O coração ‘São João’ de Alceu Valença: ‘É xote, xaxado, baião’

Alceu Valença acaba de lançar Meu Querido São João – Ao Vivo na Fundição Progresso (Deckdisc). O trabalho com registro audiovisual percorre os ritmos que referenciam os festejos juninos, marcantes na infância do cantor e compositor.

“A minha formação é da cultura do sertão profundo. Essa cultura estava na minha cidade, que é no agreste meridional de Pernambuco e entra no sertão”, contou a CartaCapital. “Essa foi minha formação primal. Em São Bento do Una escutava isso de maneira natural.”

Ele relata que quando pequeno ouvia os aboiadores na caatinga, enquanto na feira da cidade estavam violeiros, sanfoneiros, tocadores de rabeca e cordelistas. “Isso foi entrando na minha memória”, diz.

Também ouvia nos alto-falantes da pequena São Bento do Una Luiz Gonzaga. Na fazenda do pai, assistia às quadrilhas promovidas pela parentada.

No disco recém-lançado, Alceu Valença passeia por ritmos do interior do Nordeste, de Luiz Gonzaga até as músicas de sua autoria. “Eu sei aboiar, eu sei cantar embolada, eu sei cantar do mesmo jeito de Gonzagão e também a obra dele”, afirma.

“Meu coração é balão, meu coração é São João. Meu coração é Luiz Gonzaga, meu coração é xote, xaxado, baião”, brinca, parafraseando música de sua autoria, Coração Bobo, gravada nesse novo disco.

Alceu tem dois álbuns somente de forró – Forró de Todos os Tempos (1991) e Forró Lunar (2001) -, mas o gênero e suas ramificações são onipresentes em outros trabalhos.

O músico pernambucano tem uma caraterística que o difere de muitos artistas: ele tem também repertório para o carnaval.

Quando se mudou para o Recife, entre 8 e 9 anos, Alceu Valença conta que pela rua dos Palmares, na região central, passavam bandas de frevo, maracatus e caboclinhos.

“Ficou na minha memória igual em São Bento do Una”, comenta. Esse foi outro passo importante para que, quando mergulhasse na carreira de músico, a face musical carnavalesca se fizesse presente.

No repertório do disco ao vivo dedicado ao São João estão, entre outras: Pagode Russo (Luiz Gonzaga e João da Silva), O Xote das Meninas (Zé Dantas e Luiz Gonzaga), Como Dois Animais (Alceu Valença), Táxi Lunar (Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho), La Belle de Jour (Alceu Valença) e Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto).

Alceu Valença também lançará sua biografia, intitulada Pelas Ruas que Andei, escrita por Julio Moura, no Recife (27/6), no Rio de Janeiro (25/7) e em São Paulo (27/7).