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Com saída de Bolsonaro, Brasil sobe 18 posições em ranking global de liberdade de imprensa

Relatório anual da Repórteres Sem Fronteiras aponta a saída de Jair Bolsonaro do poder como principal fator positivo para o exercício do jornalismo no país

Com saída de Bolsonaro, Brasil sobe 18 posições em ranking global de liberdade de imprensa
Com saída de Bolsonaro, Brasil sobe 18 posições em ranking global de liberdade de imprensa
Bolsonaro durante ataque a jornalista. (Foto: Reprodução)
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O Brasil subiu 18 posições no ranking global da liberdade de imprensa da Organização Não Governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgado nesta quarta-feira 3, data que marca o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. No ano passado, o país ocupava a 110ª posição do ranking – em uma lista com 180 países – e, agora, passa para a 92ª posição. 

O principal fator que contribuiu para a melhoria das condições para o exercício do jornalismo no Brasil, segundo o relatório da RSF, foi a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) do poder. A ONG aponta que o mandato do ex-presidente foi marcado por “uma forte hostilidade contra jornalistas”, uma vez que ele “atacou sistematicamente jornalistas e veículos de comunicação”. Em 2021, a RSF incluiu Bolsonaro na sua lista de “predadores da imprensa”. 

O relatório destaca que a alternância política beneficiou, especialmente, o Brasil e os Estados Unidos, fazendo menção, no caso norte-americano, à saída de Donald Trump da presidência.

Por outro lado, a RSF destacou que, nos últimos dez anos, pelo menos trinta jornalistas foram assassinados no Brasil. Esse dado, em específico, fez o Brasil ser “o segundo país mais perigoso da região para os profissionais da imprensa neste período”. Os profissionais mais vulneráveis, de acordo com a RSF, são “blogueiros, radialistas e jornalistas independentes que trabalham em municípios de pequeno e médio porte cobrindo corrupção e política local”.

Como no ano passado, a Noruega lidera o ranking global. Pela primeira vez, um país não nórdico ocupa a segunda posição do ranking (a Irlanda, que subiu quatro posições), seguido pela Dinamarca. No sentido oposto, o Vietnã (178º), a China (179º) e a Coreia do Norte (180º) ocupam os piores lugares no ranking da RSF. 

No contexto latino-americano, destaca-se a queda expressiva do Peru (um recuo de 33 posições), em razão da “longa turbulência política” que atravessa o país, segundo a RSF, o que “alimentou a desconfiança por parte da sociedade em relação às instituições, mas também em relação à própria imprensa, em particular após a destituição de Pedro Castillo”.

Desinformação em escala industrial

A edição de 2023 é a 21ª do ranking da RSF, que busca comparar o grau de liberdade desfrutado por jornalistas e meios de comunicação nos 180 países analisados. A ONG leva em consideração cinco indicadores principais: contexto político, arcabouço jurídico, contexto econômico, contexto sociocultural e segurança. De acordo com a RSF, neste ano, as condições para o exercício do jornalismo são satisfatórias em apenas 3 de cada 10 países analisados, sendo ruins em 7 a cada 10.

O ranking de 2023 faz um especial destaque para os “efeitos impressionantes da indústria da simulação no ecossistema digital”. Segundo a RSF, a desinformação ameaça, a nível global, o trabalho de jornalistas. Alguns efeitos específicos marcam o debate, no momento, como a propaganda política, as manipulações econômicas e as notícias falsas geradas pela Inteligência Artificial (IA).

De acordo com o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, há, no mundo, uma “indústria que permite que a desinformação seja produzida, distribuída ou amplificada”. Ele cita o papel de líderes de plataformas digitais que “não se importam em distribuir propaganda ou informações falsas”, citando abertamente o empresário Elon Musk, que recentemente se tornou proprietário do Twitter.

No momento, o Brasil vem tentando aprovar uma legislação específica sobre o tema, por meio de um projeto que vem sendo chamado de PL das Fake News, de relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Ontem, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação do projeto de lei, em um cenário marcado pela intensificação da pressão exercida pelas plataformas digitais – entre elas, Google e Meta.

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