CartaCapital
Terra Yanomâmi/ Faroeste amazônico
Em dois dias, confrontos na região resultaram na morte de um indígena e 12 garimpeiros ilegais


O processo de desintrusão da Terra Yanomâmi não está ocorrendo de forma pacífica e parece fugir do controle das autoridades. No sábado 29, garimpeiros executaram o agente de saúde indígena Ilson Xiriana, de 36 anos, com um tiro na cabeça e balearam outros dois homens da etnia durante uma cerimônia fúnebre na comunidade Uxiu, às margens do Rio Mucajaí.
No dia seguinte, agentes da Polícia Rodoviária Federal e do Ibama foram atacados ao desembarcar de uma aeronave para fiscalização de uma área de garimpo. No confronto, quatro criminosos foram abatidos, entre eles Sandro Moraes de Carvalho, chefe de uma facção que controla a extração ilegal de ouro na região. Com o bando foram apreendidos um fuzil, três pistolas e sete espingardas, além de carregadores e munições.
Ainda no domingo 30, a Polícia Federal encontrou os corpos de oito garimpeiros em uma cratera na região de Uxiu, a mesma onde ocorreu o assassinato de Xiriana. Localizados durante um sobrevoo na região, os cadáveres apresentavam perfurações de balas e flechas, o que levanta a suspeita de uma retaliação dos indígenas ao ataque ocorrido no dia anterior.
Na segunda 1º, as ministras Marina Silva (Meio Ambiente), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Nísia Trindade (Saúde) viajaram para a região, acompanhadas de agentes da PF, do Ibama e da Funai, para averiguar a situação. Elas anunciaram que o governo vai intensificar as ações de desintrusão, mas cerca de 20% dos garimpeiros que atuavam na terra indígena no início do ano se negam a sair. “Eles estão ali para provocar esses conflitos”, lamentou Guajajara. “Queremos amenizar a situação. Não queremos mais derramamento de sangue”.
“Menos um fazendo o L”
Após matar atropelado um jovem na ligação Leste-Oeste, região central de São Paulo, um motorista de aplicativo debochou da vítima no Instagram. “Menos um fazendo o L”, disse, em alusão aos eleitores de Lula. Christopher Rodrigues, de 27 anos, admitiu em um dos vídeos publicados na rede social ter atropelado Matheus Campos da Silva, de 21 anos, após presenciar a vítima furtando outro condutor. “É ladrão de celular. Ladrão, foda-se”, declarou, ao filmar o corpo debaixo de seu Ford Ka. O caso foi registrado no 78º DP, dos Jardins, como “morte suspeita/acidental”. A Polícia Civil pretende esclarecer se o homicídio foi culposo ou doloso (com intenção de matar), embora a confissão gravada não dê margem para tanta dúvida. A Uber e a 99 Táxi baniram o colaborador de seus aplicativos.
Vôlei/ Fim de carreira
Conselho de Ética do COB suspende Wallace por cinco anos e corta verba da CBV
A desobediência pode causar a aposentadoria precoce do atleta – Imagem: Sada/Cruzeiro Vôlei
O tiro de Wallace e da Confederação Brasileira de Vôlei saiu pela culatra. Suspenso por 90 dias pelo Conselho de Ética do Comitê Olímpico Brasileiro por sugerir, em enquete nas redes sociais, “um tiro na cara de Lula” com uma escopeta calibre 12, o jogador do Sada Cruzeiro não poderia disputar a final da Superliga masculina de vôlei, no domingo 30. Amparado por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o atleta não apenas marcou presença no banco de reservas como também entrou na partida para marcar o ponto que deu o título ao time mineiro.
Diante da provocação, o Conselho de Ética do COB aumentou a suspensão de Wallace de três meses para cinco anos, o que na prática abrevia a aposentadoria do atleta. Além disso, decidiu cortar os repasses financeiros para a CBV por seis meses, inclusive a verba das loterias. No entender do colegiado, a confederação não poderia ter liberado a entrada do atleta, até porque o STJD faz parte da estrutura da CBV e não pode se sobrepor a uma decisão do COB, entidade superior no sistema olímpico.
“Impossível crer que qualquer pessoa dotada de racionalidade mediana pense ser ético para um esportista olímpico sugerir tiros de arma de grosso calibre em qualquer pessoa, menos ainda na autoridade máxima do País. Impossível achar que não merece punição quem se utiliza da fama de esportista para incitar a violência contra quem quer que seja.”
Fogueira bolsonarista
A Academia Brasileira de Letras repudiou a retirada do livro Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino, do vestibular da Universidade de Rio Verde, em Goiás. A instituição de ensino removeu a obra da lista de leituras obrigatórias após pressão do deputado bolsonarista Gustavo Gayer, do PL, que qualificou a obra como “pornográfica” em suas redes sociais. Para a ABL, a universidade “cedeu a pressões políticas obscurantistas”. Como o próprio autor desabafou em recente entrevista ao jornal O Globo, trata-se de um evidente ato de censura, a refletir “a cara do Brasil de hoje”. Do Brasil pós-Bolsonaro, convémdeixar mais claro.
Santa Catarina/ Pau que bate em Chico…
Por que a prisão de 15 prefeitos bolsonaristas passa despercebida?
A investigação revelou um esquema de corrupção em licitações do lixo – Imagem: MPSC/Gaeco
No estado mais bolsonarista do Brasil, 15 prefeitos foram presos por envolvimento em um esquema de corrupção nas licitações de coleta de lixo de diversos municípios. Somente na última quinta-feira 27, quando foi deflagrada a 4ª fase da Operação Mensageiro, foram cumpridos mandados de prisão contra oito prefeitos catarinenses. Na ocasião, eles se uniram a outros sete gestores municipais detidos em fases anteriores da investigação.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Santa Catarina apura o caso há cerca de um ano e meio, com base em delações premiadas, quebras de sigilos telemáticos e apreensões de documentos. O escândalo já atingiu seis partidos (PL, MDB, PSD, PP, Republicanos, Patriota, PSD), mas ainda não mereceu muito destaque no noticiário nacional. Talvez porque os acusados sejam probos apoiadores de Jair Bolsonaro. Imaginem o escarcéu se fossem lulistas…
EUA/ Assíduo nos tribunais
Trump agora enfrenta processo por estupro e difamação
Imagem: Gage Skidmore
Disputar as eleições presidenciais em 2024 – e vencer – é, a esta altura, a boia de salvação do republicano Donald Trump. O mar não está para peixes, embora o ex-presidente tenha um histórico favorável quando se trata de escapar das garras da Justiça. Após virar réu no caso de suborno da atriz pornô Stormy Daniels, Trump voltou ao tribunal para responder às denúncias de estupro e difamação feitas pela escritora E. Jean Carroll, ex-colunista da revista feminina Elle. O crime teria acontecido em 1996 e não foi o primeiro. Segundo Jessica Leeds, testemunha de acusação, o empresário a teria assediado durante um voo no fim dos anos 1970. Leeds disse ter sido obrigada a trocar de assento na primeira classe para escapar da importunação sexual. “Surgiu do nada, tentou me beijar, tocar meus seios. Colocou a mão por baixo da minha blusa. Pareceu uma eternidade”, afirmou sob juramento. Trump encara ainda ações por fraude fiscal e sedição, em decorrência do estímulo à invasão do Capitólio.
Nazistas, não
Na terça-feira 2, a Suprema Corte da Grécia vetou a participação do partido Os Helenos, ligado ao grupo neonazista Amanhecer Dourado, nas eleições legislativas de 21 de maio. Da prisão, Ilias Kassidiaris, líder da legenda, havia confrontado a legislação e anunciado a intenção de concorrer a uma vaga de deputado na capital, Atenas. Uma emenda à lei eleitoral aprovada pelo Parlamento em fevereiro proíbe a participação de partidos cujos líderes tenham sido condenados por participação em organizações criminosas.
Tecnologia/ Não será por falta de aviso
O “padrinho” da IA alerta para os crescentes perigos dos sistemas
Hinton está preocupado com a velocidade das pesquisas – Imagem: John Guatto/Universidade de Toronto
Geoffrey Hinton, chamado de “padrinho” da Inteligência Artificial, demitiu-se do Google, não sem alarde. O psicólogo e cientista da computação de 75 anos decidiu alertar os seres humanos sobre os crescentes perigos da tecnologia. À rede de tevê britânica BBC, o pesquisador disse que certas características dos robôs virtuais são “bastante assustadoras”. Hinton é mais um especialista a criticar a velocidade e a falta de parâmetros éticos no desenvolvimento da IA, apesar de ter elogiado a maneira “muito responsável” com que o Google lida com o tema. “Neste momento, eles não são mais inteligentes do que nós, até onde sei. Mas acho que em breve poderão ser.” As pesquisas pioneiras do cientista sobre aprendizagem profunda e redes neurais impulsionaram os atuais sistemas, entre eles o ChatGPT. “O tipo de inteligência que estamos desenvolvendo é muito diferente da inteligência que temos.”
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