Mundo
Alemanha: rara greve dos transportes paralisa grande parte do tráfego aéreo e ferroviário
Trabalhadores de aeroportos, portos, ferrovias, ônibus e linhas de metrô da maior economia da Europa atenderam a um apelo dos sindicatos Verdi e EVG para uma paralisação de 24 horas
Uma ampla greve paralisa grande parte do tráfego aéreo, dos serviços ferroviários e das linhas suburbanas da Alemanha nesta segunda-feira (27), com os trabalhadores exigindo aumentos salariais diante da forte inflação. Só nos aeroportos do país, a paralisação deve afetar cerca de 380 mil passageiros.
Trabalhadores de aeroportos, portos, ferrovias, ônibus e linhas de metrô da maior economia da Europa atenderam a um apelo dos sindicatos Verdi e EVG para uma paralisação de 24 horas.
“Uma luta trabalhista que não tem impacto é inútil”, disse o chefe do sindicato Verdi, Frank Werneke, à emissora pública Phoenix.
Ele reconheceu que a paralisação causaria transtornos a muitos passageiros e turistas, “mas é melhor um dia de tensão com a perspectiva de se chegar a um acordo salarial do que semanas de greve”.
A normalmente movimentada estação ferroviária central de Berlim estava silenciosa na manhã desta segunda-feira, depois que o serviço ferroviário nacional cancelou viagens de longa distância e regionais em todo o país.
Os painéis de embarque e desembarque no aeroporto de Frankfurt, o maior do país, e no aeroporto de Munique, no sul, mostravam sequências voos cancelados.
Meios alternativos de transporte
Como a ação foi amplamente divulgada, muitos passageiros optaram por meios alternativos de transporte.
Em Berlim, o estudante Simon, 31 anos, disse que calculava 30 minutos a mais de tempo de deslocamento, já que teria de usar dois ônibus em vez do trem regional que foi cancelado.
Mas, para ele, “a greve é legítima”, pois “muitas pessoas se mobilizaram por melhores condições de trabalho”.
A aposentada Gloria Bierwald, 73 anos, acredita que “a greve vai longe”. “O que os grevistas estão pedindo é relativamente exagerado. Sou da opinião que as pessoas devem ficar satisfeitas quando têm um emprego”, disse.
Reivindicações
Para evitar problemas no abastecimento, o ministro alemão dos Transportes, Volker Wissing, ordenou aos estados que suspendessem as restrições de entregas de caminhões no domingo, e pediu aos aeroportos que permitissem decolagens e aterrissagens tarde da noite “para que os passageiros retidos possam chegar a seus destinos”.
O sindicato Verdi representa cerca de 2,5 milhões de funcionários do setor público, enquanto o EVG responde por 230 mil trabalhadores nas ferrovias e nas empresas de ônibus.
A rara greve conjunta marca uma escalada de uma disputa cada vez mais tensa sobre uma compensação financeira para atenuar o impacto da inflação crescente.
Os empregadores, principalmente empresas estatais e do setor público, até agora recusaram as demandas, oferecendo um aumento de 5% com dois pagamentos únicos de € 1.000 e € 1.500, neste ano e no próximo, respectivamente.
O sindicato Verdi reivindica um aumento de 10,5% nos salários mensais, enquanto o EVG quer um aumento de 12% para a categoria que representa.
Martin Seiler, chefe de recursos humanos da empresa ferroviária estatal Deutsche Bahn (DB), descreveu a greve nacional como “infundada e desnecessária” e pediu aos sindicatos que retornem à mesa de negociações “imediatamente”.
Os empregadores acusam os representantes trabalhistas de contribuir para uma espiral de preços salariais que só alimentará a inflação. Já os sindicatos dizem que os trabalhadores estão tendo de arcar com o ônus crescente do custo de vida.
Corrida contra a inflação
Como em muitos outros países, os alemães estão lutando contra a alta inflação – que atingiu 8,7% em fevereiro – depois que a invasão russa da Ucrânia fez disparar os custos de alimentos e energia.
Greves semelhantes aconteceram na Grã-Bretanha, onde trabalhadores dos setores público e privado tomaram medidas sindicais, já que a inflação permanece teimosamente acima de 10%.
A “megagreve” da Alemanha, como foi apelidada pela mídia local, segue o exemplo de paralisações em vários setores do país nos últimos meses, desde o serviço postal até aeroportos e transporte local.
No início de março, os aeroportos de Bremen, Berlim, Hamburgo e Hanover cancelaram mais de 350 voos depois que o setor de segurança cruzou os braços. Funcionários de ônibus e metrô em Frankfurt também fizeram greve.
Alguns sindicatos conseguiram aumentos salariais maiores. Os trabalhadores dos correios obtiveram aumentos médios mensais de 11,5% no início de março e, em novembro, o IG Metall, o maior sindicato da Alemanha, obteve acréscimos de 8,5% para os quase quatro milhões de funcionários que representa.
Uma terceira rodada de negociações salariais para funcionários do setor público deve começar nesta segunda-feira.
(Com informações da AFP)
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.