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Empresa espanhola espionou conversas do ex-presidente do Equador com Lula e Dilma para CIA, mostra jornal
Documentos obtidos pelo ‘El País’ mostram que a instituição contratada para segurança da embaixada coletava informações confidenciais das reuniões de Rafael Correa
A empresa contratada para cuidar da segurança da Embaixada do Equador em Londres, teria espionado o ex-presidente Rafael Correa para vender informações confidenciais ao seu sucessor e adversário político, Lenín Moreno.
É o que apontam as investigações da Corte Nacional equatoriana. Na análise do computador de David Morales, ex-militar e dono da empresa de segurança espanhola UC Global, SL, foi encontrado um disco rígido com o nome CIA e uma pasta intitulada: “América do Norte/EUA/CIA/Romeu/Brasil/Argentina/Março de 2018/Venegas Chamorro/Travel”, que contém detalhes das reuniões de Correa com os ex-presidentes latinos.
As espionagens envolviam também as reuniões de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que estava se refugiando em Londres. As descobertas sobre a pasta e o monitoramento das reuniões de Correa foram realizadas por peritos nomeados pela defesa de Assange na justiça.
O documento obtido pelo jornal espanhol El País, mostrou que uma das gravações aconteceu entre 18 e 24 de março de 2018, quando Correa estava acompanhado por uma escolta da UC Global, SL. Não há detalhes divulgados sobre o conteúdo da conversa monitorada pela empresa e nem o valor pela venda dos arquivos.
Morales gravava vídeos e escrevia relatórios — alguns em inglês —, sobre as reuniões privadas de Correa no país e em sua casa em Bruxelas, onde se estabeleceu após deixar a presidência.
Uma delas aconteceu em 17 de novembro de 2017, quando ele redigiu o relatório intitulado Brussels Meetings, descrevendo os encontros e conversas mantidas pelo então ex-presidente em sua casa.
Na descrição dos arquivos, ele detalha os números de série de seus dispositivos eletrônicos iPad e computador. Os advogados de Assange perguntaram por que esse e outros e-mails foram escritos em inglês, o ex-fuzileiro naval respondeu que o e-mail foi escrito em inglês.
Em resposta ao juiz que julgou o caso, o ex-fuzileiro respondeu que o objetivo era “melhorar o inglês de seus funcionários”.
O ex-presidente do Equador cancelou o contrato com a empresa em maio de 2019, quando um de seus guarda-costas lhe confessou que o ex-militar espanhol e proprietário da empresa havia pedido a eles que escrevessem relatórios sobre suas reuniões e atividades pessoais e políticas.
A chantagem de alguns funcionários, segundo a investigação, eram constantes. No pen drive de 4 GB encontrado pela Justiça no cofre da sede da empresa, estavam imagens de conteúdo íntimo de um membro da carreira diplomática do Equador, que provavelmente eram usadas para coagir o funcionário.
“Quero usar as imagens (…). Para pendurá-las”. “A propósito (…), você tem o relatório que foi feito sobre ela (…), acho que você o destruiu (…), certo? (…), acho que você o destruiu (…), não é?”, diz Morales em um e-mail ao diplomata.
Em audiência, Morales justificou a posse dessas imagens com uma descoberta casual durante uma “análise de segurança” do computador da pessoa. O diplomata entrou com ação judicial contra Morales.
A investigação sobre a espionagem de Assange e Correa segue em tramitação na Suprema Corte Equatoriana.
Morales também é envolvido em outra ação judicial por espionagem contra o ex-presidente e o fundador do Wikileaks, em 2019, quando era dono da empresa de segurança Undercover Global. Ele foi preso naquele ano, quando se deslocava para uma nova residência em Lisboa.
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