Cultura

Sugestões Bravo! para ler

Entre os destaques da semana estão Diário de Oaxaca, obra de Oliver Sacks sobre samambaias mexicanas, e Meus Prêmios, do austríaco Thomas Bernhard

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Diário de Oaxaca
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Uma jornada interior

Diário de Oaxaca

Oliver Sacks


Companhia das Letras,


128 págs., R$ 32

Em 2007, o professor de neurologia e psiquiatria Oliver Sacks ganhou uma honraria sem precedentes da Universidade Columbia, em Nova York, onde ministra aulas. O cientista inglês de 78 anos foi nomeado Columbia Artist por transformar em fenômenos de vendas livros cujos personagens sofrem de distúrbios raros. Em O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (2007), por exemplo, um paciente não reconhece a figura de sua esposa. Doentes que acordam após décadas de letargia são o tema de Tempo de Despertar (1997).

Para quem se habituou às histórias médicas narradas de forma saborosa, Diário de Oaxaca pode decepcionar. Aqui, o assunto são as samambaias. Sacks embarca com um grupo de alucinados por plantas numa excursão ao estado mexicano de Oaxaca, onde vicejam espécies raríssimas. Se faltam casos neurológicos misteriosos, sobram observações sobre as maravilhas que os conquistadores espanhóis conheceram na região, como o tabaco, o tomate, as pimentas, o milho e o chocolate. O grande trunfo do diário, publicado originalmente em 2002, está em momentos confessionais que ajudam a entender um pouco mais a personalidade do cientista tímido, solteirão assumido. No ambiente formado por especialistas e amadores, dispostos a qualquer esforço para identificar as plantinhas que sobreviveram às extinções ocorridas no planeta, Sacks se vê presa de uma sensação “esquisita”. De início, o médico dos diagnósticos impossíveis acha que está sob o efeito da altitude, para em seguida descobrir a “doença”: “Percebi de repente um sentimento de felicidade, tão inabitual que demorei a reconhecê-lo. Muitas são as causas dessa felicidade, suponho – as plantas, as ruínas, o povo de Oaxaca –, mas esse doce sentimento de comunidade, de pertencimento, sem dúvida está entre elas”. – Ana Ferraz

 

O sepultamento da “índole pacífica”

Revoltas, Motins, Revoluções – Homens Livres e Libertos no Brasil do Século XIX

Organização de Monica Duarte Dantas


Alameda Editorial, 570 págs., R$ 70

Tão significativo por si só, como pelo fato de reunir pesquisadores de Norte a Sul do Brasil, Revoltas, Motins, Revoluções, organizado pela historiadora Monica Duarte Dantas, e com 16 autores de vários estados, enterra de uma vez o cadáver secularmente insepulto do mito da “índole pacífica do povo brasileiro”. Antes mesmo de existir esse povo, pois o povo brasileiro só passou a se constituir após a abolição da escravidão (afinal, ninguém fala em “povo”, quando se refere à Grécia Antiga, a não ser para se referir apenas aos homens livres, excluindo-se tanto as mulheres quanto os escravos), já ocorreram revoltas armadas significativas entre as camadas de pessoas livres pobres, inclusive ex-escravos, raramente contempladas pela historiografia tradicional.

Além de tratar da “gente ínfima do povo e outras gentes” em revoltas tão conhecidas como a Confederação do Equador, a Cabanagem, a Sabinada e a Guerra dos Farrapos, até aqui mais estudadas no que se refere a seus líderes mais bem situados na sociedade, o livro aborda outros movimentos bem menos conhecidos, como o do Ronco da Abelha ou dos Marimbondos e o da Carne sem Osso, Farinha sem Caroço. O povo brasileiro, enfim, começa cada vez mais a se conhecer. – Renato Pompeu

 

 

O tormento das honrarias

Thomas Bernhard

Companhia das Letras


112 págs., R$ 33

O austríaco Thomas Bernhard foi considerado um escritor polêmico ao longo de sua trajetória, tanto pela atitude crítica a respeito de seu país quanto pela visão aguçada acerca das vaidades nacionais. A obra Meus Prêmios não é um texto de ficção e poderia ser apresentada como uma autobiografia diferenciada, uma vez que descreve as circunstâncias pessoais que envolvem as premiações recebidas pelo escritor. Embora o assunto soe pouco interessante, o estilo ágil e irônico de Bernhard transforma a narrativa em episódios que combinam humor, reflexão política e até certa dose de suspense.Os prêmios tornam-se um ponto de partida para pensar a vida e o rumo das ambições intelectuais. Mas existe ainda uma camada mais profunda na reflexão do autor. Bernhard revela o desconcerto provocado pela escritura literária, expõe o tormento das honrarias e despe o escritor de uma aura sublime.  – Ana Lúcia Trevisan

Uma jornada interior

Diário de Oaxaca

Oliver Sacks


Companhia das Letras,


128 págs., R$ 32

Em 2007, o professor de neurologia e psiquiatria Oliver Sacks ganhou uma honraria sem precedentes da Universidade Columbia, em Nova York, onde ministra aulas. O cientista inglês de 78 anos foi nomeado Columbia Artist por transformar em fenômenos de vendas livros cujos personagens sofrem de distúrbios raros. Em O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (2007), por exemplo, um paciente não reconhece a figura de sua esposa. Doentes que acordam após décadas de letargia são o tema de Tempo de Despertar (1997).

Para quem se habituou às histórias médicas narradas de forma saborosa, Diário de Oaxaca pode decepcionar. Aqui, o assunto são as samambaias. Sacks embarca com um grupo de alucinados por plantas numa excursão ao estado mexicano de Oaxaca, onde vicejam espécies raríssimas. Se faltam casos neurológicos misteriosos, sobram observações sobre as maravilhas que os conquistadores espanhóis conheceram na região, como o tabaco, o tomate, as pimentas, o milho e o chocolate. O grande trunfo do diário, publicado originalmente em 2002, está em momentos confessionais que ajudam a entender um pouco mais a personalidade do cientista tímido, solteirão assumido. No ambiente formado por especialistas e amadores, dispostos a qualquer esforço para identificar as plantinhas que sobreviveram às extinções ocorridas no planeta, Sacks se vê presa de uma sensação “esquisita”. De início, o médico dos diagnósticos impossíveis acha que está sob o efeito da altitude, para em seguida descobrir a “doença”: “Percebi de repente um sentimento de felicidade, tão inabitual que demorei a reconhecê-lo. Muitas são as causas dessa felicidade, suponho – as plantas, as ruínas, o povo de Oaxaca –, mas esse doce sentimento de comunidade, de pertencimento, sem dúvida está entre elas”. – Ana Ferraz

 

O sepultamento da “índole pacífica”

Revoltas, Motins, Revoluções – Homens Livres e Libertos no Brasil do Século XIX

Organização de Monica Duarte Dantas


Alameda Editorial, 570 págs., R$ 70

Tão significativo por si só, como pelo fato de reunir pesquisadores de Norte a Sul do Brasil, Revoltas, Motins, Revoluções, organizado pela historiadora Monica Duarte Dantas, e com 16 autores de vários estados, enterra de uma vez o cadáver secularmente insepulto do mito da “índole pacífica do povo brasileiro”. Antes mesmo de existir esse povo, pois o povo brasileiro só passou a se constituir após a abolição da escravidão (afinal, ninguém fala em “povo”, quando se refere à Grécia Antiga, a não ser para se referir apenas aos homens livres, excluindo-se tanto as mulheres quanto os escravos), já ocorreram revoltas armadas significativas entre as camadas de pessoas livres pobres, inclusive ex-escravos, raramente contempladas pela historiografia tradicional.

Além de tratar da “gente ínfima do povo e outras gentes” em revoltas tão conhecidas como a Confederação do Equador, a Cabanagem, a Sabinada e a Guerra dos Farrapos, até aqui mais estudadas no que se refere a seus líderes mais bem situados na sociedade, o livro aborda outros movimentos bem menos conhecidos, como o do Ronco da Abelha ou dos Marimbondos e o da Carne sem Osso, Farinha sem Caroço. O povo brasileiro, enfim, começa cada vez mais a se conhecer. – Renato Pompeu

 

 

O tormento das honrarias

Thomas Bernhard

Companhia das Letras


112 págs., R$ 33

O austríaco Thomas Bernhard foi considerado um escritor polêmico ao longo de sua trajetória, tanto pela atitude crítica a respeito de seu país quanto pela visão aguçada acerca das vaidades nacionais. A obra Meus Prêmios não é um texto de ficção e poderia ser apresentada como uma autobiografia diferenciada, uma vez que descreve as circunstâncias pessoais que envolvem as premiações recebidas pelo escritor. Embora o assunto soe pouco interessante, o estilo ágil e irônico de Bernhard transforma a narrativa em episódios que combinam humor, reflexão política e até certa dose de suspense.Os prêmios tornam-se um ponto de partida para pensar a vida e o rumo das ambições intelectuais. Mas existe ainda uma camada mais profunda na reflexão do autor. Bernhard revela o desconcerto provocado pela escritura literária, expõe o tormento das honrarias e despe o escritor de uma aura sublime.  – Ana Lúcia Trevisan

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