Economia
É ingenuidade pensar em reindustrializar o Brasil sem o Estado, diz Mercadante
Presidente do BNDES defendeu a participação do banco público no desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva no País


O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu a participação do Estado brasileiro – por meio de bancos públicos – no processo de reindustrialização do Brasil. A intenção, diz, é fornecer linhas de créditos que possam fomentar empresas com capacidade para competir de igual para igual com Estados Unidos e União Europeia.
“Não podemos aceitar a tese de que o Brasil não tem como se reindustrializar. Era assim durante 4 séculos, que nós éramos exportadores de commodities presos ao antigo regime colonial. Nós podemos [ter] e já tivemos uma base industrial diversificada”, destacou.
“Nós precisamos do BNDES para isso [reindustrializar]. Então, a parceria BNDES-Fiesp-CNI veio para ficar”, afirmou logo em seguida. As declarações foram feitas na abertura de uma série de seminários sobre economia promovidos pelo banco estatal nesta segunda-feira 20.
Mercadante tornou ainda a defender a participação do Estado no processo de reindustrialização que, segundo ele, precisa ser intenso nos próximos anos. Para ele, é um erro cogitar a possibilidade de que este caminho seja percorrido apenas pela iniciativa privada.
“É uma ingenuidade imaginar que vamos poder nos reindustrializar e disputar esses setores de ponta e inovação sem a participação do Estado e sem o banco público como o BNDES”, defendeu o presidente do banco.
Tolerância zero para o desmatamento
Ainda na abertura do evento, Mercadante prometeu cortar as linhas de crédito do BNDES para empresas suspeitas de envolvimento com desmatamento. A intenção, conta, é criar um protocolo que evite que a empresa possa acessar os empréstimos para não ter que agir só após ação do Ibama.
“Assim que qualquer empresário solicitar um financiamento agrícola nós vamos agir. […] Nós vamos bloquear o financiamento antes de entrar no banco e não depois que o Ibama for convocado, como era antes. É uma inovação muito importante”, disse Mercadante.
“Não podemos compactuar com desmatadores do clima e da humanidade. Não haverá mais nenhuma tolerância no BNDES”, reforçou em seguida.
Além dos bloqueios aos financiamentos de empresas com pendências ambientais, Mercadante destacou que, sob sua gestão, o banco irá financiar projetos que tenham uma cadeia produtiva limpa. A intenção, diz, é garantir a continuidade das transações comerciais com a União Europeia, que já começa a exigir rastreabilidade de produtos importados pelos países do bloco.
“Vamos financiar também produtos brasileiros que se apresentem como desmatamento zero, porque a rastreabilidade virá e nós precisamos modernizar a agenda e nos anteciparmos”, destacou o economista.
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