Sociedade
Líder indígena Tembé é alvo de pistoleiros no Pará
Líder indígena denunciava os abusos e conflitos de território promovidos por gigante do setor de produção de azeite de dendê


O cacique Lúcio Tembé foi alvo de uma emboscada neste sábado 13 em Tomé-Açu, no nordeste paraense. O líder indígena foi baleado na cabeça e está internado em estado grave em um Hospital na Grande Belém.
Segundo relato, ele tentava desatolar o próprio veículo em uma estrada que dá acesso ao território da aldeia Turé-Mariquita quando foi atingido por disparos feitos por dois pistoleiros ainda não identificados.
Em entrevista ao Congresso em Foco, representantes da comunidade Tembé afirmam que Lúcio estava acompanhado de um sobrinho que presenciou a ação criminosa e escondeu o corpo do tio em uma mata próxima até a manhã de domingo, quando pode pedir ajuda a pessoas que passavam pela estrada.
Lúcio Tembé é considerado uma das principais lideranças indígenas no estado do Pará e dá o rosto a luta contra os abusos da indústria de óleo de dendê que cercam a região no Vale do Acará.
O ataque é investigado pela Polícia Civil, que até o momento não encontrou possíveis suspeitos. O Ministério Público Federal requisitou, no domingo 14, providências urgentes à Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, a Segup, para esclarecer a tentativa de homicídio.
Para o MPF, é possível que o ataque esteja ligado a uma série de violência que os indígenas Tembé estão sofrendo em meio ao conflito com empresas produtoras de dendê na região. Desde a instalação da empresa Brasil BioFuels ao redor da Terra Indígena Turé Mariquita, outros episódios violentos já haviam ocorrido.
Em abril deste ano, Eduardo Schmmelpfeng da Costa Coelho, dono da Brasil BioFuels, foi denunciado pela tortura de 11 pessoas de outra comunidade indígena, no Vale do Bucaia, em outubro de 2021. Segundo relato, a mando da empresa indígenas foram espancados com chutes, socos e obrigados a inalar spray de pimenta. Embora o MPF recomende a prisão de Eduardo e parte do quadro executivo, o CEO responde à investigação em liberdade.
O que diz o grupo BBF
O grupo BBF nega a existência da situação e alega ser uma narrativa criada por dois ex-funcionários demitidos devido a condutas antiéticas e que buscam afetar a reputação da imagem da empresa. Ainda segundo a nota, ambos respondem judicialmente pelos atos praticados contra o BFF.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Funai vai investigar irregularidades em compra de alimentos para indígenas durante governo Bolsonaro
Por André Lucena
CIDH emite medida cautelar para proteger indígenas Pataxó no sul da Bahia
Por Caio César
Morre pesquisador Marcelo Zelic, defensor dos povos indígenas
Por Agência Brasil