Política

Governo publica direito de resposta de familiares das vítimas do major Curió na ditadura

Em 2020, governo Bolsonaro exaltou memória do militar responsável pelo homicídio e ocultação de cadáveres de opositores da ditadura militar no Araguaia

Governo publica direito de resposta de familiares das vítimas do major Curió na ditadura
Governo publica direito de resposta de familiares das vítimas do major Curió na ditadura
O coronel reformado do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, durante visita a Jair Bolsonaro, em 2020. Foto: Reprodução/Redes Sociais
Apoie Siga-nos no

O governo federal publicou, nesta segunda-feira 12, um direito de resposta de familiares das vítimas de um dos mais importantes comandantes da repressão na guerrilha do Araguaia, nos anos 1960 e 1970, conhecido como major Curió. A publicação atende a uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, confirmada ainda em 2021.

Em 5 de maio de 2020, o governo brasileiro, ainda durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fez uma postagem exaltando a memória de Sebastião Curió Rodrigues de Moura. Chamado de “herói nacional” pelo governo Bolsonaro, o major, falecido no ano passado, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por homicídio e ocultação de cadáveres.

Ele foi um dos líderes da repressão à guerrilha do Araguaia, um dos mais importantes movimentos contrários à ditadura militar. As ações contrárias ao regime foram comandadas por membros do PCdoB e do PCB. À época, mais de 60 opositores da ditadura foram mortos e a atuação do major Curió e dos militares subordinados a ele, segundo o MPF, foi determinante no “ataque sistemático e generalizado contra a população civil brasileira”.

Após a postagem realizada no ano passado, familiares das vítimas ingressaram com uma ação judicial contra a manifestação do governo Bolsonaro. Com o aval da Justiça, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República do governo Lula (PT) afirmou que fará a “reparação histórica”. 

“Além de desinformar sobre eventos históricos de amplo conhecimento e tratar como honroso o momento mais repulsivo da história recente do país, a postagem que motivou ação judicial, realizada na gestão de Jair Bolsonaro, tratava como ‘herói do Brasil’ o homem que ordenou a prisão, tortura e execução de cidadãos brasileiros que defendiam a democracia durante o regime militar, em especial os que atuaram na guerrilha do Araguaia, na região de Tocantins, Pará e Maranhão”, explica a pasta em nota.

“Não é herói. Nada justifica a tortura, a mais covarde das violências”, finaliza o comunicado do governo federal. 

Confira a íntegra do direito de resposta:

O governo brasileiro, na atuação contra a guerrilha do Araguaia, violou os Direitos Humanos, praticou torturas e homicídios, sendo condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por tais fatos. Um dos participantes destas violações foi o Major Curió e, portanto, nunca poderá ser chamado de herói. A SECOM retifica a divulgação ilegal que fez sobre o tema, em respeito ao direito à verdade e à memória.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para unir e reconstruir o país. Entre as diversas realizações de seu governo está a retomada da Comissão de Anistia que, após quatro anos atuando em contrário ao seu propósito original, retomou, em 30 de março, seu propósito original, que é promover reparação às vítimas das injustiças praticadas pelo Estado brasileiro. Atuar por memória, verdade, justiça e reparação.

O direito de resposta publicado neste dia 12 simboliza, também, direito ao futuro. O Brasil voltou e isso é só o começo.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo