

Opinião
Duelos entre os grandes
Na semifinal da Champions League, a disputa feroz entre Vinícius Jr., do Real Madrid, e Walker, do Manchester City, acabou em um abraço fraterno


A profusão de casos de aliciamento de jogadores nas trapalhadas de apostas por baixo do pano, sem falar naquelas feitas por meio de sites oficializados, tomou o noticiário de esportes nesta semana em que perdemos a corintiana Rita Lee.
É que o Ministério Público de Goiás
iniciou mais uma operação para investigar a manipulação em jogos de futebol, tendo, na mira, não apenas as casas de apostas, mas também alguns jogadores.
À medida que se vai desfiando o rolo do comprometimento dos personagens dessa história, ela fica cada vez mais vergonhosa, até porque fere o sentido das disputas esportivas e leva à queda de confiança dos torcedores em seus times.
Já nos bastavam os nomes dessas casas de apostas poluindo os uniformes e tomando a mídia, com suas propagandas.
O Vasco deu o primeiro passo, anunciando a elaboração de uma cartilha que tratará da obrigatoriedade de o jogador aliciado comunicar ao clube e da proibição de apostas pelos atletas.
Também esta semana foi aprovada, no Senado, a Lei Geral do Esporte, que segue para a sanção presidencial.
Outra notícia ruim é a trapalhada no vôlei. Depois de muita confusão, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) assegurou a presença das nossas seleções masculina e feminina no Pré-Olímpico e também nos Jogos Pan-Americanos.
Os desencontros das decisões do COB e da Confederação Brasileira de Vôlei com os órgãos internacionais só servem para botar mais lenha nesta fogueira de absurdos. Mas, felizmente, as notícias positivas superam essas ruins.
Tivemos jogos decisivos muito disputados, alguns deles de bom nível técnico, a despeito da tal intensidade que, no fim, não passa de eufemismo para a correria desenfreada em que anda o mundo.
É fato que intensidade sempre houve. Basta rever decisões como Santos vs. Boca Juniors ou relembrar o “quebra-pau” dos antigos sul-americanos de seleções. A questão é o total domínio da força física sobre a criatividade.
Mesmo o clássico entre dois dos melhores times do momento, Real Madrid e Manchester City, jogado com grande categoria, com a bola no chão, teve alguns chutões e jogadas ríspidas, ainda que sem deslealdade.
Na primeira semifinal da Champions League, o duelo feroz entre o brasileirinho Vinícius Jr., da equipe espanhola, e o lateral Walker, do time inglês, acabou num abraço fraterno.
Do outro lado, na mesma extrema-esquerda, o “pega pra capar” entre os dois sarados rivais Carvajal e Grealish esquentou o clima. Mas ninguém esqueceu o respeito profissional, e sobrou bola dividida até para o elegante Toni Kroos, incapaz de qualquer violência. Ao final, o resultado ficou em 1 a 1, com dois golaços, um de Vinícius e outro do belga De Bruyne.
Vinícius Jr. está mesmo em estado de graça. São impressionantes sua coordenação e sua forma física. Ele escorrega entre os zagueiros de cabeça em pé, deslizando ensaboado. É o maior destaque do futebol na Europa, cotado para ser escolhido o craque do ano.
Cabe lembrar que se tratava do jogo de ida. O segundo jogo será na Inglaterra, de onde o vencedor sairá para a grande final, a ser disputada no dia 10 de junho, no Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul, na Turquia.
A definição entre os dois times de Milão (Milan e Internazionale), para ver quem é o outro que chega à finalíssima, trouxe de volta, depois de muitos anos, a atenção para os italianos.
Nos faz lembrar até do tempo em que a Itália era o destino preferido dos profissionais de futebol, e Inter, Milan e Juventus de Turim eram os protagonistas que representavam o rico Norte da “bota” europeia.
Torcemos para que a Inter, que ganhou do Milan por 2 a 0 no jogo de ida, represente o retorno dos apaixonados italianos ao topo do futebol, depois do desencanto trazido pela desclassificação da Azzurra para a Copa do Catar, em 2022. •
Publicado na edição n° 1259 de CartaCapital, em 17 de maio de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Duelos entre os grandes’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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