Economia

assine e leia

Sem desculpa

A deflação de junho torna mais urgente o corte na taxa Selic, a mais alta do planeta

Sem desculpa
Sem desculpa
O presidente do BC não presta contas a ninguém – Imagem: Raphael Ribeiro/BCB
Apoie Siga-nos no

O governo, o mercado financeiro e os brasileiros em geral esperam a próxima desculpa de Roberto Campos Neto, caso o Comitê de Política Monetária do Banco Central não inicie na reunião de agosto o ciclo de corte nas taxas de juro, hoje em 13,75%. Presidente da instituição, Campos Neto, à revelia das evidências e até da pressão dos pares da Faria Lima, tem adiado o corte na Selic sob o argumento de que o processo inflacionário no País ainda inspira cautela.

O resultado de junho contraria, no entanto, o excesso de zelo do banqueiro central. O IPCA, principal índice de preços, registrou uma deflação de 0,08%, a primeira desde setembro do ano passado. No acumulado de 12 meses, o porcentual ficou em 3,16%, dentro, portanto, do centro da meta, de 3,25%. As estimativas projetam uma inflação perto de zero em julho e altas mensais entre 0,3% e 0,6% até dezembro. Segundo os analistas, o índice fechará o ano fiscal em 4,95%, um pouco acima da margem superior da meta. No mercado financeiro, aposta-se em um corte de 0,25 ponto porcentual da Selic daqui a menos de um mês, mas há quem veja espaço para mais ousadia. Na terça-feira 11, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a deflação e disse esperar “boas notícias em agosto”. A queda nos preços, afirmou o ministro, é outro sinal do processo de recuperação da economia brasileira. O presidente Lula preferiu ser enfático. Campos Neto, disparou, é “teimoso” e “tinhoso” e chegou a hora de uma redução mais substantiva dos juros.

Campos Neto é “tinhoso”, disparou Lula

Depois de agosto, restarão três ­reuniões do Copom até o fim do ano. A maioria dos analistas aposta em um corte total de 1,75 ponto porcentual da Selic, que recuaria para 12% ao ano, ainda elevada para os atuais padrões internacionais. Na quarta-feira 12, dois novos diretores indicados pelo governo Lula tomaram posse no BC, a tempo de participar do próximo Copom. Ailton Aquino, funcionário de carreira, assumiu a Diretoria de Fiscalização. Na Diretoria de Política Monetária, posto importante no debate interno da instituição, entra Gabriel ­Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda e cotado para assumir a presidência do banco em 2024, quando termina o mandato de Campos Neto.

O esperado corte na taxa de juros vai reduzir, mas não eliminar a tensão entre o BC e o Palácio do Planalto. •

Publicado na edição n° 1268 de CartaCapital, em 19 de julho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Sem desculpa’

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo