Giuliano Galli

giulianogalli@cartacapital.com.br

Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP e pesquisador de comunicação popular, comunitária e alternativa. Coordena o programa de defesa da liberdade de expressão do Instituto Vladimir Herzog.

Opinião

Não há democracia sem proteção da liberdade de imprensa

Entre 2019 e 2022, vivemos no Brasil um período trágico para a Liberdade de Imprensa sob o comando de Jair Bolsonaro

Não há democracia sem proteção da liberdade de imprensa
Não há democracia sem proteção da liberdade de imprensa
Bolsonaristas agridem jornalistas durante ação de desmonte em acampamento em BH. Foto: reprodução
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Hoje, 3 de maio, é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para enfatizar a importância do jornalismo para o bom funcionamento das sociedades democráticas.

Entre 2019 e 2022, vivemos no Brasil um período trágico para a Liberdade de Imprensa. Sob o comando de Jair Bolsonaro, a imprensa foi ameaçada, atacada e descredibilizada, inclusive pelo próprio ex-presidente. Mais do que isso: a principal política pública de proteção a jornalistas e comunicadores – o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) – foi completamente desmontada.

O caso de Dom Philips é emblemático: em junho de 2022, um jornalista respeitado nacional e internacionalmente foi brutalmente assassinado, junto com o indigenista Bruno Pereira, por denunciar crimes ambientais, perseguições a populações indígenas e o desmantelamento das iniciativas de fiscalização por parte do Governo Federal.

Apesar do fim do governo Bolsonaro, o bolsonarismo não acabou e, ao que tudo indica, continuará a ter força para impor violências em diversos campos da sociedade brasileira, entre eles o espaço em que atua a imprensa. Os atos criminosos de 8 de janeiro são exemplo disso: segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), mais de 40 jornalistas e comunicadores foram agredidos na invasão às sedes dos Três Poderes e na retirada dos acampamentos em frente a quartéis nos estados, nos dias subsequentes.

É preciso mudar essa realidade. É dever do Estado – e de toda a sociedade – garantir que a população tenha acesso a informações verdadeiras, plurais e de interesse público. Quando o ambiente em que as informações circulam está poluído por conteúdo falso ou por mentiras, o direito coletivo à liberdade de expressão é violado, pois a população não tem como estar bem informada e fica prejudicada na sua tarefa de tomar decisões que impactam na vida pública de todo o país. É exatamente isso que tem acontecido no Brasil e em diversos países do mundo e, portanto, a atuação do Estado para começar a transformar esse cenário é absolutamente urgente.

No Brasil, o novo governo dá sinais de que está atento à necessidade urgente de que a segurança dos profissionais da imprensa seja uma garantia. Nesse sentido, destacamos e saudamos o compromisso em investigar – e punir – os responsáveis pelos ataques a jornalistas em 8 de janeiro; e a criação do Observatório Nacional de Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A nova gestão também vem atuando, de forma decisiva, para aprovar o Projeto de Lei 2630, popularmente conhecido como “PL das fake-news”. A nova regulamentação sobre o tema, que já vem sendo amplamente debatida há pelo menos três anos, será uma ferramenta importante para que o ambiente digital, onde circula boa parte do conteúdo jornalístico produzido pela imprensa brasileira, se adeque às novas lógicas dos tempos atuais. Acima de tudo, a nova lei precisa atuar para combater a desinformação e preservar o direito à liberdade de expressão em seus âmbitos individual e coletivo.

Por fim, o dia de hoje é uma oportunidade para valorizar a atuação da sociedade civil brasileira no que diz respeito às iniciativas de proteção a jornalistas e comunicadores, combate à desinformação e defesa das liberdades de imprensa e de expressão. Mesmo em um momento tão complexo e difícil, como o vivido durante o último governo, as organizações do campo se uniram, desenvolveram iniciativas concretas, se mantiveram vigilantes e alcançaram êxitos concretos que impactam positivamente a vida de todos nós.

E é somente assim, a partir de um grande esforço coletivo, que seremos capazes de fazer com a liberdade de imprensa seja verdadeiramente entendida como um pilar do bom funcionamento de regimes democráticos no Brasil e no mundo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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