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Negociação de países africanos para solucionar crise no Níger fracassa

A organização regional adotou sanções econômicas contra o Níger e deu prazo até o próximo domingo para que Bazoum retorne ao poder, sob a ameaça de um possível uso da “força”

Negociação de países africanos para solucionar crise no Níger fracassa
Negociação de países africanos para solucionar crise no Níger fracassa
Comitê de Chefes de Estado-Maior de Defesa da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) dos países da CEDEAO enquanto deliberam em Abuja, Nigéria, sobre a agitação política na República do Níger. Foto: Kola Sulaimon / AFP
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A delegação da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) fracassou em sua tentativa de mediação para restituir o poder ao presidente eleito democraticamente no Níger, onde os militares golpistas anunciaram a ruptura dos acordos de cooperação com a França.

“Os emissários da CEDEAO partiram na noite de quinta-feira depois que não conseguiram uma reunião com o líder dos militares que tomaram o poder na semana passada, o general Abdourahamane Tiani, nem com o presidente derrubado, Mohamed Bazoum“, afirmou um integrante da delegação nesta sexta-feira (4).

A delegação era liderada pelo ex-presidente nigeriano Abdulsalami Abubakar e tinha como objetivo “apresentar as demandas dos líderes da CEDEAO”, de acordo com um comunicado divulgado pela presidência da Nigéria.

A organização regional adotou sanções econômicas contra o Níger no fim de semana e deu prazo até o próximo domingo para que Bazoum, derrubado em 26 de julho, retorne ao poder, sob a ameaça de um possível uso da “força”.

A CEDEAO destacou, no entanto, que uma intervenção militar é “a última opção sobre a mesa”.

Os comandantes militares dos países da CEDEAO estão reunidos na capital da Nigéria, Abuja, para examinar a situação no Níger.

Os golpistas alertaram na quinta-feira que responderiam de forma imediata a qualquer “agressão ou tentativa de agressão contra o Estado do Níger” por parte da CEDEAO.

Em sua declaração, eles excluíram de suas ameaças os “países amigos” suspensos da CEDEAO, em referência a Burkina Faso e Mali, que também são governados por militares que deram golpes para tomar o poder.

Estes dois países alertaram em um comunicado conjunto que “qualquer intervenção militar contra o Níger seria considerada uma declaração de guerra”.

Os golpistas denunciaram vários acordos de defesa com a França, incluindo os vinculados à presença de tropas francesas no Níger e o “estatuto” dos militares que participam na luta contra os grupos extremistas.

“Consequências devastadoras”

Bazoum – que está detido com sua família – afirmou na quinta-feira que se for bem-sucedido, o golpe terá “consequências devastadoras para a região e o mundo inteiro”.

Em sua primeira declaração pública desde que foi derrubado, em um artigo publicado no jornal The Washington Post, Bazoum pediu ao governo dos Estados Unidos e à comunidade internacional que ajudem “a restaurar a ordem constitucional”.

Em várias cidades do Níger, milhares de pessoas expressaram apoio aos golpistas na quinta-feira, dia em que o país celebrou o aniversário da independência do país da França, conquistada em 1960.

Alguns manifestantes gritaram frases contra a França e exibiram bandeiras da Rússia.

Nesta sexta-feira, um decreto assinado pelo general Taini suspendeu o toque de recolher que estava em vigor desde 26 de julho.

No texto publicado Washington Post, Bazoum advertiu que “toda a região do Sahel central” pode cair sob a influência russa por meio do grupo paramilitar Wagner, cujo “terrorismo brutal” foi demonstrado na Ucrânia.

A França mantém 1.500 soldados no país africano para ajudar na lutar antijihadista. Durante a semana, o país retirou 1.079 pessoas do Níger, mais da metade deles franceses.

O ministério da Defesa da Espanha informou que um avião militar pousou nesta sexta-feira na capital do Níger, Niamey, para repatriar os civis espanhóis que desejam abandonar o país.

Os militares golpistas retiraram do ar na segunda-feira a Radio France Internationale (RFI) e o canal de televisão France 24, uma medida condenada por Paris e que a União Europeia considerou “inaceitável” nesta sexta-feira.

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