Mundo

Suécia debate uso de pronome que indica o terceiro sexo

O pronome neutro ‘hen’ permite referir-se a uma pessoa sem revelar seu sexo e é reivindicado por pessoas transgênero

Suécia debate uso de pronome que indica o terceiro sexo
Suécia debate uso de pronome que indica o terceiro sexo
Pessoas almoçam em um restaurante de Estocolmo. Foto: ©AFP/Archives / Olivier Morin
Apoie Siga-nos no

ESTOCOLMO (AFP) – Na Suécia, o debate sobre a igualdade sexual supera a simples questão dos salários e direitos civis e invadiu a própria gramática sueca, em que um pronome – o neutro “hen” – para indicar o terceiro sexo tenta se estabelecer entre os já tradicionais “ele” e “ela”.

A utilização do “hen” se tornou frequente em 2012, depois da publicação de um livro para crianças, o Kivi och Monsterhund (“Kivi e o carro monstruoso”), que suprimiu o “han” (ele) e “hon” (ela) a fim de, segundo seu autor, Jesper Lundqvist, poder dirigir-se às crianças de um modo geral, sem distingui-las entre meninos e meninas.

O “hen” foi inventado por linguistas nos anos 1960, em plena onda feminista, quando a referência masculina em alguns casos (como ‘o ser humano’) era politicamente incorreta. “Foi uma tentativa de simplificar o idioma e evitar escrever ele/ela”, explicou a linguista Karin Milles.

O pronome, no entanto, caiu em desuso e só foi redescoberto nos anos 2000 pelas pessoas que reivindicavam uma identidade transgênero, acrescentou.

O “hen” não visa a substituir o “ele” ou o “ela”. Este pronome permite referir-se a uma pessoa sem revelar seu sexo, seja porque a pessoa em questão se reivindica transgênero ou porque acredita ser supérflua essa informação.

“Na sociedade atual, é preciso ter um terceiro sexo, uma terceira posição”, afirma a chefe do Conselho de Línguas (Spraakradet), Susanna Karlsson.

“É necessário, no entanto, conservar o ‘ele’ ou ‘ela’, já que são categorias ante as quais todos se orientam. A pessoa quer saber se está falando com um homem ou uma mulher”, acrescentou.

Segundo a linguista, o “hen” é uma ferramenta que “funciona para propagar a idéia de paridade”.

Seu colega Mikael Parkvall questiona a ideia. “A ideia de que a língua determina o pensamento é muito popular, mas nós, os especialistas, somos mais céticos”. “O laço entre o idioma e o pensamento não é especialmente forte e não se torna mais paritário só porque se utiliza um pronome neutro”, observa.

Difícil prever se o “hen” vai se implantar de forma duradoura no idioma sueco.

Sven-Goran Malmgren, redator do dicionário da Academia Sueca, a referência em termos de lingüística nacional, não acredita que exista “um único exemplo no mundo em que um pronome tenha sido inventado e depois imposto”.

A lista de palavras que entrarão na próxima edição do dicionário será estabelecida em 2014. O lugar do “hen” ainda não está garantido. Isso dependerá da manutenção da palavra no vocabulário sueco, segundo Malmgren.

O “hen” poderá ficar restrito então a uma elite, como um efeito da moda.

Segundo uma pesquisa realizada pelo site do jornal Aftonbladet, 96% das pessoas entrevistadas não utilizam o “hen”.

“Uma pequena parcela da população acredita que pode criar uma sociedade paritária manipulando nomes. Isso é um pouco exagerado”, lamenta Malmgren.

Mais informações em AFP Móvil

ESTOCOLMO (AFP) – Na Suécia, o debate sobre a igualdade sexual supera a simples questão dos salários e direitos civis e invadiu a própria gramática sueca, em que um pronome – o neutro “hen” – para indicar o terceiro sexo tenta se estabelecer entre os já tradicionais “ele” e “ela”.

A utilização do “hen” se tornou frequente em 2012, depois da publicação de um livro para crianças, o Kivi och Monsterhund (“Kivi e o carro monstruoso”), que suprimiu o “han” (ele) e “hon” (ela) a fim de, segundo seu autor, Jesper Lundqvist, poder dirigir-se às crianças de um modo geral, sem distingui-las entre meninos e meninas.

O “hen” foi inventado por linguistas nos anos 1960, em plena onda feminista, quando a referência masculina em alguns casos (como ‘o ser humano’) era politicamente incorreta. “Foi uma tentativa de simplificar o idioma e evitar escrever ele/ela”, explicou a linguista Karin Milles.

O pronome, no entanto, caiu em desuso e só foi redescoberto nos anos 2000 pelas pessoas que reivindicavam uma identidade transgênero, acrescentou.

O “hen” não visa a substituir o “ele” ou o “ela”. Este pronome permite referir-se a uma pessoa sem revelar seu sexo, seja porque a pessoa em questão se reivindica transgênero ou porque acredita ser supérflua essa informação.

“Na sociedade atual, é preciso ter um terceiro sexo, uma terceira posição”, afirma a chefe do Conselho de Línguas (Spraakradet), Susanna Karlsson.

“É necessário, no entanto, conservar o ‘ele’ ou ‘ela’, já que são categorias ante as quais todos se orientam. A pessoa quer saber se está falando com um homem ou uma mulher”, acrescentou.

Segundo a linguista, o “hen” é uma ferramenta que “funciona para propagar a idéia de paridade”.

Seu colega Mikael Parkvall questiona a ideia. “A ideia de que a língua determina o pensamento é muito popular, mas nós, os especialistas, somos mais céticos”. “O laço entre o idioma e o pensamento não é especialmente forte e não se torna mais paritário só porque se utiliza um pronome neutro”, observa.

Difícil prever se o “hen” vai se implantar de forma duradoura no idioma sueco.

Sven-Goran Malmgren, redator do dicionário da Academia Sueca, a referência em termos de lingüística nacional, não acredita que exista “um único exemplo no mundo em que um pronome tenha sido inventado e depois imposto”.

A lista de palavras que entrarão na próxima edição do dicionário será estabelecida em 2014. O lugar do “hen” ainda não está garantido. Isso dependerá da manutenção da palavra no vocabulário sueco, segundo Malmgren.

O “hen” poderá ficar restrito então a uma elite, como um efeito da moda.

Segundo uma pesquisa realizada pelo site do jornal Aftonbladet, 96% das pessoas entrevistadas não utilizam o “hen”.

“Uma pequena parcela da população acredita que pode criar uma sociedade paritária manipulando nomes. Isso é um pouco exagerado”, lamenta Malmgren.

Mais informações em AFP Móvil

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo