Esporte
Esperanças renovadas
Com a Seleção feminina às portas da Copa e Diniz indicado para assumir interinamente a masculina, vemos um futuro possível se desenhando


Confesso que pensei seriamente em deixar de lado o futebol brasileiro masculino e me dedicar a acompanhar exclusivamente o feminino, que vem crescendo rápido, em todos os sentidos.
Esse pensamento ganhou força principalmente depois de eu ter visto o clássico entre Palmeiras e Botafogo.
Foi um jogo muito bom para os padrões atuais, mas foi, ao mesmo tempo, um jogo mecanizado, causador de um desgaste desnecessário. Vimos choques e paralisações a todo instante.
Os torcedores, neste momento, me parecem unânimes na demonstração de descontentamento diante dessa situação.
Mas, felizmente, recuei da minha ideia a tempo de assistir ao vivo, no Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio, o “clássico da amizade” entre Botafogo e Vasco da Gama.
A partida, realizada no domingo 2, marcou o início do período que se inicia após a saída tempestuosa e barulhenta do técnico Luís Castro, que vai treinar o Al-Nassr da Arábia Saudita.
A vitória tranquila, por 2 a 0, indica que o alvinegro estrelado pode dar sequência à sua trajetória em busca de recuperar o brilho de sua história gloriosa.
Bem verdade que o resultado se deve também ao fato de que o Vasco anda desencontrado. Mas o time da Cruz de Malta vai acertar o passo (e os passes) a qualquer momento, até porque, assim como o Botafogo, tem um passado honroso.
O mais importante foi ver o jogo transcorrer em um ritmo igualmente forte, mas sem os atropelos desesperados da tal “intensidade”. As paralisações também foram muitas, mas, pelo menos, ambos os times procuraram se valer mais da técnica do que da força física.
Depois disso, as notícias que se seguiram foram auspiciosas.
A Seleção feminina conta com apoio de uma estrutura sólida que foi sendo construída com cuidado desde a formação da comissão técnica, encabeçada pela sueca Pia Sundhage.
Agora, às vésperas do início da Copa do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia, os cuidados são muitos. Entre eles estão desde a necessária adaptação à diferença de fusos horários no outro lado do mundo até a alimentação.
A competição terá início em duas semanas e, ganhar ou não, é do jogo. As condições estão dadas em um ambiente de camaradagem que, ao menos pelo que se nota, é excelente.
Outro anúncio importante da semana foi a escolha de Fernando Diniz para o mandato-tampão até a suposta chegada do italiano Carlo Ancelotti.
Temos, dessa forma, certo alívio, embora reste um grande suspense pela apresentação do nome principal.
Ainda se discute a opção feita pela direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas, pessoalmente, vejo coerência nas atitudes do seu presidente.
Já mencionei, aqui neste espaço, o caminho definido pela Argentina: uma solução doméstica que acabou levantando brilhantemente a taça.
Mas, no nosso caso, talvez não tivéssemos, como os hermanos, um nome com a intimidade necessária para a condução do processo de formação do Selecionado.
Fechada a opção por se disputar o dispendioso mercado internacional, alguns nomes vieram à baila, sendo os de Guardiola e Ancelotti os mais destacados.
O treinador espanhol parecia o mais indicado pelas numerosas conquistas, pela proximidade com o nosso estilo tradicional e pelo fato de que ele sempre destacou a preferência pela “escola” brasileira.
O italiano, por outro lado, demonstrou, nas últimas glórias de sua vitoriosa carreira, um equilíbrio muito grande diante das situações decisivas.
Deve ter contado para a sua escolha a proximidade, como técnico do Real Madrid, com nomes destacados dentre os jogadores brasileiros. Ancelotti convive diariamente com Vinícius Júnior, Rodrygo e Militão.
Embora tudo fizesse pensar que Ancelotti não deixaria a estabilidade à frente do clube mais vencedor do futebol mundial para assumir a Seleção Brasileira, a insistência do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, parece ter surtido efeito.
Na escolha de Fernando Diniz, Rodrigues mostrou, além de autoconfiança, um atributo que ele destacou no treinador, mas que deve ser aplicado a ele mesmo: arrojo.
Outra razão para aumentar a esperança no futuro do nosso futebol foram as declarações de Diniz. Ele cristalizou sua concepção de apostar na inventividade e na criatividade, indo na direção oposta dessa maré de jogadores robotizados, obrigados a cumprir apenas funções predeterminadas.
Agora é defender essa concepção na prática, no dia a dia. •
Publicado na edição n° 1267 de CartaCapital, em 12 de julho de 2023.
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