Cultura

Cruzeiro marítimo? … cuidado…

O anúncio dizia que, entre outras atrações, havia a oportunidade de visitar uma ilha deserta. Faltava apenas definir o conceito de deserta

Cruzeiro marítimo? … cuidado…
Cruzeiro marítimo? … cuidado…
O anúncio dizia que, entre outras atrações, havia a oportunidade de visitar uma ilha deserta. Faltava apenas definir o conceito de deserta. Foto: Gemb1/Flickr
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O anúncio dizia que, entre outras atrações, havia a oportunidade de visitar uma ilha deserta. Quem resiste a um convite desses?

Passei a noite em claro, imaginando aventuras, como colocar um bilhete com um texto dramático dentro de uma garrafa e lança-la ao mar. Enfim coisas que se costuma fazer em situações do gênero.

Deveriam ser mais ou menos 4 horas da madrugada quando a cabine começou a ser invadida por ruidos estranhos. Engrenagens funcionando, roldanas batendo umas contra outras. Aí me lembrei da atração daquele dia, a ilha deserta.

Curioso, o babaca aqui foi acompanhar os preparativos para o tão aguardado desembarque na ilha. Que exigia, diga-se, um esforço considerável dos marinheiros.

Veja o vídeo do naufrágio na Itália aqui

Era necessário colocar uma espécie de barcaça, daquelas que a gente vê em filmes sobre o Dia D, na posição exata junto ao portaló (a porta de saída, em linguagem náutica).

Percebi que havia uma contradição básica na proposta da visita à ilha deserta. Um marujo me disse que o desembarque se daria em grupos de 50 pessoas, com intervalos estimados de 30 minutos entre um e outro. Ou seja. A partir do momento em que a primeira barcaça chegasse à ilha, com o primeiro passageiro pisando nas areias intocadas, a qualificação da ilha não podia mais ser deserta. Já haveria pelo menos um ser humano no local.

Com base nessa constatação elementar, decidi voltar para o berço. Quando acordei e olhei pela escotilha, levei um susto.

Avistei a ilha, com suas três esquálidas palmeirinhas, e na areia, amontoados, quase que empilhados uns sobre os outros, um número estimado em 1.700 pessoas.

Convenhamos que se trata de uma super-população para uma ilha deserta.

Desde esse dia, passei a ficar com um pé atrás com esse entusiasmo do pessoal da chamada nova classe media brasileira pelos tais cruzeiros marítimos.

Agora, com as notícias do navio que emborcou na Itália, que vem logo em seguida ao anúncio dos desarranjos intestinais coletivos à bordo, eu decidi : cruzeiro marítimo nunca mais.

O anúncio dizia que, entre outras atrações, havia a oportunidade de visitar uma ilha deserta. Quem resiste a um convite desses?

Passei a noite em claro, imaginando aventuras, como colocar um bilhete com um texto dramático dentro de uma garrafa e lança-la ao mar. Enfim coisas que se costuma fazer em situações do gênero.

Deveriam ser mais ou menos 4 horas da madrugada quando a cabine começou a ser invadida por ruidos estranhos. Engrenagens funcionando, roldanas batendo umas contra outras. Aí me lembrei da atração daquele dia, a ilha deserta.

Curioso, o babaca aqui foi acompanhar os preparativos para o tão aguardado desembarque na ilha. Que exigia, diga-se, um esforço considerável dos marinheiros.

Veja o vídeo do naufrágio na Itália aqui

Era necessário colocar uma espécie de barcaça, daquelas que a gente vê em filmes sobre o Dia D, na posição exata junto ao portaló (a porta de saída, em linguagem náutica).

Percebi que havia uma contradição básica na proposta da visita à ilha deserta. Um marujo me disse que o desembarque se daria em grupos de 50 pessoas, com intervalos estimados de 30 minutos entre um e outro. Ou seja. A partir do momento em que a primeira barcaça chegasse à ilha, com o primeiro passageiro pisando nas areias intocadas, a qualificação da ilha não podia mais ser deserta. Já haveria pelo menos um ser humano no local.

Com base nessa constatação elementar, decidi voltar para o berço. Quando acordei e olhei pela escotilha, levei um susto.

Avistei a ilha, com suas três esquálidas palmeirinhas, e na areia, amontoados, quase que empilhados uns sobre os outros, um número estimado em 1.700 pessoas.

Convenhamos que se trata de uma super-população para uma ilha deserta.

Desde esse dia, passei a ficar com um pé atrás com esse entusiasmo do pessoal da chamada nova classe media brasileira pelos tais cruzeiros marítimos.

Agora, com as notícias do navio que emborcou na Itália, que vem logo em seguida ao anúncio dos desarranjos intestinais coletivos à bordo, eu decidi : cruzeiro marítimo nunca mais.

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