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A Semana: Passo de tartaruga

À espera da reforma ministerial, o Centrão trava a pauta

A Semana: Passo de tartaruga
A Semana: Passo de tartaruga
Lira, o tranca-pauta – Imagem: Bruno Spada/Ag. Câmara
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A chantagem continua. Após o recesso parlamentar, o presidente da Câmara, Arthur ­Lira, e seus associados do Centrão instituíram no Congresso uma espécie de “operação-padrão”, enquanto não avança a reforma ministerial que vai acomodar o PP e o Republicanos no primeiro escalão do governo. O Palácio do Planalto teme agora que o tão esperado relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, previsto para a sexta-feira 11, tenha de ser adiado ou acabe esvaziado, caso os ­deputados não aprovem os derradeiros ajustes no arcabouço fiscal até lá. Sem as novas regras de controle das contas públicas, o presidente Lula fica impedido de reservar os 60 bilhões de reais por ano para reativar o plano de investimentos públicos em obras de infraestrutura. O relançamento do PAC é parte da “agenda positiva” do segundo semestre. O governo também pretende anunciar um programa de transição econômica sustentável, base da reindustrialização do País, e a segunda etapa da reforma tributária, destinada a taxar os mais ricos. ­Lira nega a relação entre a lentidão da ­pauta e a cobiça ministerial de sua base parlamentar. Durante sua entrevista ao programa ­Roda Viva, da TV Cultura, o deputado enviou, no entanto, vários recados ao Palácio do Planalto. Criticou o privilégio dado ao Senado na indicação de ministros, reclamou da articulação política do governo, voltou a defender o semipresidencialismo e afirmou que sem o Centrão o Brasil teria “virado uma Argentina” nas mãos do PT. Melhor Lula colocar a barba de molho.

Queima de arquivo?

Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana, ex-vereador do Rio de Janeiro, foi assassinado na segunda-feira 7. Bacana foi citado na CPI das Milícias, depôs nas investigações sobre a morte de Marielle Franco e havia escapado de um atentado em 2020. O ­ex-policial estava em uma padaria no bairro de Guadalupe quando ele e o irmão, também morto, foram atingidos por disparos feitos por ocupantes de um carro. Em 2008, o antigo PM havia sido investigado por suposto envolvimento com um grupo criminoso instalado em favelas na Zona Norte da capital fluminense.

Ucrânia/ Ouvidos moucos

Putin e Zelensky rejeitam as propostas de mediação

Estes “patriotas” sacrificam o futuro de seus povos – Imagem: Presidência da Ucrânia e Alexander Kazakov/Pool/AFP

A depender do russo Vladimir ­Putin e do ucraniano ­Volodymyr Zelensky, o conflito na Ucrânia se estenderá por tempo indeterminado. Após a reunião na Arábia Saudita no domingo 6, que recebeu delegações de 40 países, mas não conseguiu avançar em uma proposta de paz, ­Putin e Zelensky resolveram deixar clara a falta de disposição para negociar, embora nenhuma das partes tenha condições neste momento de vencer a guerra – a batalha está estacionada no leste ­ucraniano, com pesadas perdas dos respectivos arsenais, avanços territoriais irrisórios e significativas baixas das tropas. Segundo Putin, o fim da invasão depende da rendição dos invadidos. “Estamos convencidos de que um acordo verdadeiramente global, duradouro e justo só é possível se o regime de Kiev puser fim às hostilidades e aos atentados terroristas”, afirmou Maria Zakharova, porta-voz da diplomacia russa. Zelensky, por sua vez, voltou a criticar Lula em entrevista à CNN e afirmou que a única saída é Moscou devolver os territórios ocupados. Será? Circulam informações de que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, pressiona a Ucrânia para aceitar um acordo até o fim do ano.

Vidas negras importam

O último dos quatro policiais acusados de assassinar George Floyd foi condenado na segunda-feira 7. Tou Thao cumprirá quatro anos e sete meses de prisão por cumplicidade no homicídio. Floyd morreu sufocado por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço em uma abordagem em 2020. O assassinato desencadeou uma série de protestos antirracistas nos Estados Unidos e impulsionou o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). “Não cometi esses crimes”, declarou Thao na audiência. “A minha consciência está limpa.”

Equador/ Terror eleitoral

Fernando Villavicencio, candidato à Presidência, é assassinado

Villavicencio aparecia em segundo nas pesquisas – Imagem: Redes Sociais

Seis suspeitos de participar do assassinato, na quarta-feira 9, de Fernando ­Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foram detidos, segundo a Procuradoria-Geral do país. O atual mandatário, Guillermo Lasso, decretou estado de exceção, mas manteve as eleições para o domingo 20. Representante do Movimento Construye, Villavicencio aparecia em segundo lugar nas pesquisas, atrás da advogada Luisa González. O jornalista levou três tiros na cabeça e, de acordo com testemunhas, os assassinos fizeram mais de 30 disparos contra a comitiva na saída do Colégio Anderson, no centro-norte de Quito. A facção criminosa Los Lobos reivindicou o atentado. Em vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter), homens encapuzados supostamente ligados à quadrilha assumiram o ataque e ameaçaram outro candidato. “Toda vez que políticos corruptos não cumprirem suas promessas quando receberem nosso dinheiro, que é de milhões de dólares, para financiar suas campanhas, serão dispensados”, diz um dos encapuzados. “Você também, Jan ­Topic, mantenha sua palavra. Se você não cumprir suas promessas, será o próximo.”

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 19 de agosto de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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