era um pouco como O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o médico e o monstro. Tínhamos talento a beça, tínhamos um futebol bonito, mas também éramos esquentados, não tínhamos nervos para os grandes duelos e sempre entrávamos em campo já um pouco derrotados.
Antes do Santos e da seleção brasileira do fim dos anos 1950, se enfrentávamos os europeus, temíamos porque eram eles quem tinham inventado o futebol e era de lá que vinham as inovações táticas. Se era contra os argentinos, eles que excursionavam no Brasil goleando nossos times a mostrar como se jogava futebol. Se era contra os uruguaios, eles nos irritavam e ganhavam na raça e na catimba. Tínhamos futebol e beleza, mas as coisas acabavam saindo errado. Éramos, como cunhou em definitivo Nelson Rodrigues, uma nação de vira-latas.
Depois daquele Santos, nos tornamos vira-latas exemplares. São vários os clubes que forjaram o jeito brasileiro de jogar futebol: o Vasco do fim dos anos 40, o Fluminense do início dos 50, as academias do Palmeiras dos anos 30 aos 70, o Botafogo dos 50 e 60. No entanto, ninguém foi mais importante que o Santos da década de 60 bicampeão do mundo que curvou os poderosos Benfica e Milan, o Santos que parou uma guerra na África, o Santos cujo manto alvo resplandecia a tela em preto e branco do Canal 100 nos cinemas do Brasil.
Com o passar dos anos, o Peixe acabou minguando-se. As sucessivas más administrações do clube diminuíram sua importância nos anos 80 e 90 – coincidência dessas que fazem as histórias dramáticas, isso ocorreu ao mesmo tempo em que transformaram o futebol em negócio, muito mais negócio que diversão.
Hoje o Alvinegro está de volta, ganhando títulos. Tem Neymar para lembrar que o futebol pode ser belo e imprevisível, mesmo na era das altas finanças esportivas e do marketing. É um bastião que ainda dá esperanças de erguer o futebol brasileiro agoniado pelos Joões Havelanges e Ricardos Teixeiras da vida e cujo brilho se perdeu.
Hoje o Santos completa 100 anos de existência. Não importa para qual time torcemos, é um dia que todos os que gostam de futebol devem comemorar.
Quando um brasileiro hoje viaja para a Europa, China, África do Sul ou qualquer outro lugar do globo, é grande a chance de ele receber, em troca, um sorriso e uma palavra: Pelé.
Quando o Brasil ainda era pouca coisa no mundo, os doze anos que separaram 1958 de 1970 bastaram para termos ao menos um orgulho internacional: o futebol. O que unia aqueles times fantásticos de 58, 62 e 70? Pelé.
Pelé foi único e, para uma existência assim, só um clube único faria sentido naqueles literários tempos do futebol: o Santos Futebol Clube. Não há como dissociar Santos de Pelé, não há como não lembrar de Pelé ao falar do Santos.
O Peixe entrou sem ninguém convidar no hall dos grandes clubes paulistas e tornou-se o único gigante brasileiro não sediado numa capital. O uniforme de um branco total e iconicamente simples foi durante os anos 50, 60 e parte dos 70 o símbolo máximo do futebol técnico, plástico e transcendental. Havia ali na Vila Belmiro todo um sentido artístico do esporte.
Até o início dos anos 1950, o futebol brasileiro era um pouco como O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o médico e o monstro. Tínhamos talento a beça, tínhamos um futebol bonito, mas também éramos esquentados, não tínhamos nervos para os grandes duelos e sempre entrávamos em campo já um pouco derrotados.
Antes do Santos e da seleção brasileira do fim dos anos 1950, se enfrentávamos os europeus, temíamos porque eram eles quem tinham inventado o futebol e era de lá que vinham as inovações táticas. Se era contra os argentinos, eles que excursionavam no Brasil goleando nossos times a mostrar como se jogava futebol. Se era contra os uruguaios, eles nos irritavam e ganhavam na raça e na catimba. Tínhamos futebol e beleza, mas as coisas acabavam saindo errado. Éramos, como cunhou em definitivo Nelson Rodrigues, uma nação de vira-latas.
Depois daquele Santos, nos tornamos vira-latas exemplares. São vários os clubes que forjaram o jeito brasileiro de jogar futebol: o Vasco do fim dos anos 40, o Fluminense do início dos 50, as academias do Palmeiras dos anos 30 aos 70, o Botafogo dos 50 e 60. No entanto, ninguém foi mais importante que o Santos da década de 60 bicampeão do mundo que curvou os poderosos Benfica e Milan, o Santos que parou uma guerra na África, o Santos cujo manto alvo resplandecia a tela em preto e branco do Canal 100 nos cinemas do Brasil.
Com o passar dos anos, o Peixe acabou minguando-se. As sucessivas más administrações do clube diminuíram sua importância nos anos 80 e 90 – coincidência dessas que fazem as histórias dramáticas, isso ocorreu ao mesmo tempo em que transformaram o futebol em negócio, muito mais negócio que diversão.
Hoje o Alvinegro está de volta, ganhando títulos. Tem Neymar para lembrar que o futebol pode ser belo e imprevisível, mesmo na era das altas finanças esportivas e do marketing. É um bastião que ainda dá esperanças de erguer o futebol brasileiro agoniado pelos Joões Havelanges e Ricardos Teixeiras da vida e cujo brilho se perdeu.
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