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A Semana: Desespero golpista

Carla Zambelli encomendou invasão de urnas eletrônicas, diz hacker à PF

A Semana: Desespero golpista
A Semana: Desespero golpista
Delgatti falhou na missão e atestou a segurança do sistema eleitoral – Imagem: Redes sociais
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Responsável por expor o conluio do ex-juiz Sergio Moro com procuradores da Lava Jato para prender Lula a qualquer custo, o hacker Walter Delgatti Netto afirmou à Polícia Federal que a deputada Carla Zambelli, do PSL paulista, o acionou para invadir as urnas eletrônicas, bem como a conta de e-mail e o telefone de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

O pedido foi feito, segundo o hacker, durante um encontro sigiloso na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, em setembro de 2022. Com Lula na dianteira nas pesquisas, o então presidente Jair Bolsonaro apelava para a fake news de que o sistema eleitoral estava vulnerável a fraudes. De acordo com a jornalista ­Andrea Sadi, da GloboNews, ­Delgatti admitiu não ter conseguido acessar as urnas nem o celular de Moares. Tampouco achou algo comprometedor na conta de e-mail do magistrado, à qual teve acesso em 2019.

Por meio de nota, Zambelli disse que “desconhece e nega os fatos noticiados”, mas o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tratou de atiçar a fogueira. Na terça-feira 11, revelou que a parlamentar levou o hacker para conhecê-lo durante o período eleitoral. Segundo o dirigente, Delgatti se ofereceu para trabalhar para o PL, mas não foi contratado.

Escolas desmilitarizadas

O governo Lula finalmente iniciou o processo de extinção das escolas cívico-militares. Na segunda-feira 10, o ministro Camilo Santana encaminhou ofício para as secretarias de Educação para comunicar o “progressivo encerramento do programa”. Até o fim do ano letivo, militares da reserva, policiais e bombeiros devem ser afastados da administração escolar. Os alunos não precisarão mais usar fardas nem se submeter à disciplina militar. Jair Bolsonaro investiu 104 milhões de reais até 2022 para incluir 215 escolas no modelo. Os colégios puramente militares, geridos pelo Exército, não serão impactados. A desmilitarização só deve ocorrer nas instituições de ensino com currículo definido pelos governos.

CPMI do Golpe/ Silêncio até sobre a idade

Mauro Cid se cala e comissão aprova quebra de sigilos de militares

O ex-ajudante de ordens parece disposto a segurar o rojão sozinho – Imagem: Pedro França/Ag.Senado

O silêncio do tenente-coronel Mauro Cid na CPMI do 8 de ­Janeiro, nesta terça-feira 11, frustrou a estratégia que alguns governistas haviam traçado em reunião na véspera no depoimento. Sob a tese de que Cid fora abandonado por Jair Bolsonaro, parlamentares cogitaram convencer o militar a não assumir sozinho as responsabilidades a ele atribuídas.

Não colou. Amparado por um habeas corpus concedido pela ministra Cármen Lúcia, do STF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro permaneceu calado até quando lhe perguntaram a sua idade. Preso desde 3 de maio por fraudar cartões de vacinação e alvo de oito inquéritos, ele não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Os governistas não saíram, porém, com as mãos abanando. Conseguiram aprovar na comissão a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Mauro Cid, do coronel Jean Lawand, com quem o ajudante de ordens trocou mensagens de teor golpista, e de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, que armou operações para dificultar o deslocamento de eleitores de Lula no segundo turno das eleições de 2022 e tardou a agir diante dos bloqueios de estradas montados por bolsonaristas inconformados com a vitória de Lula.

Imigração/ Tragédia humanitária

Nigerianos são resgatados em leme de navio no mar do Espírito Santo

Os imigrantes clandestinos estavam sem alimentos nem água potável há dias – Imagem: PF/ES

Quatro nigerianos foram resgatados no leme de um navio cargueiro pela Polícia Federal no Espírito Santo na segunda-feira 10. Os imigrantes clandestinos passaram duas semanas escondidos em um espaço de 2 metros quadrados, sob o risco de cair no mar a qualquer momento. Com bandeira da Libéria, a embarcação partiu de ­Lagos, na Nigéria, em 27 de junho. O percurso de 5,5 mil quilômetros até a costa brasileira demorou 13 dias. No terceiro, já não havia alimento. No décimo, faltava água.

Os intrusos foram detectados durante uma troca de tripulação no navio, que havia parado em águas capixabas. O comandante da embarcação foi avisado e acionou o Núcleo de Polícia Marítima da Polícia Federal. Todos foram resgatados no mar de Vitória em condições precárias de saúde e, “por motivos humanitários”, foi autorizado o desembarque. “Eles ficarão sob custódia da agência mercantil do navio até a devolução compulsória à Nigéria”, disse o delegado Eugênio Ricas, superintendente da PF no estado. O navio estava a caminho do Porto de Santos, no litoral paulista.

Insustentável leveza

A crítica à invasão das tropas soviéticas para conter a “Primavera de Praga” em 1968 e o posterior exílio na França, que lhe custaram a cidadania tcheca e o ostracismo no próprio país, colocaram Milan Kundera no radar do Ocidente. Seu livro mais conhecido, A Insustentável Leveza do Ser, fragmentos daqueles protestos contra o regime comunista, seria publicado em 1984, renderia um filme quatro anos depois, estrelado por Juliette Binoche e Daniel Day-Lewis, e eclipsaria os demais romances do autor. Traduzido em dezenas de países, A Insustentável Leveza do Ser foi um sucesso de público e de crítica e alçou o escritor à permanente lista de candidatos ao Nobel de Literatura, embora nunca tenha sido contemplado. Kundera morreu aos 94 anos na madrugada da quarta-feira 12.

Homofobia/ Intervenção providencial

Justiça ordena remoção de vídeos de André Valadão por discriminação

O pastor bolsonarista incitou a violência contra os LGBTQIA+ – Imagem: Redes sociais

A Justiça Federal de Minas Gerais determinou que o YouTube e o Instagram deletem conteúdos publicados pelo pastor bolsonarista André Valadão que incitam à violência homofóbica. A decisão estabelece a remoção do culto “Deus Odeia o Orgulho”, proferido pelo líder religioso a partir de uma unidade da Igreja Batista da Lagoinha em Orlando, nos EUA. Também deve ser excluído um vídeo em que Valadão diz que o movimento LGBTQIA+ seria responsável por sexualizar crianças.

Na decisão, o juiz José Carlos Machado Jr. estipulou prazo de cinco dias para o cumprimento da ordem. O caso foi levado ao Ministério Público Federal pela deputada federal ­Erika Hilton, do PSOL paulista. Segundo o magistrado, as declarações do pastor excederam “os limites da liberdade de expressão e de crença, oferecendo um risco potencial de incitar nos ouvintes e fiéis sentimentos de preconceito, aversão e agressão para com os cidadãos de orientação sexual diversa daquela defendida por ele”.

Ucrânia/ Um degrau abaixo

Washington vai liberar bombas de fragmentação aos aliados

A guerra se estende e os limites éticos continuam a ser ultrapassados – Imagem: Ministério da Defesa da Ucrânia

O tom grave foi incapaz de esconder o cinismo. Ao anunciar a decisão de fornecer bombas de fragmentação à Ucrânia, explosivo vetado pela Convenção de Oslo, o presidente dos EUA, Joe Biden, justificou-se: “Decisão difícil, porém necessária. Os ucranianos estão sem munição”. A indignação dos parceiros ocidentais durou 24 horas, no dia seguinte ao anúncio o assunto havia sido relegado a segundo plano, enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte se preparava para analisar a adesão da Suécia e decidir se daria início ao processo ucraniano. Houve até quem, na Europa, justificasse a iniciativa norte-americana. “Devemos lembrar que a Rússia já usou bombas de fragmentação em larga escala numa guerra ilegal de agressão”, afirmou Steffen Hebestreit, porta-voz do governo alemão. Esse tipo de arma, semelhante a um míssil, libera uma chuva de fragmentos em uma área do tamanho de um campo de futebol. Os efeitos são devastadores e imprevisíveis – alguns dos explosivos permanecem durante décadas no solo e se tornam um risco para quem frequenta a região. As bombas, inventadas na Segunda Guerra, estão proibidas desde 2008. Dimitry Medved, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, ameaçou: “Como resultado, o regime de Kiev está a destruir os restos de seu país. Agora, esgotados todos os recursos, Biden promete bombas de fragmentação e novamente tenta os neonazis em Kiev com a perspectiva de ingresso na Otan, cuja concretização significa uma Terceira Guerra Mundial”. O conflito aproxima-se dos 500 dias e o duplo padrão é norma. Prevalecem os dois pesos e as ­duas medidas na hora de avaliar o papel de cada lado na guerra insana.

O calor mata

revista científica Nature Medicine. Segundo a publicação, sem medidas adequadas de combate às mudanças climáticas, o número pode se aproximar das 95 mil mortes por volta de 2040. O verão de 2022 foi o mais quente registrado na história do continente. “Sabíamos dos efeitos do calor na mortalidade desde o precedente de 2003, afirma Hicham Achebak, um dos responsáveis pelo levantamento. “Mas com esta análise fica claro que ainda há muito trabalho a ser feito para proteger a população.”

Publicado na edição n° 1268 de CartaCapital, em 19 de julho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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