Política
Leia a íntegra das mensagens golpistas de Mauro Cid e coronel em relatório da PF
O documento também contém detalhes da trama para aplicar um golpe de Estado no Brasil


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, retirou nesta sexta-feira 16 o sigilo do relatório produzido pela Polícia Federal sobre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
Ele também oficiou o comando da PF para instaurar imediatamente um procedimento de apuração sobre o vazamento de trechos do documento.
Os diálogos apresentados no relatório foram mantidos em 2022 entre Cid e o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército.
“Soube agora que não vai sair nada”, escreveu Lawand Junior. “Decepção irmão. Entregaram o país aos bandidos”, acrescentou. A mensagem é de 21 de dezembro. Menos de três minutos depois, Cid respondeu: “Infelizmente”. Dias antes, os dois haviam debatido a “necessidade” de se “dar a ordem” para um plano golpista.
“CID, pelo amor de Deus, o homem [Jair Bolsonaro] tem que dar a ordem”, suplicou Lawand Junior em 10 de dezembro. O mesmo pedido já havia sido feito pelo militar, em áudio, nove dias antes. Naquela ocasião, Cid respondeu que o então presidente não “daria a ordem” por não confiar no ACE, uma alusão ao Alto Comando do Exército.
O relatório da PF também contém detalhes da trama para aplicar um golpe de Estado no Brasil, a envolver o afastamento de ministros do STF e o início de uma nova intervenção militar.
Um dos documentos obtidos era intitulado Forças Armadas como poder moderador. Trata-se, mais uma vez, de uma interpretação da Constituição segundo a qual os militares poderiam ser convocados a intermediar um conflito entre Poderes.
O passo a passo golpista descrito pelo arquivo previa que Bolsonaro encaminhasse ao comando das Forças Armadas um relato de supostos atos inconstitucionais do Judiciário. Se a demanda fosse aceita pela caserna, um interventor seria nomeado e fixaria um prazo para o “restabelecimento da ordem constitucional”. Poderia ser de um mês, um ano ou mais.
Nesse período, o interventor suspenderia decisões que julgasse inconstitucionais – a diplomação de Lula (PT), por exemplo – e afastaria ministros do STF.
Leia a íntegra do relatório da PF:
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